ARTIGO ORIGINAL

 

Perfil Epidemiológico e Fatores Relacionados ao Câncer de Cavidade Oral em Adultos Jovens Brasileiros e sua Relação com o Óbito, 1985-2017

Epidemiological Profile and Factors Related to Oral Cavity Cancer in young Brazilian Adults and its Relationship with Death, 1985-2017

Perfil Epidemiológico y Factores Relacionados con el Cáncer de Cavidad Oral en Adultos Jóvenes Brasileños y su Relación con la Muerte, 1985-2017

 

doi: https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2022v68n2.2063

 

Lidiane de Jesus Lisboa1; Marília de Matos Amorim2; Alessandra Laís Pinho Valente Pires3; Ana Carla Barbosa de Oliveira4; Rodrigo Tripodi Calumby5; Valéria Souza Freitas6

 

1-6Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Feira de Santana (BA), Brasil.

1E-mail: lidianej.lisboa@gmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0001-6546-594X

2E-mail: amorim.mah@hotmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-5224-4918

3E-mail: lecavalent@hotmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-6848-8992

4E-mail: anacarla.ufba@gmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-1175-8074

5E-mail: rtcalumby@uefs.br. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0001-8515-265X

6E-mail: valeria.souza.freitas@gmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-7259-4827

 

Endereço para correspondência: Lidiane de Jesus Lisboa. Rua Piratuba, 20 ‒ Campo Limpo. Feira de Santana (BA), Brasil. CEP 44034-194. E-mail: lidianej.lisboa@gmail.com

 

 

RESUMO

Introdução: A incidência do câncer de cavidade oral entre adultos jovens tem crescido ao longo dos últimos anos, não estando clara a etiologia e a patogênese da neoplasia nesse grupo. Objetivo: Descrever o perfil dos adultos jovens brasileiros diagnosticados com carcinoma de células escamosas (CCE) em cavidade oral e a relação com o óbito entre 1985 e 2017. Método: Estudo transversal de base hospitalar, com indivíduos de 19 a 40 anos, diagnosticados com CCE a partir dos Registros Hospitalares de Câncer do Brasil. Foi realizada a análise descritiva e calculados o teste qui-quadrado, a razão de prevalência (RP) e a regressão logística com intervalo de confiança de 95%. Resultados: Foram elegíveis 1.761 casos de CCE em adultos jovens no período em estudo. O maior número de casos se concentrou na faixa etária de 31≥40 anos (79,80%), homens (71,90%), brancos (50,20%), moradores da Região Sudeste (36,40%), sem companheiro (58,00%) e com o ensino fundamental completo (63,40%). A maioria apresentava hábitos tabagistas (61,60%) e etilistas (56,70%), 18,50% eram profissionais da agricultura/aquicultura e 40,70% relataram histórico familiar de câncer. Foram diagnosticados em estádio avançado 68,10% e 25,50% dos casos foram a óbito. Os casos diagnosticados na língua foram os mais frequentes (42,40%) e apresentaram RP=2,638 (IC95% 2,050-3,394) vezes maior para óbito em relação aos casos no lábio e após ajuste, a odds ratio para esse local aumentou para 7,832 (IC95% 2,625-23,374, p<0,0001). Conclusão: O CCE nessa população necessita de maior atenção para reduzir a incidência e a letalidade desse problema de saúde pública.

Palavras-chave: neoplasias bucais; carcinoma de células escamosas/epidemiologia; fatores de risco; adulto jovem.

 

 

ABSTRACT

Introduction: The incidence of oral cavity cancer among young adults has grown over the past few years, and the etiology and pathogenesis of the neoplasm in this group is unclear. Objective: To describe the profile of Brazilian young adults diagnosed with squamous cell carcinoma (SCC) in the oral cavity and the relationship with death between 1985 and 2017. Method: Hospital-based cross-sectional study with individuals, aged 19 to 40, diagnosed with SCC from the Brazilian Cancer Hospital Records. Descriptive analysis was performed and chi-square test, prevalence ratio (PR) and logistic regression were calculated with 95% confidence interval. Results: 1,761 cases of SCC in young adults were retrieved during the study period. The highest number of cases was concentrated in the age group of 31≥40 years (79.80%), males (71.90%), white (50.20%), residents of the Southeast region (36.40%), without partner (58.00%) and completed elementary education (63.40%). 61.60% were smokers, 56.70%, alcoholics, 18.50%, agriculture/aquaculture professionals and 40.70% reported family cancer history. 68.10% were diagnosed at an advanced stage and about 25.50% of the cases died. Cases in the tongue were the most frequent (42.40%) with PR=2.638 (95%CI 2.050-3.394) times higher for death compared to cases in the lip and after adjustment, the odds ratio increased to 7.832 (CI95% 2.625-23.374, p<0.0001). Conclusion: It is necessary to pay more attention to the population with SCC, in order to reduce the incidence and lethality of this public health problem.

Key words: mouth neoplasms; carcinoma, squamous cell/epidemiology; risk factors; young adult.

 

 

RESUMEN

Introducción: La incidencia de cáncer de cavidad oral entre adultos jóvenes ha aumentado en los últimos años y la etiología y patogenia de la neoplasia en este grupo no está clara. Objetivo: Describir el perfil de los jóvenes adultos brasileños diagnosticados de carcinoma epidermoide (CCE) en la cavidad oral y la relación con la muerte entre 1985 y 2017. Método: Estudio transversal hospitalario con individuos de 19 a 40 años, diagnosticados de CCE a partir de los registros hospitalarios oncológicos de Brasil. Se realizó análisis descriptivo, y se calculó la prueba de chi-cuadrado, razón de prevalencia (RP) y regresión logística con un intervalo de confianza del 95%. Resultados: Un total de 1.761 casos de CCE en adultos jóvenes fueron elegibles durante el período de estudio. El mayor número de casos se concentró en el grupo de edad de 31≥40 años (79,80%), hombres (71,90%), blancos (50,20%), residentes del Sureste (36,40%), sin pareja (58,00%) y con educación básica (63,40%). La mayoría (61,60%) tenía hábito de fumar y beber (56,70%), el 18,50% eran profesionales de la agricultura/acuicultura y el 40,70% referían antecedentes familiares de cáncer. El 68,10% fueron diagnosticados en estadio avanzado y alrededor del 25,50% de los casos fallecieron. Los casos con localización en la lengua fueron los más frecuentes (42,40%) y presentaron RP=2,638 (IC 95% 2,050-3,394) veces mayor para muerte en comparación con los casos en el labio y luego del ajuste, la odds ratio para esta localización aumentó 7,832 (IC95% 2,625 –23,374, p<0,0001). Conclusión: El CCE en esta población necesita más atención para reducir la incidencia y la letalidad de este problema de salud pública.

Palabras clave: neoplasias de la boca; carcinoma de células escamosas/epidemiología; factores de riesgo; adulto joven.

 

 

INTRODUÇÃO

O câncer de cavidade oral é considerado um importante problema de saúde pública, com mais de 24 milhões de casos novos estimados para a doença no mundo em 20301. No ranking mundial, o Brasil apresenta a oitava maior incidência dessa neoplasia1, sendo esperados, para cada ano do triênio 2020-2022, 15.210 mil novos casos da doença, representando um risco estimado de 10,70 e 3,71 casos novos a cada 100 mil habitantes, respectivamente, para homens e mulheres brasileiros2.

 

A doença, embora mais frequente em indivíduos a partir da quarta década de vida, apresenta uma tendência ao aumento de sua incidência em adultos jovens3. O tipo histológico mais comum – carcinoma de células escamosas (CCE) – é de etiologia multifatorial, estando frequentemente relacionado, em diferentes graus, ao consumo de tabaco e bebidas alcoólicas, exposição a agentes biológicos, sobretudo o papilomavírus humano (HPV), associado ou não à suscetibilidade genética, nos casos de câncer de cavidade oral em adultos jovens4,5.

 

Com índices de mortalidade chegando a 1,8% no mundo6, o CCE apresenta pior prognóstico e menor taxa de sobrevida7 nos casos com localização topográfica em língua e assoalho de boca8, com diagnóstico tardio7,9 e/ou estadiamento avançado (estádios III e IV)10,11, condição esta que vem sendo relatada com frequência entre os adultos jovens12.

 

Os Registros Hospitalares de Câncer (RHC)13 reúnem informações dos pacientes atendidos no hospital onde receberam o diagnóstico e/ou tratamento para o câncer; servem como subsídio para reflexão sobre o desempenho da equipe clínica; auxiliam no planejamento administrativo; além de servir como espelho do estado do paciente, das medidas tomadas e da sua sobrevida. Com amparo legal, a implantação e a manutenção de um RHC são utilizadas como critério para o credenciamento de um hospital na Rede de Atenção Oncológica do Brasil, de modo que todos os Estados brasileiros têm pelo menos um hospital habilitado em oncologia13.

 

Não existe um consenso na literatura quanto à etiologia e à patogênese do CCE em adultos jovens, especialmente em virtude da ausência ou do pequeno tempo de exposição aos principais fatores de risco para a doença, da provável ausência de lesões potencialmente malignas e do possível comportamento biológico diferenciado dos CCE diagnosticados nesses pacientes14,15. Da mesma forma, diferenças metodológicas e na definição do limite de idade para classificar o adulto jovem, variando de 30 a 45 anos12, dificultam a compreensão da relação desses fatores com a doença nesse grupo etário16.

 

Tal situação evidencia a necessidade de novos estudos que permitam caracterizar o perfil epidemiológico desse grupo de indivíduos e traçar políticas públicas para prevenção da neoplasia nesse público. Assim, o objetivo principal deste estudo é descrever o perfil e os fatores relacionados ao CCE em cavidade oral nos adultos jovens brasileiros e sua relação com desfechos desfavoráveis como o óbito, no período de 1985 a 2017.

 

 

MÉTODO

Foi desenvolvido um estudo transversal de base hospitalar, com adultos jovens brasileiros portadores de CCE em cavidade oral. O banco de dados foi obtido do Sistema Informatizado de Apoio aos Registros Hospitalares de Câncer (SisRHC)17, no Módulo Integrador dos Registros Hospitalares de Câncer (Integrador RHC). A coleta de dados ocorreu por meio do acesso ao TabNet, tecnologia desenvolvida pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), em maio de 2019, permitindo que fossem trabalhados neste estudo os dados de todos os hospitais nacionais que alimentaram o SisRHC no período considerado.

 

Para este estudo, foram coletadas informações dos adultos jovens (de 19 a 40 anos) com diagnóstico histopatológico de CCE em cavidade oral no período de 1985 a 2017. Foram incluídos os registros dos casos com o diagnóstico classificado nas categorias C00, C02 a C06 (C00 lábio, C02 outras partes não específicas da língua, C03 gengiva, C04 assoalho da boca, C05 palato e C06 outras partes não específicas da boca), da Classificação Internacional de Doenças para Oncologia (CID-O)18.

 

A idade mínima para participação neste estudo foi determinada, uma vez que, no Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)19 considera que a adolescência vai até os 18 anos de idade completos, e o limite de 40 anos de idade se dá pelo fato de, a partir da quarta década de vida, os casos já serem considerados dentro do perfil de maior prevalência da doença.

 

As variáveis deste estudo estão relacionadas às características sociodemográficas (idade, sexo, raça/cor, região de residência, escolaridade e situação conjugal), aos fatores de risco (ocupação, tabagismo, alcoolismo e histórico familiar), às características clínicas (localização do tumor e estadiamento inicial, de acordo com o sistema de estadiamento preconizado pela União Internacional Contra o Câncer (UICC), denominado Sistema TNM de Classificação dos Tumores Malignos)20 e à situação do caso, na qual é registrada a informação sobre o óbito.

 

Inicialmente, foi realizada uma análise descritiva da variável contínua, expressa como média e seu desvio-padrão, e das variáveis categóricas como frequências absolutas e relativas. Em seguida, foi realizada a análise bivariada para identificar as associações com óbito e as variáveis categorizadas, mediante o teste qui-quadrado com um nível de significância do 5%. Calcularam-se as razões de prevalência (RP) e seus respectivos intervalos de confiança (95%).

 

A regressão logística binária foi utilizada como um modelo estatístico que permite estimar a chance da ocorrência de determinado desfecho categórico em função de um ou mais preditores. Na análise multivariada, foram introduzidas as variáveis dummy pra localização do câncer e as covariáveis em estádio avançado, álcool, tabaco e idade. A seleção das covariáveis para o modelo inicial baseou-se nos achados da análise estratificada e em critérios teóricos. Todas as análises foram realizadas com o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 22.0 (SPSS Inc., ChiCad. Estados Unidos), e Stata 14.0 para Windows (Statsoft Inc.).

 

É importante destacar que, para fins de análise, a variável idade foi trabalhada inicialmente como variável contínua e, em seguida, categorizada para todas as outras análises. Para agrupar as ocupações, foram consideradas as evidências da literatura que apontam as profissões que apresentam maiores exposições às substâncias carcinogênicas em ambientes de trabalho, ficando na categoria “Outros” reunidas todas as demais profissões que não apresentam exposição ocupacional de risco para o câncer de cavidade oral.

 

As informações utilizadas neste estudo são de domínio público e disponibilizadas na Internet pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), sem identificação ou contato direto com os indivíduos, motivo pelo qual foi dispensada a aprovação prévia do estudo por um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

 

 

RESULTADOS

No Integrador RHC17, para o período de 1985 a 2017, foram registrados 78.513 casos de câncer de cavidade oral, sendo 4,7% (3.683) desses em indivíduos de 19 a 40 anos. Considerando os critérios de elegibilidade, foram excluídos 1.126 registros, por apresentarem um tipo histológico diferente do CCE, e 796, por não apresentarem a confirmação histopatológica para essa neoplasia, ficando a população final do estudo constituída por 1.761 casos.

 

A média de idade dos indivíduos foi de 33,3 (±6,3) anos, com maior número de casos na faixa etária de 31≥40 anos (79,80%). A maioria era do sexo masculino (71,90%), da raça/cor branca (50,20%), com nível de escolaridade fundamental completo ou incompleto (63,40%). Quanto à situação conjugal, 58,00% não apresentavam companheiros, conforme evidenciado na Tabela 1.

 

Ainda na Tabela 1, pode-se observar que, entre os adultos jovens diagnosticados com CCE em cavidade oral, as ocupações principais identificadas para exposição de risco foram de trabalhadores da agricultura e da aquicultura (18,50%), tendo, de modo geral, a categoria “outros” a maior frequência de casos. A maioria apresentava hábitos tabagistas (61,60%) e etilistas (56,70%), e a maior parte dos indivíduos não apresentava histórico familiar de câncer (59,30%).

 

O teste qui-quadrado evidenciou que as variáveis sexo (p=0,000), raça (p=0,000), situação conjugal (p=0,002), alcoolismo (p=0,000) e tabagismo (p=0,000) apresentaram associação estatisticamente significante (p<0,05) com o óbito (Tabela 1).

 

Tabela 1. Características sociodemográficas e fatores de risco, segundo os RHC do Brasil, 1985-2017

Variáveis

(n)

(%)

p-valora

Idade (n=1.761)

 

 

 

≥20 anos

21

1,20

 

21≥30 anos

335

19,00

0,008

31≥40 anos

1.405

79,80

 

 

 

 

 

Sexo (n=1.761)

 

 

 

Masculino

1.266

71,90

0,000

Feminino

495

28,10

 

 

 

 

 

Raça/Cor (n=1.614)b

 

 

 

Brancos

810

50,20

0,000

Não brancos

804

49,80

 

 

 

 

 

Escolaridade (n=1.329)c

 

 

 

Analfabeto

104

7,80

 

Nível Fundamental

843

63,40

0,018

Nível Médio

278

21,00

 

Nível Superior

104

7,80

 

 

 

 

 

Situação conjugal (n=1.598)d

 

 

 

Sem companheiro

927

58,00

0,002

Com companheiro

671

42,00

 

 

 

 

 

Ocupação (n=1.487)e

 

 

 

Agricultura/Aquicultura

275

18,50

 

Construção civil

166

11,20

 

Serviços gerais

162

10,90

0,014

Estudantes

97

6,50

 

Comércio

91

6,10

 

Mecânica/Mineração

51

3,40

 

Outras

349

23,50

 

Fora do CBOf

296

19,90

 

 

 

 

 

Tabagismo (n=1.259)g

 

 

 

Sim

776

61,60

0,000

Nunca

483

38,40

 

 

 

 

 

Alcoolismo (n=1.197)h

 

 

 

Sim

679

56,70

0,000

Nunca

518

43,30

 

 

 

 

 

Histórico familiar (n=856)i

 

 

 

Sim

348

40,70

0,614

Não

508

59,30

 

 

 

 

 

Fonte: Integrador RHC17.

Legendas: aTeste qui-quadrado para relação com o óbito; b147 informações perdidas; c432 informações perdidas; d163 informações perdidas; e274 informações perdidas; fCatálogo Brasileiro de Ocupações; g502 informações perdidas; h564 informações perdidas; i905 informações perdidas.

 

 

Na Figura 1, observa-se que as maiores densidades de casos se concentram nas Regiões Sudeste (36,40%) e Nordeste (33,50%).

 

Figura 1. Distribuição dos casos por Região de residência, segundo os RHC do Brasil, 1985-2017

Legendas:  Centro-Oeste (3,40);  Norte (5,50);  Sul (21,20);  Nordeste (33,50);  Sudeste (36,40).

 

 

A Tabela 2 apresenta a distribuição da população de acordo com as características clínicas da neoplasia e revela que, na maioria dos casos, o tumor primário foi diagnosticado na língua (42,40%), em estádio avançado (68,10%). Exibe também significância estatística com o óbito para essas variáveis, apresentando nas duas p=0,000. A situação do caso evoluiu para óbito em 25,50% dos registros.

 

Tabela 2. Localização do tumor e situação dos casos, segundo os RHC do Brasil, 1985-2017

Variáveis

n

%

p-valora

Localização do tumor primário (n=1.761)

 

 

 

C00 Lábio

321

18,20

0,000

C02 Língua

747

42,40

C03 Gengiva

46

2,60

C04 Assoalho de boca

198

11,30

C05 Palato

197

11,20

C06 Outras partes da boca

252

14,30

 

 

 

 

T (n=1.009)b

 

 

 

T1

195

19,30

 

T2

239

23,70

 

T3

211

20,90

 

T4

364

36,10

 

 

 

 

 

N (n=1.001)c

 

 

 

N0

513

51,20

 

N1

164

16,40

 

N2

209

20,90

 

N3

115

11,50

 

 

 

 

 

M (n=931)d

 

 

 

M0

903

97,00

 

M1

28

3,00

 

 

 

 

 

Estadiamento (n=1.052)e

 

 

 

In situ

1

0,10

0,000

I

165

15,70

II

170

16,10

III

225

21,40

IV

491

46,70

 

 

 

 

Situação do caso (N=1.761)

 

 

 

Óbito

449

25,50

 

Vivo

1.312

74,50

 

 

 

 

 

Fonte: Integrador RHC17.

Legendas: aTeste qui-quadrado para relação com o óbito; b752 informações perdidas; c760 informações perdidas; d830 informações perdidas; e709 informações perdidas.

 

 

A RP apresentada na Tabela 3 evidencia que a prevalência de óbito entre os indivíduos tabagistas e etilistas foi, respectivamente, RP=1,613 (IC95% 1,316-1,977) e RP=1,611 (IC95% 1,329-1,967) vezes maior do que entre aqueles que não registraram esse hábito. Os casos com localização em língua evoluíram para óbito RP=2,638 (IC95% 2,050-3,394) vezes mais do que aqueles localizados no lábio. Da mesma forma, os registros com estadiamento avançado em relação ao inicial exibiu RP=3,566 (IC95% 2,570-4,950) vezes maior para óbito.



Tabela 3. Razão de prevalência entre as variáveis sociodemográficas, fatores de risco, localização do tumor e estadiamento com o óbito por CCE no Brasil, 1985-2017

Variáveis

Óbito

RPa

IC95%b

Sim

Não

n

%

n

%

Idade (n=1.761)

 

32-39

367

27,3

977

72,7

Ref.

26-31

54

18,1

245

81,9

1,704

1,155-1,769

25 ou menos

28

23,7

90

76,3

1,207

0,836-1,561

 

 

 

 

 

 

 

Sexo (n=1.761)

 

Masculino

352

27,8

914

72,2

Ref.

Feminino

97

19,6

398

80,4

1,419

1,162-1,732

 

 

 

 

 

 

 

Raça/Cor (n=1.614)c

 

Brancos

172

21,2

638

78,8

Ref.

Não Brancos

252

31,3

552

68,7

1,476

1,248-1,745

 

 

 

 

 

 

 

Região de residência (n=1.748)d

 

Sudeste

198

31,1

438

68,9

Ref.

Norte

26

27,1

70

72,9

1,151

0,815-1,625

Nordeste

154

26,3

432

73,7

1,185

0,991-1,414

Centro-Oeste

10

16,7

50

83,3

1,698

1,078-2,672

Sul

59

15,9

311

84,1

1,747

1,417-2,153

 

 

 

 

 

 

 

Escolaridade (n=1.329)e

 

Analfabeto

34

32,7

70

67,3

Ref.

Nível Fundamental

242

28,7

601

71,3

1,130

0,850-1,501

Nível Médio

59

21,2

219

78,8

1,428

1,055-1,932

Nível Superior

21

20,2

83

79,8

1,476

1,013-2,149

 

 

 

 

 

 

 

Situação conjugal (n=1.598)f

 

Sem companheiro

272

29,3

655

70,7

Ref.

Com companheiro

152

22,2

534

77,8

1,324

1,115-1,573

 

 

 

 

 

 

 

Ocupação (n=1.487)g

 

Agricultura/Aquicultura

72

26,2

203

73,8

Ref.

Construção civil

63

38,0

103

62,0

0,652

0,471-0,901

Serviços gerais

43

26,5

119

73,5

0,986

0,712-1,366

Estudantes

25

25,8

72

74,2

1,016

0,688-1,498

Comércio

25

27,5

66

72,5

0,952

0,640-1,416

Mecânica/Mineração

18

35,3

33

64,7

0,716

0,437-1,171

Outras

79

22,6

270

77,4

1,148

0,881-1,495

Fora do CBOh

69

23,3

227

76,7

1,118

0,849-1,472

 

 

 

 

 

 

 

Tabagismo (n=1.259)i

 

Sim

254

32,7

522

67,3

Ref.

Nunca

98

20,3

385

79,7

1,613

1,316-1,977

 

 

 

 

 

 

 

Alcoolismo (n=1.197)j

 

Sim

226

33,3

453

66,7

Ref.

Nunca

107

20,7

411

79,3

1,611

1,329-1,967

 

 

 

 

 

 

 

Histórico familiar (n=856)k

 

Sim

100

28,7

248

71,3

 

Não

138

27,2

370

72,8

1,058

0,850-1,316

 

 

 

 

 

 

 

Localização do tumor

primário (n=1.761)

 

C02 Língua

213

28,5

534

71,5

Ref.

C00 Lábio

16

5,0

305

95,0

2,638

2,050-3,394

C03 Gengiva

14

30,4

32

69,9

0,935

0,585-1,495

C04 Assoalho de boca

61

30,8

137

69,2

0,923

0,720-1,182

C05 Palato

56

28,4

141

71,6

1,003

0,782-1,286

C06 Outras partes da boca

89

35,3

163

64,7

0,791

0,631-0,992

 

 

 

 

 

 

 

Estadiamento (n=1.052)l

 

Avançado (T3 e T4)

266

37,2

450

62,8

Ref.

Inicial (T0, T1 e T2)

35

10,4

301

89,6

3,566

2,570-4,950

 

Fonte: Integrador RHC17.

Legendas: aRazão de prevalência; bIntervalo de confiança 95%; c147 informações perdidas; d13 informações perdidas; e432 informações perdidas; f163 informações perdidas; g274 informações perdidas; hCatálogo Brasileiro de Ocupações; i502 informações perdidas; j564 informações perdidas; k905 informações perdidas; l709 informações perdidas; Ref. = referência.



 

Quando a associação entre o óbito e a localização do câncer em língua foi ajustada pela idade do paciente, outras localizações, estadiamento avançado, consumo de álcool, e consumo de tabaco, a odds ratio para óbito aumentou para 7,832 (IC95%: 2,625-23,374, p<0,0001), mantendo-se significante a variável estadiamento avançado OR=4,171 (IC95% 2,580-6,744, p<0,0001) conforme a Tabela 4.

 

Tabela 4. Modelo ajustado para a associação entre o óbito por CCE no Brasil e a localização anatômica em língua

Variáveis

p=valor

ORa

IC95%b

Língua

0,000

7,832

2,625-23,374

Gengiva

0,387

0,630

0,221-1,797

Assoalho

0,170

1,487

0,843-2,620

Palato

0,182

1,514

0,823-2,785

Estádio avançado

0,000

4,171

2,580-6,744

Álcool

0,396

0,834

0,547-1,269

Tabaco

0,209

0,745

0,470-1,180

Idade

0,916

0,998

0,959-1,039

Fonte: Integrador RHC17.

Legendas: aOdds ratio ajustada para outras localizações anatômicas, estadiamento avançado, consumo de álcool, consumo de tabaco e idade; bIntervalo de confiança 95%.

 

 

DISCUSSÃO

O perfil epidemiológico dos indivíduos acometidos pelo CCE em cavidade oral na população brasileira já é bastante discutido e consagrado na literatura. Entretanto, para a população específica de adultos jovens, o mesmo ainda não está totalmente esclarecido. Nesse sentido, o presente estudo buscou investigar o perfil epidemiológico e os fatores relacionados ao câncer de cavidade oral em adultos jovens brasileiros e sua relação com o óbito, no período de 1985 a 2017.

 

De acordo com as características sociodemográficas analisadas, observa-se que, dos 1.761 casos elegíveis, 71,90% ocorreram em indivíduos do sexo masculino e 28,10% do feminino, estando a maioria dos casos de câncer de cavidade oral em adultos jovens concentrada na faixa etária de 31≥40 anos (79,80%). Diferentes estudos sustentam que, para a população geral, os homens são os que mais desenvolvem CCE em cavidade oral por causa de seus hábitos e de seu estilo de vida que os expõem a inúmeros fatores de risco e negligências com a própria saúde5,10. Os resultados encontrados por Gamez et al.21, em pesquisa retrospectiva com 124 indivíduos até 40 anos, nos Estados Unidos, assemelham-se aos deste estudo, apontando que a maioria dos casos era de homens e a faixa etária mais comum situava-se em torno dos 35 anos.

 

A exposição repetida e excessiva aos raios solares aumenta o risco de desenvolvimento do câncer de cavidade oral, especialmente aquele localizado no lábio, nos indivíduos de pele branca10,22, uma vez que estes são mais propensos a sofrer os efeitos da radiação em relação aos indivíduos com pele negra23,24. Além disso, a exposição ocupacional de trabalhadores a agentes carcinogênicos ascende esse risco25,26. Neste estudo, a maioria dos registros estava identificada como de raça/cor branca e as ocupações principais foram a agricultura e a aquicultura, entre aquelas que são consideradas pela literatura como profissões de risco para o câncer27,28. Corroborando esses achados, Costa et al.11, ao analisar adultos jovens com até 40 anos, diagnosticados com CCE no Brasil, observaram que 76% (p=0,493) dos indivíduos eram de cor branca. Pukkala et al.28, em estudo desenvolvido na Finlândia, notaram que 2,7 dos pescadores (IC 95%: 1,3-5,0), 1,8 dos agricultores (IC 95%: 1,2-2,6) e demais profissionais que exercem suas funções ao ar livre apresentaram maiores chances de desenvolver essa neoplasia.

 

Ao analisar a distribuição do CCE em adultos jovens entre as cinco Regiões do Brasil, observou-se que as Regiões Sudeste e Nordeste tiveram o maior percentual de casos de câncer de cavidade oral. Esses resultados foram semelhantes ao estimado para cada ano do triênio 2020-2022, período em que é esperado que essas Regiões reúnam 73% da ocorrência de novos casos da doença2. A concentração de casos nessas Regiões pode estar relacionada ao fato de as Regiões Sudeste e Nordeste apresentarem os maiores coeficientes populacionais observados no país, correspondendo, respectivamente, a 40,8% e 27,1%, também pelas maiores possibilidades de tratamento oncológico29 e melhor registro dos casos30.

 

Escolaridade, renda e ocupação formam o tripé básico para mensurar a situação socioeconômica dos indivíduos31. Com relação à escolaridade, o presente estudo revelou maior percentual de indivíduos com baixo nível de escolarização. Em concordância com esses achados, Al-Dakkak32 percebeu que os indivíduos que viviam em áreas mais carentes, com menor educação sobre os sinais e sintomas do câncer de cavidade oral e aqueles que estavam desempregados, apresentaram risco significativamente maior para a doença. Outros autores reportam forte associação das neoplasias malignas de cavidade oral, com uma baixa condição socioeconômica, que está ligada à menor quantidade dos serviços de saúde e, consequentemente, à maior mortalidade6,25.

 

A situação conjugal investigada neste estudo revelou que a maioria dos adultos jovens brasileiros se encontrava sem companheiro no momento da admissão no serviço de saúde, circunstância possivelmente justificada por conta da pouca idade dos indivíduos e da união que acontece em idade cada vez maior observada nos dias atuais. Esses achados estão de acordo com os encontrados por Bundgaard et al.33 em estudo caso-controle realizado para a população geral, na Dinamarca, onde perceberam um risco duas vezes maior para CCE em cavidade oral entre indivíduos divorciados (OR=2,3; IC95% 1,1-4,6), mesmo após ajuste para tabagismo e etilismo.

 

O impacto do uso do tabaco e do consumo de bebidas alcóolicas no desenvolvimento do CCE de cavidade oral, embora bem estabelecido para os casos acima dos 40 anos5, nos casos diagnosticados em adultos jovens, apresenta força de associação distintas4,11. Para alguns autores, o primeiro contato com o cigarro geralmente ocorre na adolescência, período em que a maioria dos adultos fumantes já era tabagista aos 18 anos34,35. Entre os adultos jovens deste estudo, a maioria apresentava hábitos tabagistas e etilistas. Resultados semelhantes foram encontrados por Frare et al.36, em estudo desenvolvido no Brasil com o mesmo público, quando perceberam que a maioria dos participantes era de tabagistas e etilistas, porém sem significância estatística. Para Miller et al.8, em adultos jovens, os fatores associados a piores desfechos são semelhantes aos preditores conhecidos em indivíduos mais velhos.

 

O histórico familiar de câncer foi observado em 40,70% dos casos deste estudo. Contrapondo esses achados, Beena et al.37 obtiveram uma correlação significativa (p<0,0001) entre CCE de cavidade oral em pacientes adultos jovens e história familiar de neoplasia maligna quando comparados a pacientes mais velhos. Vale ressaltar que Verschuur et al.38 notaram uma fragilidade da informação sobre o histórico familiar de câncer, investigado em diferentes estudos, pois esse dado muitas vezes consta em branco no prontuário médico. Entretanto, mesmo com os esforços do SisRHC para analisar a validade e a inconsistência das informações13,39, observa-se que os problemas relacionados à qualidade e à completude dos registros podem comprometer o resultado das análises40.

 

À semelhança dos outros sistemas nacionais de informação, os dados coletados pelo SisRHC permitem o acesso a informações clínicas do indivíduo que, aliados à presença de RHC em todos os Estados brasileiros, formam um banco de dados sobre o câncer e colaboram para o monitoramento da situação de saúde e de determinadas patologias na população do país13. Com o incentivo do INCA e a consolidação dos centros de coleta nas unidades hospitalares, atualmente o SisRHC é reconhecido como um sistema contínuo de informações13. E apontado por alguns estudos como uma ferramenta importante, com a qual os gestores governamentais e administradores das unidades podem apoiar-se para avaliar, tomar decisões, planejar ações de saúde, controlar e tratar o câncer no Brasil39,40.

 

A localização anatômica mais acometida nos adultos jovens brasileiros foi a língua, em concordância com os resultados da maioria dos estudos epidemiológicos11,21,36,41. Quanto ao estadiamento TNM, que permite classificar a neoplasia de acordo com suas características clínicas de extensão, disseminação regional e metástases, neste estudo, foi observado que 68,10% dos indivíduos foram diagnosticados em estádio avançado da doença. Zhang et al.9 encontraram resultados semelhantes ao investigar adultos jovens com CCE em língua, constatando que metade dos indivíduos apresentava a doença em estádio avançado. Diferentes estudos apontam que o avanço da doença pode estar relacionado ao diagnóstico tardio, que resulta em longos períodos de tratamentos e prognóstico desfavorável9,11.

 

Em uma análise geral, observou-se com este estudo que pouco mais de 25% dos adultos jovens evoluíram para óbito, tendo a odds ratio aumentada para 7,832 (IC95%: 2,625-23,374, p<0,0001), quando a associação principal entre o óbito e a localização do câncer na língua foi ajustada pela idade do paciente, outras localizações, estadiamento avançado, consumo de álcool e consumo de tabaco. Essa informação ressalta as diferenças de prognóstico que são observadas a depender do sítio anatômico cujo tumor primário se desenvolve, tendo menor sobrevida os pacientes diagnosticados com CCE em língua e assoalho de boca, quando comparado aos demais sítios anatômicos da cavidade oral8,36. Kelner et al.42 apontam que cerca de 30% a 40% das neoplasias situadas nesses sítios desenvolvem metástases regionais, que afetam o prognóstico.

 

Em 2017, o Brasil alcançou 8.126 óbitos por câncer de cavidade, dos quais aproximadamente 452 casos (5,6%) ocorreram em indivíduos com até 44 anos, residentes, em maioria, nas Regiões Sudeste e Nordeste43. A sobrevida de adultos jovens com câncer de cavidade oral avaliada em alguns estudos revela que os hábitos carcinogênicos não foram associados significativamente a ela44,45. Já, para alguns autores, as taxas de sobrevida do CCE são semelhantes entre os adultos jovens e mais velhos41.

 

Este estudo apresenta como limitações o uso de dados secundários, provenientes de prontuários clínicos com provável ausência de informações, além de possíveis problemas de preenchimento ou estruturais na manutenção do RHC46. Ademais, a identificação do óbito disponível no banco de dados não especifica a causa da morte, por isso, os óbitos podem ter ocorrido durante o primeiro tratamento oncológico, ou por outros motivos. Tais situações podem diminuir a qualidade dos dados coletados e levar a vieses que se refletirão na análise dos dados40. É importante ressaltar a necessidade de sensibilização dos profissionais de saúde para o preenchimento adequado e legível dos prontuários clínicos para o melhor entendimento da história médica dos indivíduos e, por conseguinte, para a colaboração com futuras pesquisas.

 

 

CONCLUSÃO

O presente estudo evidencia que o perfil epidemiológico dos adultos jovens brasileiros diagnosticados com CCE em cavidade oral se apresenta semelhante ao perfil da população geral. Logo, os achados deste estudo podem contribuir para o esclarecimento dos fatores associados à mortalidade por câncer oral e colaborar para a elaboração e a intensificação das políticas públicas de prevenção, diagnóstico e tratamento para essa população específica, a fim de reduzir a incidência e a letalidade desse problema de saúde pública. Além disso, é importante que novas pesquisas sejam realizadas para melhor investigar os fatores relacionados ao desenvolvimento desse tumor em adultos jovens.

 

 

CONTRIBUIÇÕES

Lidiane de Jesus Lisboa, Marília de Matos Amorim e Valéria Souza Freitas contribuíram na concepção e/ou no planejamento do estudo; na obtenção, análise e interpretação dos dados; na redação e revisão crítica. Alessandra Laís Pinho Valente Pires, Ana Carla Barbosa de Oliveira e Rodrigo Tripodi Calumby contribuíram na obtenção, análise e interpretação dos dados; na redação e revisão crítica. Todos os autores aprovaram a versão final a ser publicada.

 

 

DECLARAÇÃO DE CONFLITO DE INTERESSES

Nada a declarar.

 

 

FONTES DE FINANCIAMENTO

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Código de Financiamento 001.

 

 

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Recebido em 24/5/2021

Aprovado em 3/8/2021

 

Editora-científica: Anke Bergmann. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-1972-8777

 

 

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