REVISÃO DA LITERATURA

 

Efeitos de Abordagens não Farmacológicas nos Sintomas Físicos de Indivíduos com Câncer Avançado: Revisão Sistemática

Effects of non-Phamarcological Approaches on Physical Symptoms of Individuals with Advanced Cancer: Systematic Review

Efectos de los Enfoques no Farmacológicos sobre los Síntomas Físicos de las Personas con Cáncer Avanzado: Revisión Sistemática

 

doi: https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2022v68n2.2125

 

Amanda Tinôco Neto Santos1; Natali dos Santos Nascimento2; Priscila Godoy Januário Martins Alves3

 

1-3Universidade do Estado da Bahia. Salvador (BA), Brasil.

1E-mail: amandatns@gmail.com. Orcid ID: https://orcid.org/0000-0003-0529-8742

2E-mail: natali.nascimento16@gmail.com. Orcid ID: https://orcid.org/0000-0002-3473-4921

3E-mail: pgjmalves@uneb.br. Orcid ID: https://orcid.org/0000-0002-5992-2443

 

Endereço para correspondência: Amanda Tinôco Neto Santos. Rua Professor Viegas, 485, Edifício Senhor do Bonfim, apto. 302 – Barbalho. Salvador (BA), Brasil. CEP 40301-075. E-mail: amandatns@gmail.com

 

 

RESUMO

Introdução: O câncer é um problema de saúde pública que, em estágios avançados, pode ocasionar desconfortos físicos, psicossociais e espirituais. Assim, abordagens fisioterapêuticas e as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) surgem como ferramentas importantes para o controle e melhora de sintomas físicos nesses indivíduos. Objetivo: Descrever os efeitos de abordagens não farmacológicas, envolvendo técnicas fisioterapêuticas e PICS, nos sintomas físicos de indivíduos com câncer avançado. Método: Revisão sistemática da literatura composta por ensaios clínicos randomizados que abordassem os efeitos de abordagens fisioterapêuticas ou PICS nos sintomas físicos de indivíduos diagnosticados com câncer avançado. Foram selecionadas as bases de dados PubMed, LILACS, PEDro, Cochrane, SciELO, e a última busca ocorreu em abril de 2021. A avaliação da qualidade metodológica dos estudos foi realizada por meio da escala PEDro. Resultados: Vinte e dois estudos foram incluídos, e demonstraram que ambas as abordagens têm efeitos positivos para os sintomas físicos, como fadiga e dor, na população estudada. Conclusão: A fisioterapia e as PICS têm efeitos positivos nos sintomas físicos em indivíduos com diagnóstico de câncer avançado. No entanto, existem poucos estudos com qualidade metodológica suficiente para confirmar a eficácia das duas abordagens nos desfechos estudados para essa população.

Palavras-chave: neoplasias/terapia; cuidados paliativos; modalidades de fisioterapia; terapias complementares.

 

 

ABSTRACT

Introduction: Cancer is a public health problem, which, in advanced stages, can cause physical, psychosocial and spiritual discomfort. Thus, physiotherapeutic approaches and Complementary Integrative Practices (CIPS) appear as important tools for the control and improvement of physical symptoms of these individuals. Objective: To describe the effects of non-pharmacological approaches, involving physiotherapy techniques and CIPs, on the physical symptoms of individuals with advanced cancer. Method: Systematic review of the literature with randomized controlled trials addressing the effects of physiotherapy approaches or CIPS on the physical symptoms of individuals diagnosed with advanced cancer. The PubMed, LILACS, PEDro, Cochrane, SciELO databases were selected, and the last search occurred in April 2021. PEDro scale was applied to evaluate the methodological quality of the studies. Results: Both approaches can have positive effects on physical symptoms, such as fatigue and pain, in the population investigated as demonstrated in the twenty-two studies included. Conclusion: Physical therapy and CIPS have positive effects on physical symptoms in individuals diagnosed with advanced cancer. However, there are few studies with sufficient methodological quality to confirm their effectiveness in the outcomes for this population.

Key words: neoplasm/therapy; palliative care; physical therapy modalities; complementary therapies.

 

 

RESUMEN

Introducción: El cáncer es un problema de salud pública que, en etapas avanzadas, puede causar malestar físico, psicosocial y espiritual. Así, los enfoques fisioterapéuticos y las Prácticas Integradoras y Complementarias en Salud (PICS) aparecen como herramientas importantes para el control y mejoría de los síntomas físicos en estos individuos. Objetivo: Describir los efectos de los enfoques no farmacológicos, que incluyen técnicas de fisioterapia e PICS, sobre los síntomas físicos de las personas con cáncer avanzado. Método: Revisión sistemática de la literatura, que incluyó ensayos controlas aleatorios que abordaron los efectos de los enfoques de fisioterapia o PICS en los síntomas físicos de las personas diagnosticas con cáncer avanzado. Se seleccionaron las bases de datos PubMed, LILACS, PEDro, Cochrane, SciELO y la última búsqueda se realizó en abril de 2021. La evaluación de calidad metodológica de los estudios se realizó mediante la escala PEDro. Resultados: Se incluyeron veintidós estudios que demostraron que ambos enfoques pueden tener efectos positivos sobre los síntomas físicos, como la fatiga y el dolor, en la población estudiada. Conclusión: La fisioterapia y las PICS tienen efectos positivos sobre los síntomas físicos en personas diagnosticadas con cáncer avanzado. Sin embargo, existen pocos estudios con suficiente calidad metodológica para confirmar la efectividad de ambos en los desenlaces estudiados para esta población.

Palabras clave: neoplasias/terapia; cuidados paliativos; modalidades de fisioterapia; terapias complementarias.

 

 

INTRODUÇÃO

O câncer é um problema de saúde pública, e seu diagnóstico, principalmente em estágios avançados, sem perspectiva de cura, proporciona grande sofrimento tanto ao paciente quanto à sua família1,2. Dessa forma, os desconfortos físicos, psicossociais e espirituais vivenciados por pacientes com câncer ocorrem paralelamente a outros enfrentamentos, e essa luta incessante no curso da doença diminui a qualidade de vida2. Em fases mais avançadas da doença, ou em pacientes em cuidados paliativos, sintomas como a fadiga apresentam-se de forma mais acentuada, merecendo a atenção dos profissionais de saúde3.

 

Pacientes com câncer avançado frequentemente precisam de readmissões hospitalares por sintomas físicos como dor, febre, dispneia e fadiga, sendo esta última um dos sintomas prevalentes entre pacientes com câncer, principalmente com metástases, com duração de dias até anos, podendo ocorrer em qualquer etapa do tratamento oncológico4-6.

 

A etiologia desses sintomas é multifatorial, e pacientes costumam entrar em um ciclo vicioso de perda de massa muscular, redução de níveis de atividade física, resultando em fraqueza generalizada e sintomas debilitantes5. Desse modo, pode ocorrer uma redução significante na capacidade funcional e psicossocial, limitando a realização de atividades diárias e capacidade de trabalho, e diminuindo a qualidade de vida do paciente com câncer3,7.

 

Existe um desafio relacionado à transformação necessária do modelo assistencial vigente, determinada por uma assistência predominantemente médica curativa, biologicista hospitalocêntrica e fragmentada, que diverge da atenção integral à saúde3,8. A perspectiva da integralidade fundamenta-se na visão holística do homem fundamentada no modelo biopsicossocial, abrangendo diferentes saberes em equipes multiprofissionais, incluindo abordagens não farmacológicas3,8. A abordagem fisioterapêutica está inclusa; por meio de suas técnicas, atua melhorando a força muscular, a capacidade aeróbica, a produção de energia; interfere no humor e nos sintomas emocionais, prevenindo declínio funcional e melhorando a qualidade de vida e a funcionalidade6,9,10. Além disso, as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) podem contribuir para que o tratamento envolva o ser humano em todas as suas dimensões, crenças e espiritualidade, com um leque de opções que abrangem arteterapia, yoga, meditação, musicoterapia, quiropraxia, osteopatia, Reiki, aromaterapia, bioenergética, entre outros, podendo atuar de forma complementar ao tratamento fisioterapêutico, somando na melhora dos sintomas físicos do indivíduo com câncer avançado3,8.

 

Dessa forma, o objetivo deste estudo é descrever os efeitos de abordagens não farmacológicas, envolvendo técnicas fisioterapêuticas e PICS, nos sintomas físicos de indivíduos com câncer avançado.

 

 

MÉTODO

Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, inscrita na International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO) com ID CRD42021243694, para a identificação de estudos que englobem os efeitos da abordagem fisioterapêutica ou de PICS nos sintomas físicos de indivíduos com câncer avançado.

 

A identificação de estudos elegíveis foi realizada em uma abordagem de acordo com a estratégia PICOS: Population (população) ‒ indivíduos com câncer avançado, de ambos os sexos e de qualquer faixa etária; Intervention (intervenção) ‒ abordagem fisioterapêutica ou de PICS; Comparison (comparação) ‒ outras abordagens, cuidados usuais ou nenhuma intervenção; Outcome (desfecho) ‒ sintomas físicos, avaliados por escalas e/ou testes devidamente validados; Study Design (tipo de estudo) ‒ ensaios clínicos randomizados (ECR).

 

Esta revisão foi planejada e conduzida de acordo com o guia Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA)11, composto por 27 itens, o qual permite que autores assegurem o relatório transparente e completo de análises sistemáticas e metanálises.

 

Foram critérios de inclusão: ECR publicados em português, inglês e espanhol, os quais envolveram indivíduos com câncer avançado, que realizaram abordagens fisioterapêuticas ou PICS, e que tiveram seus sintomas físicos analisados, publicados de janeiro de 2010 a fevereiro de 2021. Foram excluídos artigos duplicados, estudos que investigaram primariamente efeitos de abordagens de outras áreas da saúde, protocolos de ensaios clínicos, estudos de viabilidade sem resultados estatísticos referentes aos efeitos dos desfechos analisados, teses, dissertações e resumos. Foi realizada uma busca de estudos originais publicados nas bases de dados PubMed via Medical Literature Analysis and Retrieval System (MEDLINE), Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences (LILACS), Physiotherapy Evidence Database (PEDro), Cochrane Library, e Scientific Eletronic Library Online (SciELO), além de pesquisa de ensaios clínicos com resultados na íntegra referentes a protocolos publicados, tendo sido a última busca realizada em abril de 2021. A estratégia de busca utilizada nas bases PubMed, LILACS, Cochrane Library e SciELO foi: ((((((((((("physiotherapy") OR ("physical therapy")) OR ("exercise")) OR ("exercise therapy")) OR ("integrative medicine")) OR ("integrative oncology")) OR ("complementary therapies")) AND ("advanced cancer")) OR ("advanced cancer patients")) OR ("neoplasm")) AND ("fatigue")) OR ("physical symptoms"). Na base de dados PEDro, foi utilizada somente a expressão AND para combinações individuais de descritores, conforme demonstrado no Quadro 1. Foram utilizados filtro de últimos dez anos em todas as bases de dados e filtro clinical trial na base Cochrane Library.

 

Para evitar perda de artigos, foi acrescentada a estratégia de busca ((("integrative medicine"[MeSH Terms] OR "complementary therapies"[MeSH Terms] OR Integrative Oncology[MeSH Terms] OR "integrative medicine" OR "holistic"[TIAB ] OR "alternative therap*" OR "alternative medicine" OR "medicine alternative")) AND (("physical therapy modalities"[MeSH Terms] OR "Exercise Therapy"[Mesh] OR "physical therapy"[TIAB] OR physiotherap*))) AND (advanced cancer patients) na base de dados PubMed.

 

Inicialmente, dois revisores realizaram a leitura individual de títulos e resumos dos artigos para verificar quais seriam pertinentes ao tema proposto na revisão. Após isso, realizaram a leitura dos artigos na íntegra e selecionaram os que foram incluídos no estudo. Em casos de discordância, esta foi solucionada por consenso entre a dupla e pela atuação de um terceiro revisor.

 

Quadro 1. Estratégia de busca da PEDro

DESCRITORES E COMBINAÇÕES

1 ‒ "Complementary therapy" "advanced cancer" "fatigue"

2 "Complementary therapy" "advanced cancer" "physical symptoms"

3 ‒ "Physiotherapy" "advanced cancer patients"

4 ‒ "Exercise" "advanced cancer" "fatigue"

5 ‒ "Exercise" "advanced cancer" "physical symptoms"

6 ‒ "Physiotherapy" "advanced cancer" "fatigue"

7 "Physiotherapy" "advanced cancer" "physical symptoms"

8 ‒ "integrative medicine" "advanced cancer" "physical symptom"

9 "integrative medicine" "advanced cancer" "fatigue"

10 "integrative oncology" "advanced cancer" "physical symptom"

 

 

Para a avaliação metodológica dos ECR selecionados, foi utilizada a escala PEDro, a qual possui 11 itens e tem como objetivo auxiliar na realização dessa avaliação, além de avaliar a descrição estatística, ou seja, se os estudos contêm informações mínimas para que seus resultados possam ser interpretáveis. O primeiro item dessa escala está relacionado com a validade externa, não sendo utilizado para calcular a pontuação, restando uma faixa de pontuação de zero a dez12. Tal escala foi aplicada por dois avaliadores e, em casos de discordância, foi solucionada por consenso entre a dupla e pela atuação de um terceiro avaliador.

 

A extração de dados descritivos e de resultados dos artigos selecionados foi realizada por dois autores independentes, sendo guiada por formulários-padrão adaptados do modelo da Colaboração Cochrane13 para extração de dados. Foram levados em consideração aspectos gerais dos estudos, da população avaliada (média de idade, gênero e diagnóstico), da intervenção realizada (tamanho da amostra, protocolos utilizados, frequência, duração de cada sessão, supervisão), desfechos avaliados, medição de resultados clínicos, além de resultados apresentados. Foram observados valores de p ou diferenças médias para análise de melhora significativa ou clínica. Discordâncias foram resolvidas por consenso entre os avaliadores. Em seguida, os resultados foram sintetizados em tabelas.

 

 

RESULTADOS

Foram rastreados 8.568 artigos após exclusão dos repetidos, entre eles, 44 foram selecionados para a leitura de revisão na íntegra, dos quais, 22 estudos foram incluídos (Figura 1), resultando em um total de 1.717 integrantes randomizados para participarem dos estudos. Ao ser realizada a avaliação de qualidade metodológica, com a escala PEDro, foi encontrada uma avaliação média dos estudos de 5,3 pontos (Tabela 1).

 

Figura 1. Fluxograma PRISMA com número de artigos identificados, incluídos e excluídos nesta revisão sistemática

 

 

Tabela 1. Avaliação da qualidade metodológica pela escala PEDro

Autor/Ano

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

Total

Cheung et al., 2020

X

X

X

X

 

 

X

X

X

X

X

8/10

Cheville et al., 2013

X

X

X

X

 

 

 

 

X

X

X

6/10

Dhillon et al., 2017

X

X

 

X

 

 

 

 

X

X

X

5/10

Galvão et al., 2018

X

X

X

X

 

 

 

X

 

X

X

6/10

Jensen et al., 2014

X

X

 

X

 

 

 

 

 

X

X

4/10

Lai et al., 2011

X

X

 

 

 

 

 

 

X

X

X

4/10

López-Sendín et al., 2012

X

X

 

X

 

 

X

 

X

X

X

6/10

Lim et al., 2011

X

X

X

X

 

 

 

X

X

 

 

5/10

Litterini et al., 2013

X

X

 

X

 

 

 

 

X

X

X

5/10

Maddocks et al., 2013

X

X

 

X

 

 

 

 

 

X

X

4/10

Nakano et al., 2020

X

X

 

X

 

 

 

X

X

X

X

6/10

Oldervoll et al., 2011

X

X

 

X

 

 

 

 

 

X

X

4/10

Porter et al., 2019

X

X

X

X

 

 

X

 

X

X

X

7/10

Rief et al., 2014

X

X

X

X

 

 

 

 

 

X

X

5/10

Pyszora et al., 2017

X

X

 

X

 

 

 

X

 

X

X

5/10

Schuler et al., 2016

X

X

 

X

 

 

 

 

 

X

X

4/10

Scott et al., 2018

X

X

 

X

 

 

 

 

X

X

 

4/10

Sikorskii et al., 2020

X

X

 

X

 

 

 

 

X

X

X

5/10

Toth et al., 2013

 

X

 

X

 

 

 

 

X

X

X

5/10

Vadiraja et al., 2017

X

X

X

X

 

 

 

 

 

X

X

5/10

Vanderbyl et al., 2017

X

X

 

X

 

 

X

 

 

X

X

5/10

Wyatt et al., 2012

X

X

X

X

 

 

X

X

X

X

X

8/10

Legendas: 1 = Critérios de elegibilidade e de origem dos participantes; 2 = Distribuição aleatória; 3 = Alocação oculta; 4 = Comparabilidade da linha de base; 5 = Participantes cegos; 6 = Terapeutas cegos; 7 = Avaliadores cegos; 8 = Acompanhamento adequado; 9 = Análise da intenção de tratar; 10 = Comparações entre grupos; 11 = Estimativas pontuais e variabilidade.

(*) O item 1 não contribuiu para a pontuação total.

 

 

As principais características dos artigos que foram incluídos neste estudo estão demonstradas na Tabela 2. Todos os estudos foram do tipo ECR, porém dez eram crossovers e pilotos14-23. Juntos, englobam populações adultas e idosas. As amostras variaram entre 20 e 286 participantes.

 

Os diagnósticos dos participantes incluíram principalmente: câncer de pulmão, gastrointestinal, de próstata e de mama em estágios III e IV. O local de metástase prevalente foi em tecido ósseo, principalmente na região da coluna.

 

Entre os sintomas físicos apresentados em pacientes com diagnóstico avançado, os principais foram fadiga e dor, avaliados por intermédio de diversos instrumentos. Os demais desfechos e seus respectivos instrumentos de avaliação estão indicados na Tabela 2.

 

Os estudos que realizaram intervenções fisioterapêuticas15,17,19,21,22,24-32 tiveram como abordagens selecionadas exercício resistido, aeróbico/cardiovascular, eletroterapia e terapia manual. Já os estudos de PICS14,16,18,20,23,33-35 envolveram acupressão, yoga (mindful integrativa), reflexologia, massagem aromaterapêutica e Qigong medicinal. A frequência variou de uma a cinco vezes por semana, com sessões entre 20 minutos e duas horas, durando de cinco dias a 12 semanas de intervenção (Tabela 3).

 

Somente um estudo selecionado25 revelou que a intervenção fisioterapêutica não apresentou melhora clínica ou estatisticamente significativa em nenhum desfecho avaliado. Todos os outros estudos demonstraram melhora após intervenção em pelo menos um sintoma físico analisado (Tabela 2).

 

Entre os oito estudos que realizaram PICS, os estudos de yoga integrativa34, massagem aromaterapêutica16 e reflexologia33,35 apresentaram melhora estatisticamente significativa superior no grupo intervenção, nos desfechos fadiga, domínio físico da McGill Quality of Life for Hong Kong Chinese, dor, severidade de dispneia e função física. No entanto, em análise intragrupo, os estudos que realizaram Qigong medicinal23 e massagem aromaterapêutica16 apresentaram melhora estatisticamente significativa em capacidade funcional e constipação, respectivamente, após intervenções.

 


Tabela 2. Características gerais dos estudos selecionados

Autor/Ano

Desenho de estudo

Objetivo

Características da população

Desfechos e avaliação

Principais resultados

Cheung et al., 2020

ECR (piloto)

Avaliar a viabilidade e os efeitos potenciais da autoadministração centrada no paciente de acupressão para aliviar a fadiga e sintomas concomitantes em pacientes chineses com câncer avançado recebendo tratamento

N=30 (26 reavaliados)

Idade média: 58,93-61,8 anos

Gênero: 24F

Câncer em estágio avançado (IIIB ou IV)

Fadiga (Chinese BFI), qualidade de vida – itens de questões físicas e bem-estar funcional (FACT-G)

Melhora clínica em fadiga no grupo intervenção após 4 semanas (diferença de média -0,58, 95% IC, -2,81 para 1,65), porém sem diferença estatisticamente significativa. Somente o grupo intervenção apresentou melhora clínica da dor (DM = -0,35, 95% IC, -1,89 a 1,19) sem atingir relevância estatística

Cheville et al., 2013

ECR

Estimar o efeito de um programa de treino de fortalecimento, rápido e fácil (REST), e de caminhada baseado em pedômetro em pacientes debilitados com câncer de pulmão e colorretal em estágio IV

N=66 (56 reavaliados)

Idade média: 63,8-65,5 anos

Gênero: 35M

Câncer de pulmão ou colorretal metastáticos (estágio IV)

Mobilidade autorreportada (AM-PAC CAT, AM-PAC Mobility e Activities Short Forms; qualidade de vida – itens de questões físicas e bem-estar funcional (FACT-G); Fadiga (FACT-F); Dor: EVN

Melhora estatisticamente significativa em SF mobilidade e fadiga em análise intragrupo (p=0,01 e p=0,02) e intergrupo (p=0,002 e p=0,03) respectivamente

Dhillon et al., 2017

ECR

Avaliar se uma intervenção de atividade física por 2 meses melhora fadiga e a qualidade de vida de pessoas com câncer de pulmão avançado

N=111 (90 reavaliados)

Idade média: 64 anos

Gênero: 61M

Câncer de pulmão (estágios III e IV)

Fadiga (FACT-F), dispneia (SBQ), função, atividade e aptidão física (TC6, SFT, força de preensão, Actigraph GT1M accelerometers; AAQ, e Sedentary Behavior Questionnaire)

Não apresentou melhora clínica ou estatística relevante em nenhum desfecho

Galvão et al., 2018

ECR

Examinar a eficácia e a segurança de um programa de exercício modular multimodal em pacientes com câncer de próstata e metástase óssea

N=57 (49 reavaliados)

Idade média: 70 (SD 8,4) anos

Metástase óssea

Função física (SF-36, TUG-T; TC6 ‒ rápido e lento; TC400m); força muscular (1RM); equilíbrio (SOT); massa magra e de gordura (raios-X tipo absorciometria dupla-energia); fadiga (FACIT-F)

Após 3 meses, houve diferença intergrupo estatisticamente significativa em função física (p=0,028) e força muscular de extensores de MMII (p=0,033). Não houve melhora relevante em outros desfechos

Jensen et al., 2014

ECR (piloto)

Investigar a viabilidade de dois programas de treinamento físico diferentes em pacientes com câncer gastrointestinal avançado realizando quimioterapia paliativa

N=21

Idade média: 55 (SD 13,1)

Gênero: 11F

Câncer gastrointestinal avançado

Qualidade de vida – função física, fadiga, dor, dispneia (EORTC-QLQ-C30 versão 3), força muscular (1RM), aptidão cardiorrespiratória (Protocolo Modificado de Bicicleta da OMS); atividade de vida diária (pulseira SenseWear); nível de atividade física diária (Freiburg Questionnaire of Physical Activity)

Melhora estatisticamente significativa em grupo RET para músculos de MMII, bíceps, posteriores de tronco, e flexores de joelho (p<0,05); quantidade de atividade física diária apresentou melhora no grupo AET (p=0,034); taxa metabólica melhorou em ambos os grupos (p<0,03); melhora estatisticamente significativa de fadiga em ambos os grupos (p=0,003); estado de saúde e função global tiveram melhor resultado no grupo AET

Lai et al., 2011

ECR (piloto)

Verificar os efeitos da massagem aromaterapêutica na constipação de pacientes com câncer avançado

N=45 (32 reavaliados)

Gênero: 24M

Qualquer câncer em estágio avançado

Constipação (CAS) e qualidade de vida (MQOL-HK)

Melhora da constipação em grupo que realizou massagem e massagem aromaterapêutica, sendo estatisticamente significativa nesta última (p=0,0002); melhora superior em análise intra e intergrupo em massagem aromática no domínio físico da MQOL-HK

López-Sendín et al., 2012

ECR (piloto)

Determinar os efeitos da fisioterapia, incluindo massagem e exercício, em dor e humor de pacientes com câncer terminal avançado

N=24

Idade média: 54 (SD=8) anos

Gênero: 18M

Qualquer câncer em estágios III e IV

Dor (BPI e MPAC); sintomas de estresse físico (MSAS)

Melhora superior em GI para BPI worst pain (p=0,036), BPI pain right now (p=0,027), BPI index (p<0,001) e MPAC pain differences (p=0,04). GI teve melhora significativa em análise intragrupo em MSAS physical

Lim et al., 2011

ECR (piloto)

Documentar a mudança em sintomas após acupuntura e determinar a viabilidade de estudo randomizado de acupuntura em câncer incurável avançado

N=18

Idade média: 55 anos

Gênero: 15F

Qualquer câncer em estágio avançado

Alteração de sintomas como dor, cansaço, perda de apetite, náuseas, falta de ar (ESAS)

Após 6 semanas, o grupo acupuntura apresentou melhora clínica em falta de ar, cansaço e tontura (redução de 1,0-2,75 pontos); o grupo terapia de suporte apresentou melhora clínica de náusea, tontura, dor, cansaço e perda de apetite (redução de 1,25-2,5 pontos)

Litterini et al., 2013

ECR

Comparar os efeitos de treino resistido e cardiovascular na mobilidade funcional de indivíduos com câncer avançado

N=66 (52 follow-up)

Idade média: 62,35 anos

Gênero: 36F

Qualquer câncer em estágio avançado

Mobilidade funcional ‒ combinação de equilíbrio, performance da marcha, e força de MMII (SPPB); fadiga e dor (EVA 100-mm)

Em análise intragrupo, ambos apresentaram melhora significativa em melhora de SPPB (total, balance e chair stands scores), fadiga. Melhora superior em grupo cardiovascular em SPPB total score (p=0,45)

Maddocks et al., 2013

ECR

Determinar a aceitabilidade da ESNM do quadríceps para pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas em quimioterapia paliativa

N=49 (15 reavaliados)

Idade média: 60 anos

Gênero: 28M

Câncer de pulmão de células não pequenas (estágio IV)

Força muscular de quadríceps (dinamômetro manual); composição corporal (absorciometria por raios-X de dupla energia), fadiga (MFI-20); qualidade de vida – função física (EORTC-QLQ-C30 e LC-13)

Melhora estatisticamente significativa na fadiga (p=0,03) favorecendo o grupo que realizou eletroestimulação. Não houve alteração relevante em força de pico, massa muscular ou aspectos de atividade física

Nakano et al., 2020

ECR (crossover)

Avaliar os efeitos do TENS na dor e outros sintomas físicos em pacientes com câncer avançado recebendo cuidados paliativos

N=20

Idade média: 70 (SD=6,3) anos Gênero: 17M

Qualquer câncer em estágio avançado

Dor (questionários envolvendo EVN), sintomas físicos (EORTC-QLQ-C15-PAL)

Grupo TENS apresentou melhora estatisticamente significativa para perda de apetite (p=0,02), e em análise intra e intergrupo, na dor, principalmente imediatamente após tratamento e náusea/vômito (p<0,05)

Oldervoll et al., 2011

ECR

Examinar eficácia e segurança de um programa de exercício modular multimodal em pacientes com câncer de próstata e metástase óssea

N=231 (163 reavaliados)

Idade média: 62 anos

Gênero: 144F

Qualquer câncer incurável e em estágio avançado

Fadiga (FQ); performance física (TSO, força de preensão, comprimento máximo do passo, SWT)

Em comparação ao GCU, o GEF apresentou melhora clínica e estatística significante no SWT (p=0,001), TSO (p=0,05), força de preensão (p=0,05) e comprimento máximo de passo (p=0,04). Também houve maior ganho de peso no GEF

Porter et al., 2019

ECR (piloto)

Examinar a aceitabilidade de um programa de yoga para pacientes com câncer de mama metastático

N=63 (55 reavaliados)

Idade média: 57,3 (SD=11,5) anos

Câncer de mama metastático

Dor (Client Satisfaction Questionnaire-8); fadiga (BFI); capacidade funcional (TC6)

Mulheres que realizaram yoga apresentaram melhora discreta em fadiga, assim como caminharam maiores distâncias após o tratamento e após 6 meses de follow-up

Rief et al., 2014

ECR (piloto)

Comparar os efeitos de treino resistido versus fisioterapia passiva na qualidade de vida, fadiga, estresse emocional, durante radioterapia em pacientes com metástase óssea em coluna

N=60

Idade média: 61,3-64,1 anos

Gênero: 33F

Metástase óssea (sacral, lombar ou torácica)

Fadiga (EORTC QLQ FA13)

Após 6 meses, pacientes do grupo intervenção apresentaram melhora estatisticamente significativa de fadiga (p=0,013) e interferência na vida diária (p=0,006)

Pyszora et al., 2017

ECR

Avaliar o efeito de um programa de fisioterapia na fadiga relacionada ao câncer e outros sintomas em pacientes diagnosticados com câncer avançado

N=60 (58 reavaliados)

Idade média: 69,3-72,4 anos

Gênero: 39F

Qualquer câncer em estágio avançado

Fadiga (BFI); intensidade de outros sintomas com a doença (ESAS)

O grupo intervenção apresentou melhora estatisticamente significativa em fadiga (BFI e ESAS), assim como dor, tontura, bem-estar e melhora de apetite (p<0,01)

Schuler et al., 2016

ECR

Testar o impacto de um programa de esportes individual e estruturado na fadiga de pacientes com câncer avançado

N=70 (40 follow-up)

Idade média: 52,38 anos

Gênero: 41M

Qualquer câncer em estágio avançado

Fadiga (MFI); capacidade funcional ‒ endurance (TC6); atividade física (IPAQ)

Grupo que realizou programa de exercício adicionando fisioterapia perto de casa, apresentou melhora estatisticamente significativa em severidade de fadiga em reavaliação e follow-up (p=0,017 e p=0,006, respectivamente)

Scott et al., 2018

ECR

Determinar a aceitabilidade e segurança de treinamento aeróbico em câncer de mama metastático

N=65

Idade média: 54 (SD=11) anos

Câncer de mama metastático

Dosagem dos exercícios (MET); aptidão cardiorrespiratória ‒ VO2pico (PET-CT limitado por sintomas em um teste em esteira motorizada, monitorado por eletrocardiograma de 12 variações); capacidade funcional (TC6, TSO de 30 segundos, TUG-T); função física (SF-36); fadiga (FACIT-F); dor (BPI)

Melhora no grupo aeróbico em VO2pico, TSO e TUG-T, e SF-36 (p<0,04). Diferença significativa favorecendo o grupo intervenção somente em SF-36 (p=0,03)

Sikorskii et al., 2020

ECR

Examinar respostas de sintomas resultantes de intervenção com reflexologia em casa, desempenhado por cuidadores amigos/familiares a mulheres com câncer de mama avançado

N=209

Idade média GI: 58,95 (SD=11,32) anos

Gênero: 209F

Câncer de mama estágios III e IV

Severidade de sintomas, incluindo dor, fadiga, falta de ar, redução de apetite, boca seca, náuseas/vômito, dormência/formigamento (MDASI)

Reflexologia foi superior em melhora da dor (p=0,03), sem diferenças significativas para outros sintomas, apesar de apresentar melhora clínica para fadiga

Toth et al., 2013

ECR (piloto)

Determinar a viabilidade e os efeitos de fornecer massagem terapêutica em casa de pacientes com câncer metastático

N=39

Idade média: 55,1 (SD=11) anos

Gênero: 32F

Câncer metastático

Dor (BPI e Pain Severity Subscale); atividade de vida diária (Katz Scale)

Melhora superior em grupo que realizou massagem para bem-estar físico (p=0,005). Grupo que realizou massagem reduziu mais a dor que o grupo que não realizou toque (p=0,04), porém perdeu significância estatística após ajuste com valor de base

Vadiraja et al., 2017

ECR

Avaliar os efeitos de yoga integrativo versus terapia de suporte em estresse e fadiga de pacientes com câncer de mama avançado

N=91 (75 reavaliados)

Idade média: 50,54 anos

Gênero: 91M

Câncer de mama avançado

Fadiga (FSI)

Severidade, frequência, interferência e variação diurna de fadiga apresentaram melhora estatisticamente significativa superior que GC (p<0,001)

Vanderbyl et al., 2017

ECR (crossover)

Comparar o impacto de Qigong medicinal e exercício físico, e identificar se um deles é superior para melhorar capacidade funcional e reduzir sintomas

N=36 (24 reavaliados)

Idade média: 60 anos

Gênero: 14M

Câncer gastrointestinal ou de pulmão de células não pequenas (estágios III e IV)

Capacidade funcional (SFA ‒ TC6 + velocidade de caminhada + TSO + teste de alcance); qualidade de vida – função física (FACT-G)

Melhora superior do grupo de exercício para bem-estar (p=0,03), fraqueza (p=0,01) e TC6 (p=0,002). O grupo Qigong, apesar de não ter demonstrado superioridade do exercício, apresentou melhora significativa no TC6 (p=0,02)

Wyatt et al., 2012

ECR

Avaliar segurança e eficácia da reflexologia

N=286

Idade média: 55,3 anos

Gênero: 286F

Câncer de mama estágios III e IV, recorrentes ou metastáticos

Função física (SF-36), qualidade de vida ‒ aspectos físico, emocional, social, funcional e outros relacionados ao câncer de mama (FACT-B), fadiga (BFI), dor (BPI-SF)

Grupo reflexologia teve melhora significativamente superior na severidade de dispneia comparado ao GC (p<0,01) e ao grupo LFM (p=0,02), e em função física comparado ao GC (p=0,04); o grupo LFM apresentou redução em severidade de fadiga significativamente superior comparado ao GC (p<0,01)

 

Legendas: ECR = ensaio clinico randomizado; BFI = Brief Fatigue Inventory; FACT-G = Functional Assessment of Cancer Therapy-General; DM = diferenca média; IC = intervalo de confianca; REST = treino de fortalecimento, rapido e facil; AM-PAC = Activity Measure for Post-Acute Care; CAT = Computer Adaptative Test; FACT-F = Functional Assessment of Cancer Therapy-Fatigue; EVN = escala verbal numerica de dor; SBQ = Shortness of Breath Questionnaire; TC6 = teste de caminhada de 6 minutos; SFT = Seniors Fitness Test; AAQ = Active Australia questionnaire; SD = Standard Deviation; SF-36 = 36 items Short-Form; TUG-T = Time Up and Go Test; TC400m = teste de caminhada de 400 metros; 1RM = uma repeticao maxima; SOT = Sensory Organization Test; FACIT-F = Functional Assessment of Chronic Illness Therapy-Fatigue; MMII = membros inferiores; EORTC-QLQ-C30 = European Organization for Research and Treatment of Cancer Quality of Life Questionnaire; OMS = Organizacao Mundial da Saude; RET = Resistance Exercise Training; AET = Aerobic Exercise Training; CAS = Constipation Assessment Scale; MQOL-HK = McGill Quality of Life for Hong Kong Chinese; BPI = Brief Pain Inventory; MPAC = Memorial Pain Assessment Card; MSAS = Memorial Symptom Assessment Scale; GI = grupo intervencao; ESAS = Edmonton Symptom Assessment System; SPPB = Short Physical Performance Battery; EVA = escala visual analogica; mm = milimetros; ESNM = estimulacao eletrica neuromuscular; MFI = Multidimensional Fatigue Inventory; LC-13 = Lung Cancer Module; TENS = Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation; EORTC-QLQ-C15-PAL = European Organization for Research and Treatment of Cancer Quality of Life Questionnaire-Core 15-Palliative Care; FQ = Fatigue Questionaire; TSO = treino de sedestracao-ortostase; SWT = Shuttle Walk Test; GCU = grupo de cuidados usuais; GEF = grupo de exercicio fisico; EORTC QLQ FA13 = European Organization for Research and Treatment of Cancer Quality of Life Questionaire for Fatigue; IPAQ = International Physical Activity Questionnaire Short Form; MET = múltiplos de equivalentes metabólicos; VO2pico = consumo de oxigenio de pico; PET-CT = tomografia computadorizada por emissao de positrons; MDASI = The M.D. Anderson Symptom Inventory; FSI = Fatigue Symptom Iventory; GC = grupo controle; SFA = Simmonds Functional Assessment; FACT-B = Functional Assessment of Cancer Therapy ‒ Breast; BPI-SF = Brief Pain Inventory ‒ Short Form; LFM = Lay Foot Manipulation.

Valor de p<0,05: estatisticamente relevante.

 

 

Tabela 3. Intervenções dos estudos selecionados ‒ abordagens fisioterapêuticas e PICS

Autor/ano

Tipo

Tempo da sessão

Frequência

Duração

Supervisão

Grupo comparação

Cheville et al., 2013

Protocolo REST + caminhada baseada em pedômetro

1º dia: 90 minutos de sessão instrutiva;

REST: tempo suficiente para realizar 10 (podendo evoluir até 15) repetições por exercício;

Pedômetro: 1 km em 20 minutos

 

REST: 2x por semana

Caminhada: 4x por semana

8 semanas

Fisioterapeutas

Cuidados usuais

Dhillon et al., 2017

Programa de atividade física individualizada (ênfase em exercício aeróbico ‒ orientações para exercícios resistidos) e suporte comportamental

Aproximadamente 1 hora;

AF: 30 a 45 minutos;

SC:15 a 30 minutos

1x por semana

8 semanas

Consultor de atividade física

Cuidados usuais

Galvão et al., 2018

Programa de exercício físico (exercícios aeróbicos, resistidos e de flexibilidade)

1 hora

3x por semana

3 meses

Fisioterapeuta

Cuidados usuais

Jensen et al., 2014

Dois programas de exercícios (resistidos ou aeróbicos)

45 minutos

2x por semana

12 semanas

Não informado

López-Sendín et al., 2012

Terapia manual e exercícios (ex.: PNF)

30 minutos

3x por semana

2 semanas

Fisioterapeuta

Contato/toque manual simples

Litterini et al., 2013

Exercício resistido

versus

Exercício cardiovascular

30-60 minutos

2 vezes por semana

10 semanas

Fisioterapeutas

Maddocks et al., 2013

Eletroestimulação neuromuscular de quadríceps (Fr: 50 Hz; Lp: 350 ms, aumentando ciclo em 11%-18%-25% e permanecendo constante em seguida; amplitude: 0-120 mA)

30 minutos

Mínimo de 3x por semana, podendo ser diariamente

8-11 semanas (3-4 ciclos de quimioterapia)

Não informado

Cuidados usuais

Nakano et al., 2020

TENS (alta-frequência: 100 Hz, exceto para constipação: 10 Hz)

30 minutos

Diariamente

5 dias de intervenção e 5 dias de cuidado usual

Médico pesquisador

Oldervoll et al., 2011

Programa de exercício físico (aquecimento, circuito, alongamento e relaxamento)

50-60 minutos

2x por semana

8 semanas

Fisioterapeuta

Cuidados usuais

Rief et al., 2014

Treino resistido

30 minutos

5x por semana (dias de sessões de radioterapia)

2 semanas

Fisioterapeutas

Exercícios respiratórios

Pyszora et al., 2017

Programa de fisioterapia

30 minutos

3x por semana

2 semanas

Fisioterapeuta

Tratamentos farmacológicos prévios ou que não influenciassem em fadiga

Schuler et al., 2016

Programa de exercício individualizado e estruturado, adicionando em um dos grupos de fisioterapia próximo ao local de moradia

20-30 minutos

3x por semana ‒ aeróbico

2x por semana ‒ resistido

12 semanas

Fisioterapeuta

Cuidados usuais

Scott et al., 2018

Treino aeróbico com variação de intensidade (55%, 65%, 75%-80% de VO2pico)

55% = 20 minutos

65% = até 30 minutos 75%-80% = 30-45 minutos

3x por semana

12 semanas

Fisiologista do exercício

Alongamentos

Toth et al., 2013

Massagem terapêutica

15-45 minutos

3x na primeira semana; conforme disponibilidade de paciente nas outras 3 semanas

 

4 semanas

Terapeuta com certificação para realizar massagem

Não toque e cuidados usuais

Cheung et al., 2020

Acupressão

1ª semana: 2 horas;

2ª a 4ª semana: 30 minutos de aplicação + 1 hora de visita follow-up

1ª semana: 2 sessões para treino;

2ª a 4ª semana: 1 visita de follow-up por semana + 30 minutos de aplicação de acupressão por dia

4 semanas

Estudante sênior de medicina tradicional chinesa e estudante de Enfermagem

Cuidados usuais + Conversa sobre saúde não relacionada com controle dos sintomas na terceira semana

Lai et al., 2011

Massagem aromaterapêutica e massagem abdominal simples

15-20 minutos

5x por semana

5 dias consecutivos

Enfermeiros treinados para realizar técnicas de massagem abdominal básica

Nenhuma intervenção

Lim et al., 2011

Eletroacupuntura

20 minutos

1x por semana

4 semanas

Fisioterapeuta certificado em acupuntura, oncologista de radiação e médico acupunturista certificados

Cuidado paliativo de profissional da enfermagem

Porter et al., 2019

Mindful yoga

120 minutos

1x por semana

8 semanas

Instrutores de yoga com certificação

Grupo de apoio social

Sikorskii et al., 2020

Reflexologia

30 minutos

Ao menos 1x por semana

4 semanas

Cuidador (amigo/familiar) treinado previamente por reflexologista

 

Atenção usual

Vadiraja et al., 2017

Programa de yoga Integrativo

1 hora

3x na semana

3 meses

Instrutor de yoga com certificação

Terapia Educacional de Suporte

Vanderbyl et al., 2017

Qigong medicinal e exercício físico padrão

Qigong = 45 minutos Exercício: até alcançar 60%-70% da FC máxima ou 2-4 MET

2x na semana

6 semanas cada

Fisioterapeuta

Cuidados usuais

Wyatt et al., 2012

Reflexologia ou manipulação dos pés superficial

30 minutos

4x por semana

4 semanas

Reflexologista habilitado

Cuidados usuais

Legendas: REST = treino de fortalecimento, rápido e fácil; AF = atividade física; SC = suporte comportamental; PNF = Proprioceptive Neuromuscular Facilitation; Fr = frequência; Hz = Hertz; Lp = largura de pulso; mA = miliampere; TENS = Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation; FC = frequência cardíaca; MET = múltiplos de equivalentes metabólicos; ms = microssegundo; VO2pico = consumo de oxigênio de pico.

 


DISCUSSÃO

Esta revisão sistemática demonstrou que a realização da fisioterapia ou de PICS têm efeitos positivos nos sintomas físicos de indivíduos diagnosticados com câncer avançado. Assim, os estudos selecionados sugerem que a utilização das PICS seja incorporada como terapia complementar na reabilitação dessa população.

 

A fisioterapia em Oncologia desempenha um importante papel na prevenção e reabilitação, inclusive de indivíduos que realizam tratamento paliativo, de efeitos adversos do tratamento oncológico, e busca restaurar a integridade cinético-funcional de órgãos e sistemas, dispondo de um arsenal de técnicas para atingir esse objetivo36. Os estudos incluídos nesta revisão, que realizaram como intervenção abordagens fisioterapêuticas, em geral, apresentaram melhora significativa em sintomas físicos, como mobilidade funcional (com equilíbrio e performance na marcha), capacidade funcional, força muscular, dor, realização de atividades de vida diária e, principalmente, fadiga, sendo este último o desfecho mais avaliado.

 

Outros estudos que englobaram a análise da realização da fisioterapia37-41, com eletroterapia, exercício resistido ou aeróbico e terapia manual em pacientes com câncer avançado, também indicaram seus efeitos positivos em sintomas físicos, corroborando os achados desta revisão.

 

Somente um estudo não encontrou melhora significativa em nenhum desfecho. Possivelmente, a sua baixa qualidade metodológica justifica essa conclusão, já que outros estudos que também envolveram especificamente indivíduos diagnosticados com câncer de pulmão apresentaram melhora estatisticamente significativa em fadiga e mobilidade.

 

As PICS realizadas nos estudos selecionados englobaram prática de yoga, acupressão, acupuntura, reflexologia, massagem aromaterapêutica e Qigong medicinal. O yoga e o Qigong estão englobados em práticas de mind-body e focam em interações entre cérebro, mente, corpo e comportamento, tendo a intenção de usar a mente como influenciador do funcionamento físico e promover a saúde. Ambos incorporam movimentos e posições, técnicas de respiração e meditação, com o objetivo de criar harmonia e reestabelecer equilíbrio entre mente e corpo. Desse modo, têm impacto positivo em distúrbios emocionais (depressão ansiedade), dor, condicionamento físico, distúrbios do sono e qualidade de vida. Além disso, segundo a filosofia da medicina tradicional chinesa, o câncer se desenvolve a partir de um desarranjo entre patógenos externos, dieta, ambientes e emoções e, assim, suas técnicas possuem impacto positivo no manejo de náusea/vômitos, dor, fogachos e fadiga42.

 

Massagem aromaterapêutica e reflexologia são terapias complementares não invasivas, de baixo custo, que promovem intimidade, confiança e segurança na relação profissional-paciente por meio do toque. Na primeira, os óleos de ervas aromáticas e ervas voláteis são gradualmente absorvidos pela pele, exercendo resultados terapêuticos, como sedação, analgesia, efeitos antiespasmódicos e antipiréticos, positivos na dor, ansiedade, estado mental, fadiga, condições gastrointestinais e qualidade do sono de pacientes43. Já a reflexologia promove efeitos hemodinâmicos que aumentam a resposta parassimpática e reduzem a estimulação simpática, aumentando a circulação sanguínea nos órgãos e a produção de energia, o que faz com que ocorra relaxamento muscular e mantenha a homeostase, além de promover liberação de endorfina no organismo, resultando em melhora de dor, pressão muscular, ansiedade e fadiga44.

 

Os sintomas físicos relacionados ao câncer e aos seus tratamentos comumente estão associados a questões emocionais, principalmente estresse e depressão, logo, um plano terapêutico que envolva terapias que atuem em desfechos físicos e emocionais pode ser mais eficaz nessa população. Dessa forma, assim como neste estudo, outros45-48 observaram que as PICS são métodos seguros (quando realizados sob supervisão de profissionais capacitados) que podem trazer efeitos benéficos nos sintomas físicos de pacientes oncológicos, inclusive em estágio avançado, principalmente na dor e na fadiga relacionadas ao câncer. Porém, ainda existem poucos estudos utilizando cada PICS em pacientes com câncer avançado, principalmente com boa qualidade metodológica.

 

As limitações desta revisão englobam métodos de avaliação e subitens avaliados heterogêneos, possivelmente por serem grupos de indivíduos diagnosticados com diferentes tipos de câncer, além da pouca quantidade de estudos que utilizaram cada PIC, já que foram observados diferentes tipos utilizados nos estudos incluídos. Além disso, a distinção na frequência e na duração do tratamento pode ter interferido nos resultados, já que estudos que não apresentaram resultados significativos nas abordagens também possuíam menor frequência ou duração comparados a outros com terapêutica semelhante. A qualidade metodológica dos estudos também é um ponto a ser sinalizado, já que a maioria indicou uma baixa qualidade a partir da aplicação da escala PEDro, na qual nenhum apresentou cegamento de avaliadores ou participantes, e poucos realizaram cegamento de avaliadores ou promoveram acompanhamento adequado dos participantes.

 

 

CONCLUSÃO

A fisioterapia e as PICS têm efeitos positivos em indivíduos com diagnóstico de câncer avançado, reduzindo a intensidade dos sintomas físicos. No entanto, existem poucos estudos com qualidade metodológica suficiente para firmar a eficácia da fisioterapia e das PICS nos desfechos estudados para essa população. Portanto, novos ECR que investiguem os efeitos da fisioterapia e principalmente das PICS com finalidade terapêutica nesses indivíduos são necessários.

 

 

CONTRIBUIÇÕES

Todas as autoras contribuíram substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo; na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados, na redação e/ou revisão crítica e na aprovação final da versão publicada.

 

 

DECLARAÇÃO DE CONFLITO DE INTERESSES

Nada a declarar.

 

 

FONTES DE FINANCIAMENTO

Não há.

 

 

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Recebido em 24/6/2021

Aprovado em 15/10/2021

 

Editor-associado: Fernando Lopes Tavares de Lima. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-8618-7608

Editora-científica: Anke Bergmann. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-1972-8777

 

 

 

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