ARTIGO ORIGINAL

 

Espessura do Músculo Adutor do Polegar no Diagnóstico de Desnutrição em Pacientes Oncológicos

Thumb Adductor Muscle Thickness in the Diagnosis of Malnutrition in Cancer Patients

Espesor del Músculo Aductor del Pulgar en el Diagnóstico de Desnutrición en Pacientes con Cáncer

 

doi: https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2022v68n1.1658

 

Tamiris Suzeti Gottlieb¹; Alice Bertotto Poersch²

 

1,2Hospital Bruno Born. Lajeado (RS), Brasil. E-mails: tamirisgottlieb@hotmail.com; alice.poersch@hbb.com.br. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-0309-1513; Orcid iD: https://orcid.org/0000-0003-2353-0314

 

Endereço para correspondência: Tamiris Suzeti Gottlieb. Hospital Bruno Born. Avenida Benjamin Constant, 881 – Centro. Lajeado (RS), Brasil. CEP 90900-000. E-mail: tamirisgottlieb@hotmail.com

 

 

RESUMO

Introdução: Pacientes oncológicos apresentam alto risco de desnutrição, em razão das desordens metabólicas da doença e de tratamentos necessários. A espessura do músculo adutor do polegar (EMAP) avalia o compartimento muscular, podendo ser útil para detectar a desnutrição precoce. Objetivo: Verificar a frequência de desnutrição em pacientes oncológicos conforme a EMAP e correlacionar com o índice de massa corporal (IMC), circunferência do braço (CB) e avaliação subjetiva global produzida pelo próprio paciente (ASG-PPP). Método: Estudo transversal, com indivíduos com idade maior ou igual a 20 anos, internados para administração de quimioterapia, em um hospital do Vale do Taquari-RS. Foram coletados dados antropométricos: peso, altura, CB e EMAP durante a triagem nutricional. A ASG-PPP foi aplicada para avaliação do estado nutricional. Os dados foram analisados por meio do software SPSS versão 26.0, e as variáveis relacionadas por meio do teste qui-quadrado de Pearson e correlacionadas pelo teste de Spearman. Resultados: Foram avaliados 41 pacientes. Destes, 68,3% foram classificados com algum grau de redução pela EMAP. A ASG-PPP classificou 78% em risco nutricional/desnutrição moderada e desnutrição grave. Houve correlação significativa entre a EMAP e a ASG-PPP. Foi observada correlação inversa entre a EMAP e o IMC. A EMAP teve associação significativa com o IMC, a CB e a ASG-PPP. Conclusão: A EMAP é um método eficaz, utilizado para diagnosticar desnutrição, podendo ser associado a outros métodos de avaliação para o diagnóstico nutricional de pacientes oncológicos.

Palavras-chave: avaliação nutricional; desnutrição/diagnóstico; neoplasias/complicações; estudos transversais.

 

 

ABSTRACT

Introduction: Cancer patients are at high risk of malnutrition due to the metabolic disorders of the disease and the required treatments. The adductor pollicis muscle thickness (APMT) evaluates the muscular compartment and can be useful to detect early malnutrition. Objective: To verify the frequency of malnutrition in cancer patients according to APMT and correlate with the body mass index (BMI), mid arm circumference (MAC) and patient generated subjective global assessment (PG-SGA). Method: Cross-sectional study, with individuals aged 20 years or older, admitted for chemotherapy treatment, in a hospital in Vale do Taquari-RS. Anthropometric data were collected: weight, height, MAC and APMT during nutritional screening. PG-SGA was applied to assess nutritional status. Data were analyzed using SPSS software version 26.0 and the variables were related using Pearson's Chi-square test and correlated by Spearman's test. Results: 41 patients were evaluated. Of these, 68.3% were classified with some degree of reduction by APMT. The PG-SGA classified 78% in nutritional risk/moderate malnutrition and severe malnutrition. There was a significant correlation between APMT and PG-SGA. An inverse correlation was observed between APMT and BMI. APMT had a significant association with BMI, MAC and PG-SGA. Conclusion: APMT is an effective method utilized to diagnose malnutrition and can be associated with other assessment methods for the nutritional diagnosis of cancer patients.

Key words: nutritional assessment; malnutrition/diagnosis; Neoplasms/complications; cross-sectional studies.

 

 

RESUMEN

Introducción: Los pacientes con cáncer tienen un alto riesgo de desnutrición, debido a los trastornos metabólicos de la enfermedad y los tratamientos necesarios. El grosor del músculo aductor del pulgar (EMAP) evalúa el compartimento muscular y puede ser útil para detectar la desnutrición precoz. Objetivo: Verificar la frecuencia de desnutrición en pacientes oncológicos según la EMAP y correlacionar con el índice de masa corporal (IMC), circunferencia del brazo (CB) y evaluación global subjetiva producida por el paciente (EGS-PPP). Método: Estudio transversal, con individuos de 20 años o más, ingresados para administración de quimioterapia, en un hospital de Vale do Taquari-RS. Se recogieron datos antropométricos: peso, talla, CB y EMAP durante el cribado nutricional. Se aplicó EGS-PPP para evaluar el estado nutricional. Los datos se analizaron mediante el software SPSS versión 26.0 y las variables se relacionaron mediante la prueba de chi-cuadrado de Pearson y se correlacionaron mediante la prueba de Spearman. Resultados: Se evaluaron 41 pacientes. De estos, el 68,3% fueron clasificados con algún grado de reducción por EMAP. La EGS-PPP clasificó al 78% en riesgo nutricional/desnutrición moderada y desnutrición severa. Hubo una correlación significativa entre EMAP y EGS-PPP. Se observó una correlación inversa entre EMAP e IMC. EMAP tuvo una asociación significativa con IMC, CB y EGS-PPP. Conclusión: EMAP es un método eficaz para diagnosticar la desnutrición y puede utilizarse junto con otros métodos de evaluación para el diagnóstico nutricional de pacientes con cáncer.

Palabras clave: evaluación nutricional; desnutrición/diagnóstico; Neoplasias/complicaciones; estudios transversales.

 

 

INTRODUÇÃO

Pacientes oncológicos apresentam alto risco de desnutrição em razão de desordens metabólicas da doença e de tratamentos necessários1. Diversas alterações fisiológicas são provocadas pela enfermidade, induzindo o maior gasto energético e alterações na composição corporal2,3. A desnutrição acomete de 20% a 80% dos pacientes com câncer4.

 

O déficit do estado nutricional é um fator de prognóstico negativo, e está relacionado à redução da resposta ao tratamento, à diminuição da capacidade funcional e da qualidade de vida, ao aumento da toxicidade, a infecções, à morbidade e à mortalidade5,6. Estima-se que aproximadamente 10% a 20% dos óbitos em pacientes com câncer podem ser atribuídos à desnutrição e não à doença em si1,4.

 

A desnutrição é caracterizada por uma inflamação sistêmica que causa anorexia e degradação de tecido muscular e gorduroso, resultando em alterações na composição corporal, perda ponderal e redução da função física1, favorecendo a caquexia do câncer que leva à perda massa muscular e ao comprometimento funcional7. A baixa massa muscular interfere negativamente no tratamento e nos resultados clínicos dos pacientes oncológicos6. Desta forma, a combinação de métodos objetivos e subjetivos possibilitam um diagnóstico nutricional adequado e o planejamento de estratégias nutricionais específicas e individualizadas5,6.

 

A avaliação subjetiva global produzida pelo paciente (ASG-PPP) está entre os métodos de avaliação nutricional subjetivos e é um instrumento considerado padrão-ouro para pacientes oncológicos. Ela leva em consideração diferentes aspectos do indivíduo, como a perda de peso e alterações na ingestão alimentar. Classifica o paciente como bem nutrido, suspeita de desnutrição/moderadamente desnutrido ou gravemente desnutrido, definindo um nível de intervenção nutricional específico4,8.

 

Entre as medidas antropométricas, a espessura do músculo adutor do polegar (EMAP) avalia o compartimento muscular, sendo um método de avaliação rápido, não invasivo e de baixo custo, podendo ser útil para detectar a desnutrição precoce e ainda possibilitar o monitoramento do compartimento muscular e a recuperação nutricional5,9-11.

 

Estudos que avaliaram diferentes métodos de avaliação do estado nutricional concluíram que nenhuma das metodologias pode ser analisada sozinha, sendo necessário combinar métodos objetivos e subjetivos para um melhor diagnóstico do estado nutricional12,13. A maioria das pesquisas que utilizaram a EMAP como um método de avaliação nutricional é relacionada a pacientes cirúrgicos. Poucos estudos avaliaram o uso dessa medida em pacientes oncológicos e ainda não estão definidos os valores de referência para essa população5,9.

 

Diante disso, este estudo tem como objetivo verificar a frequência de desnutrição em pacientes oncológicos conforme a EMAP e correlacionar com o índice de massa corporal (IMC), circunferência do braço (CB) e ASG-PPP.

 

 

MÉTODO

Estudo com delineamento transversal, observacional e de abordagem quantitativa. Participaram da pesquisa indivíduos de ambos os sexos, com idade maior ou igual a 20 anos, diagnosticados com câncer, independentemente da localização do tumor, internados para infusão de quimioterapia, em um hospital do Vale do Taquari-RS. A amostra foi aleatória por conveniência. Os pacientes foram abordados durante a triagem nutricional realizada como rotina na unidade de internação e convidados a participar da pesquisa mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

 

Foram considerados critérios de exclusão: edema em membros superiores e/ou anasarca, amputação de membro superior unilateral ou bilateral e diagnóstico de doenças degenerativas como síndrome de Guillain-Barré e esclerose lateral amiotrófica (ELA). A coleta dos dados ocorreu entre os meses de abril e julho de 2020.

 

Os dados antropométricos: peso, altura, CB e EMAP foram coletados durante a triagem nutricional. O peso foi aferido utilizando uma balança portátil digital da marca Omron®, com capacidade máxima de 150 Kg; o paciente estava ereto posicionado no centro da balança, descalço e vestindo roupas leves14. Para a aferição da altura, utilizou-se uma fita métrica inelástica, da marca Cescorf®. O paciente estava descalço, posicionado de pé, ereto, imóvel, com os braços esticados ao longo do corpo e com a cabeça orientada no plano horizontal14. Por meio do peso e da altura, obteve-se o IMC, sendo os indivíduos adultos classificados de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS)15 e os idosos, segundo Lipschitz16.

 

A CB foi obtida utilizando-se uma fita métrica flexível e inelástica, com 2 metros de extensão, da marca Cescorf®. A medida foi aferida no ponto médio entre o acrômio e olécrano. Para a classificação da CB, foram considerados os valores de percentil definidos por Frisancho17. A medida da EMAP foi realizada com o paciente sentado, o braço flexionado em um ângulo de 90 graus e o antebraço apoiado sobre o joelho. Com o auxílio de um adipômetro da marca Cescorf®, foi pinçado o centro de um triângulo imaginário, formado pela extensão do dedo indicador e do polegar. O procedimento foi feito na mão não dominante por três vezes, sendo usada a média como medida da EMAP18. Para a classificação da EMAP, foi utilizado o critério estabelecido por Bragagnolo et al.19, que se assemelha à população estudada, sendo considerados, para o diagnóstico de desnutrição, valores inferiores a 12,6 mm e 11,8 mm para mulheres com idade menor a 60 anos e maior do que 60 anos, respectivamente. Para homens, consideraram-se os valores de 13,3 mm para idade inferior a 60 anos e 13,1 mm para idade superior a 60 anos.

 

A ASG-PPP foi aplicada para avaliação do estado nutricional, na qual são considerados tópicos de mudanças de peso e ingestão alimentar, presença de sintomas de impacto nutricional, alteração da capacidade funcional e exame físico. Os resultados foram classificados em três categorias: A (bem nutrido), B (risco de desnutrição ou desnutrido moderado) e C (gravemente desnutrido)20,21. A história clínica (localização do tumor e a presença de outras comorbidades) foram obtidas por meio do prontuário hospitalar do paciente. Não foi possível estabelecer o estadiamento tumoral, por não estar disponível nos prontuários.

 

Os dados coletados foram tabulados em uma planilha do Microsoft Office Excel® 2013 e analisados por intermédio do software Statistical Package for the Social Science (SPSS) versão 26.0, utilizando estatística descritiva com tabelas de frequência, medidas de tendência central e dispersão. As variáveis foram relacionadas por meio do teste qui-quadrado de Pearson e, para identificar a correlação entre as variáveis, foi utilizado o teste de Spearman. O nível de significância foi considerado quando p<0,05 e foi adotado um intervalo de confiança de 95%.

 

O presente estudo foi aprovado pelo Centro de Ensino e Pesquisa (Cenepe) do Hospital onde este foi realizado e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Taquari (Coep/Univates), sob o parecer número 3.918.919 (CAAE 28864720.2.0000.5310). Todos os pacientes incluídos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido após serem informados sobre a natureza do estudo, tendo respaldados todos os preceitos éticos da Resolução nº. 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde22.

 

 

RESULTADOS

Foram avaliados 41 pacientes, a maioria do sexo masculino 63,4% (n=26), a idade mediana dos indivíduos foi de 54 anos. As neoplasias de cólon e reto foram as mais frequentes, sendo que 31,7% (n=13) dos pacientes eram portadores de doença metastática. A quimioterapia como tratamento principal foi predominante, 53,7% (n=22), e 70,7% (n=29) haviam realizado entre o primeiro e o terceiro ciclo quimioterápico. No total, dez (24,4%) participantes apresentaram diagnóstico prévio de hipertensão arterial sistêmica, três (7,3%) dislipidemias, dois depressão (4,9%) e um diabetes (2,4%). A caracterização clínica da amostra está demonstrada na Tabela 1.

 

A média encontrada pelo EMAP na amostra foi de 12,39±3,38 mm, destes, 68,3% foram classificados com algum grau de redução. O IMC médio dos participantes foi de 25,5±5,8 kg/m². Conforme a medida da CB, 51,2% (n=21) estão com algum grau de desnutrição, sendo a média da CB de 28,1±4,57. A ASG-PPP classificou 78% (n=32) em risco nutricional/desnutrição moderada e desnutrição grave. Esses resultados estão descritos na Tabela 2.

 

Houve correlação positiva moderada entre a EMAP e a ASG-PPP (p=0,546; p<0,01). Foi observada correlação negativa moderada entre a EMAP e o IMC (p=-486; p<0,01) e entre a ASG-PPP e o IMC (p=-669; p<0,01). Não houve correlação entre a EMAP e a CB, conforme o teste de Spearman. A EMAP teve associação significativa com o IMC, a CB e a ASG-PPP, conforme o teste qui-quadrado de Pearson; esses resultados estão demonstrados na Tabela 3. Entre os pacientes classificados como desnutridos pela EMAP, 53,6% (n=15) foram classificados como eutróficos pelo IMC. Os 64,3% (n=18) indivíduos considerados desnutridos pela CB também foram classificados como desnutridos pela EMAP. Os participantes considerados em risco nutricional/desnutridos moderados e desnutridos graves pela ASG-PPP somam 92,9% (n=26) dos classificados como desnutridos pela medida da EMAP. Esses resultados estão caracterizados na Figura 1.

 

Tabela 1. Características clínicas dos pacientes internados para quimioterapia

Variável

N

%

Sexo

Feminino

15

36,6

Masculino

26

63,4

Raça/etnia

Branca

36

87,8

Parda

3

7,3

Preta

2

4,9

Idade

20 a 59 anos

27

65,9

>60 anos

14

34,1

Diagnóstico

Ca de cólon/reto

13

31,7

Leucemia/linfoma

9

22

Ca de cabeça e pescoço

6

14,6

Ca gástrico

5

12,2

Ca de pâncreas

3

7,3

Outros

5

12,2

Tratamento

Quimioterapia

19

46,3

Cirurgia e quimioterapia

16

39

Radioterapia e quimioterapia

2

4,9

Cirurgia, radioterapia e quimioterapia

4

9,8

Legenda: Ca = câncer.

 

 

Tabela 2. Estado nutricional segundo a EMAP, IMC, ASG-PPP e CB dos pacientes internados para quimioterapia

Estado nutricional

N

%

EMAP

Eutrofia

13

31,7

Desnutrição

28

68,3

IMC

Magreza

5

12,2

Eutrofia

18

43,9

Sobrepeso

7

17,1

Obesidade

11

26,8

ASG-PPP

Bem nutrido

9

22

Risco nutricional ou desnutrido moderado

24

58,5

Gravemente desnutrido

8

19,5

CB

Eutrofia

15

36,6

Desnutrição

21

51,2

Sobrepeso

3

7,3

Obesidade

2

4,9

Legendas: EMAP = espessura do músculo adutor do polegar; IMC = índice de massa corporal; ASG-PPP = avaliação subjetiva global produzida pelo próprio paciente; CB = circunferência do braço.

 

 

Tabela 3. Relação entre a medida da EMAP e o diagnóstico nutricional a partir do IMC, CB e ASG-PPP dos pacientes internados para quimioterapia

Variáveis

Classificação do EMAP

Pearson

p

Spearman

p

IMC

9,783

0,021*

-0,486

0,001**

CB

8,805

0,032*

0,270

0,088

ASG-PPP

13,035

0,001*

0,546

0,000**

Legendas: EMAP = espessura do músculo adutor do polegar; IMC = índice de massa corporal; CB = circunferência do braço; ASG-PPP = avaliação subjetiva global produzida pelo próprio paciente.

(*) p<0,05 Teste qui-quadrado de Pearson.

(**) p<0,01 Teste de Spearman.

 

 

Figura 1. Caracterização dos pacientes classificados como desnutridos pela EMAP, IMC, CB e ASG-PPP

Legendas: CB = circunferência do braço; IMC = índice de massa corporal; EMAP = espessura do músculo adutor do polegar; ASG-PPP = avaliação subjetiva global produzida pelo próprio paciente.

 

 

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo demonstraram elevada frequência de desnutrição pela ASG-PPP e EMAP. Resultados semelhantes foram observados por Valente et. al.5, em que 60% dos participantes foram classificados com algum grau de desnutrição pela ASG-PPP e 57,5% apresentaram redução da EMAP da mão não dominante. Outro estudo que avaliou pacientes com câncer de cabeça e pescoço classificou 69,8% dos pacientes como desnutridos pela EMAP e 62,7% conforme a ASG-PPP23.

 

A desnutrição pode levar à atrofia do músculo adutor do polegar em razão da redução das atividades diárias. A troficidade muscular resulta em redução progressiva da EMAP; dessa forma, as medidas da EMAP se relacionam com a avaliação de depleção muscular10,24. A medida da EMAP na mão não dominante é considerada superior em relação à mão dominante, visto que a musculatura mais utilizada tende a atrofiar mais rápido em virtude da desnutrição9.

 

Recentemente, o estudo de Weschenfelder et al.9 teve como objetivo estabelecer um ponto de corte para desnutrição conforme a EMAP para a mão não dominante. Os autores propuseram como ponto de corte a medida de 13,3 mm. Essa pesquisa9 também avaliou o estado nutricional pela ASG-PPP, sendo que 64% dos participantes foram classificados como moderadamente ou gravemente desnutridos, resultado semelhante ao da presente pesquisa.

 

A ASG-PPP é um método clínico e subjetivo de avaliação nutricional, de fácil aplicabilidade, baixo custo e não invasivo. Por levar em consideração diversas características do paciente oncológico, essa metodologia se torna útil para detectar alterações nutricionais precocemente, podendo-se intervir de forma objetiva e breve9.

 

Estudos que avaliaram o estado nutricional conforme a ASG-PPP, encontraram elevados índices de desnutrição. A pesquisa de Paz et al.25 classificou 89,3% (n=75) dos participantes como desnutridos moderados ou graves. Lima et al.26, Khoshnevis et al.27 e Pinho et al.28 encontraram resultados semelhantes, com 75,61%, 57,1%, 53%, respectivamente, somando-se os indivíduos classificados em B e C pela ASG-PPP. Em contrapartida, uma pesquisa29 que avaliou indivíduos em tratamento clínico oncológico observou que 86,4% foram classificados como bem nutridos quando avaliados pela ASG-PPP. Opanga et al.30 avaliaram 471 pacientes; destes, 69% foram considerados bem nutridos. Outro estudo31 avaliou 53 indivíduos em tratamento quimioterápico, em que 24,8% foram classificados nas categorias B e C da ASG-PPP e 75,2% foram considerados bem nutridos.

 

Poziomyck et al.32 avaliaram pacientes com câncer de estômago e observaram correlação significativa moderadamente negativa entre a EMAP da mão dominante e da mão não dominante com a ASG-PPP, diferentemente deste estudo, cuja relação foi positiva; ou seja, pacientes classificados como desnutridos pela EMAP também foram classificados como desnutridos pela ASG-PPP. Valente et al.5 verificaram correlação significativa entre a EMAP da mão não dominante e a ASG-PPP e, ainda, com a força de preensão palmar de ambas as mãos. Outro estudo10 observou associação significativa entre o estado nutricional definido pela EMAP com a ASG e o IMC, com risco nutricional, demonstrando que a EMAP é um parâmetro que pode ser utilizado na avaliação nutricional para auxiliar na definição do diagnóstico nutricional adequado.

 

Ao avaliar o IMC, esta pesquisa observou um baixo percentual de indivíduos classificados como desnutridos, resultado semelhante ao de outras pesquisas31,33, em que 10,8% e 7,8% dos pacientes apresentavam IMC de magreza. Diferentemente, na amostra de Lima et al.26, 43,9% dos participantes foram considerados com baixo peso e 4,88%, obesos. Sabe-se, contudo, que o IMC é um parâmetro que possui valor limitado, devendo ser associado a outros métodos para o diagnóstico nutricional, pois não distingue a massa muscular e o tecido adiposo, podendo mascarar o estado nutricional31.

 

Apesar de, neste estudo, não ter ocorrido correlação significativa entre a CB e a EMAP, esse parâmetro antropométrico é utilizado como um indicador de magreza ou adiposidade34. Nesta pesquisa, mais da metade da amostra apresentaram algum grau de redução por essa medida. Pesquisadores avaliaram a CB de pacientes internados e observaram deficiência de massa magra e adiposa35. Lima et al.26 avaliaram indivíduos com neoplasia gastrointestinal, em que 68,29% foram classificados com algum grau de desnutrição por essa medida. Diferentemente, em um estudo que avaliou mulheres com câncer de mama em tratamento quimioterápico, apenas 10% apresentaram desnutrição por meio desse parâmetro, sendo 47% da amostra classificada como eutrófica36.

 

Algumas limitações podem ser ressaltadas, como o delineamento do estudo transversal, a heterogeneidade entre os diagnósticos oncológicos e tratamentos realizados, a ausência de dados sobre o estadiamento da doença e o tamanho amostral pequeno.

 

Esta pesquisa foi capaz de comparar métodos de avaliação nutricionais subjetivos e objetivos, contribuindo para reforçar o uso de diferentes métodos de avaliação nutricional, sugerindo que a EMAP é uma ferramenta segura, que pode ser incorporada à prática clínica do nutricionista para um diagnóstico nutricional mais preciso.

 

 

CONCLUSÃO

Foi observada elevada frequência de desnutrição pela EMAP e esta apresentou correlação significativa com a ASG-PPP. A EMAP também teve associação significativa com o IMC, a CB e a ASG-PPP. Sendo assim, sugere-se que a EMAP seja um método eficaz para diagnosticar a desnutrição, podendo ser considerada como uso rotineiro nas avaliações nutricionais, associada a outros métodos de avaliação, subjetivos e objetivos, para um diagnóstico nutricional mais eficaz e fidedigno.

 

Estudos posteriores com um número maior de participantes são necessários para definir um ponto de corte para o uso da medida da EMAP em pacientes oncológicos, facilitando sua incorporação à prática clínica.

 

 

CONTRIBUIÇÕES

Tamiris Suzeti Gottlieb contribuiu na concepção e/ou no planejamento do estudo; na obtenção, análise e interpretação dos dados; assim como na redação e revisão crítica. Alice Bertotto Poersch contribuiu na redação e revisão crítica. Ambas as autoras aprovaram a versão final a ser publicada.

 

 

DECLARAÇÃO DE CONFLITO DE INTERESSES

Nada a declarar.

 

 

FONTES DE FINANCIAMENTO

Não há.

 

 

REFERÊNCIAS

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Recebido em 29/3/2021

Aprovado em 20/5/2021

 

 

Editor-associado: Livia Costa de Oliveira. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-5052-1846

Editora-científica: Anke Bergmann. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-1972-8777

 

 

 

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