ARTIGO ORIGINAL

 

Acompanhamento Fisioterapêutico após Tratamento Cirúrgico do Câncer de Mama por Teleconsulta: Percepção e Adesão das Pacientes

Physiotherapeutic Follow-up after Surgery for Breast Cancer Treatment by Telehealth: Patients' Perception and Adherence

Seguimiento Fisioterapéutico Posquirúrgico para el Tratamiento del Cáncer de Mama por Teleconsulta: Percepción y Adherencia de las Pacientes

 

 

https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2023v69n4.4091

 

Flávia Oliveira Macedo1; Flávia Orind Ferreira2; Daniele Medeiros Torres3; Simone Abrantes Saraiva4; Juliana Flávia Oliveira Tavares de Oliveira5; Erica Alves Nogueira Fabro6; Rejane Medeiros Costa7

 

1-7Instituto Nacional de Câncer (INCA). Rio de Janeiro (RJ), Brasil.

1E-mail: flavia.macedo@inca.gov.br. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0001-7663-768X

2E-mail: flavia_of@yahoo.com.br. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0001-9991-4088

3E-mail: danieletorres_@hotmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-8306-6923

4E-mail: siabrantes2@gmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0003-4926-7550

5E-mail: julianatavaresoliveira@gmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0009-0008-1847-5481

6E-mail: efabro@inca.gov.br. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0003-0959-7678

7E-mail: rmcosta2@gmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-8195-955X

 

Endereço para correspondência: Rejane Medeiros Costa. Rua Visconde de Santa Isabel, 274 – Vila Isabel. Rio de Janeiro (RJ), Brasil. CEP 20560-120. E-mail: rmcosta2@gmail.com

 

 

RESUMO

Introdução: O serviço de fisioterapia do Hospital do Câncer III do Instituto Nacional de Câncer (HCIII/INCA) inseriu as teleconsultas em suas atividades assistenciais para o acompanhamento das pacientes submetidas ao tratamento cirúrgico do câncer de mama durante a pandemia. Objetivo: Avaliar a percepção das pacientes quanto aos atendimentos por teleconsulta no HCIII/INCA, além da compreensão e da adesão quanto às orientações fisioterapêuticas domiciliares no pós-operatório de câncer de mama. Método: Estudo observacional, de abordagem qualiquantitativa, no qual foram incluídas pacientes submetidas ao tratamento cirúrgico do câncer de mama, de março a maio de 2020, que realizaram teleconsultas com a fisioterapia. Foi utilizado um questionário com perguntas semiestruturadas e uma pergunta aberta sobre teleconsulta. Resultados: Foram incluídas 129 mulheres, 81,4% referiram conforto com as teleconsultas, 72,1% sentiram-se muito seguras e 71,3% sentiram-se satisfeitas com esse tipo de atendimento. Quanto às orientações fisioterapêuticas fornecidas, 89,1% das pacientes relataram que as entenderam e 66,7% que as seguiram totalmente; 63,6% realizaram os exercícios de membros superiores diariamente. Quanto à questão qualitativa, as pacientes relataram que a teleconsulta foi necessária, válida e importante por evitar a exposição ao vírus no período da pandemia, além de evitar os deslocamentos até a instituição, a economia de tempo e de dinheiro. Conclusão: A modalidade de teleconsulta nas avaliações da fisioterapia pós-cirurgia do câncer de mama geraram percepções de segurança, conforto e satisfação, tendo boa compreensão e adesão tanto das orientações fornecidas quanto da prática de exercícios domiciliares.

Palavras-chave: consulta remota; pandemias/COVID-19; neoplasias da mama; modalidades de fisioterapia.

 

 

ABSTRACT

Introduction: The physiotherapy service at the Cancer Hospital III of the National Cancer Institute (HCIII/INCA) has included telehealth in its care activities for monitoring patients undergoing surgical treatment for breast cancer during the pandemic. Objective: To evaluate the perception of patients about telehealth at HCIII/INCA, in addition to understanding and adherence to home physiotherapeutic guidelines in the postoperative breast cancer period. Method: Observational, qualitative and quantitative approach study, which included patients who received surgical treatment for breast cancer from March to May 2020 and attended physiotherapy telehealth. A semi-structured questionnaire with an open question about telehealth was utilized. Results: 129 women were included, 81.4% reported comfort with telehealth, 72.1% felt very safe and 71.3% felt satisfied with this type of service. Regarding physiotherapeutic guidelines provided, 89.1% of the patients claimed they understood the content, 66.7% followed them completely and 63.6% performed daily upper limb exercises. In relation to the quality, the patients reported that telehealth was necessary, valid and important to avoid exposure to the virus during the pandemic, in addition to being cost-effective, time-saving and avoiding trips to the institution. Conclusion: The modality of telehealth as evaluated by physiotherapy after breast cancer surgery generated a feeling of security, comfort and satisfaction, with good understanding and adherence to the guidelines and practice of home exercises.

Key words: remote consultation; pandemics/COVID-19; breast neoplasms; physical therapy modalities.

 

 

RESUMEN

Introducción: El servicio de fisioterapia del Hospital Oncológico III del Instituto Nacional del Cáncer (HCIII/INCA) ha incluido la teleconsulta en su actividad asistencial para el seguimiento de las pacientes sometidas a tratamiento quirúrgico por cáncer de mama durante la pandemia. Objetivo: Evaluar la percepción de las pacientes sobre la teleconsulta en el HCIII/INCA, además de su comprensión y adherencia a las pautas de fisioterapia domiciliaria en el posoperatorio de cáncer de mama. Método: Estudio observacional, con abordaje cualitativa y cuantitativa, que incluyó pacientes que se sometieron a tratamiento quirúrgico por cáncer de mama, de marzo a mayo de 2020, a quienes se les realizó teleconsultas con fisioterapia. Se utilizó un cuestionario con preguntas semiestructuradas y una pregunta abierta sobre teleconsulta. Resultados: Se incluyeron 129 mujeres, el 81,4% refirió comodidad con las teleconsultas, el 72,1% se sintió muy segura y el 71,3% se sintió satisfecha con este tipo de atención. En cuanto a las pautas fisioterapéuticas brindadas, el 89,1% de las pacientes reportó que las entendían y el 66,7% que las seguía completamente; el 63,6% realizaba ejercicios de miembros superiores diariamente. En cuanto a la pregunta cualitativa, las pacientes relataron que la teleconsulta fue necesaria, válida e importante para evitar la exposición al virus durante el período de pandemia, además de evitar desplazamientos a la institución, ahorrando tiempo y dinero. Conclusión: La modalidad de teleconsulta en las evaluaciones de fisioterapia después de la cirugía de cáncer de mama generó percepciones de seguridad, comodidad y satisfacción, con buena comprensión y adherencia tanto a las orientaciones brindadas como a la práctica de ejercicios domiciliarios.

Palabras clave: consulta remota; pandemias/COVID-19; neoplasias de la mama; modalidades de fisioterapia.

 

 

INTRODUÇÃO

A pandemia da covid-19 induziu governos mundiais a adotarem regras rígidas de isolamento social, o que gerou modificações na prestação dos serviços de saúde a fim de reduzir o número de casos da doença e prevenir o colapso dos sistemas de saúde. Nesse contexto, pacientes com câncer tiveram seus tratamentos suspensos ou adiados1.

 

O câncer de mama é a neoplasia mais incidente entre as mulheres no Brasil2, e complicações como dor, alteração de sensibilidade no trajeto do nervo intercostobraquial (NICB), redução da amplitude de movimento do membro superior, escápula alada, síndrome da rede axilar, linfedema, entre outras, podem ser observadas nos meses seguintes à cirurgia3,4. Por esse motivo, é necessário o acompanhamento fisioterapêutico para prevenção, detecção precoce e tratamento dessas condições5-7.

 

Como solução para a continuidade dos acompanhamentos nesse momento de enfrentamento da pandemia, a assistência precisou ser modificada e, para isso, novas modalidades de atendimentos foram autorizadas. Em março de 2020, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito), em atenção às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), visando promover o atendimento de fisioterapia e terapia ocupacional à população e assegurar o bem-estar do profissional e dos pacientes, autorizou, por meio da Resolução n.º 5168, os serviços de teleconsulta, telemonitoramento e teleconsultoria. A teleconsulta de fisioterapia consiste na consulta realizada pelo fisioterapeuta a distância utilizando recursos tecnológicos de forma síncrona (em tempo real) ou assíncrona8.

 

O serviço de fisioterapia do Hospital do Câncer III do Instituto Nacional de Câncer (HCIII/INCA) com o objetivo de manter o acompanhamento das pacientes submetidas ao tratamento cirúrgico do câncer de mama inseriu as teleconsultas em suas atividades assistenciais. Esse atendimento foi realizado por telefone fixo ou celular e, quando necessário, foram utilizados aplicativos que habilitam conversas por vídeo, seja por smartphone ou tablet, buscando as mesmas informações do modelo presencial.

 

 Este estudo tem como objetivo avaliar a percepção das pacientes quanto aos atendimentos por meio da modalidade de teleconsulta no HCIII/INCA, além da compreensão e da adesão em relação às orientações fisioterapêuticas domiciliares no pós-operatório de câncer de mama.

 

MÉTODO

Estudo observacional, de abordagem qualiquantitativa, desenvolvido no ambulatório de fisioterapia do HCIII/INCA, no qual foram incluídas pacientes submetidas ao tratamento cirúrgico do câncer de mama, de março a maio de 2020, que realizaram teleconsultas de forma síncrona para avaliações fisioterapêuticas de seguimento de 30 dias, seis meses e/ou um ano de pós-operatório. Foram excluídas as pacientes com algum déficit cognitivo que impossibilitasse responder aos questionamentos.

 

Para alcançar o objetivo do estudo, as pacientes foram contatadas via ligação telefônica a partir de um ano das teleconsultas.

 

Para análise quantitativa, foram coletadas informações sociodemográficas, clínicas, de tratamento e de complicações pós-operatórias por meio do prontuário clínico das pacientes. Os dados sobre percepção (aceitação e opinião) quanto às teleconsultas, compreensão e adesão às orientações fisioterapêuticas foram obtidos por entrevista utilizando um questionário semiestruturado com respostas que buscavam compreender essa experiência (Quadro 1).

 

Quadro 1. Questionário sobre a percepção das teleconsultas e compreensão e adesão às orientações fisioterapêuticas

Você se sentiu confortável por ter sido atendida pela fisioterapia através de consultas telefônicas ou de vídeo?

( ) Pouco ( ) Mais ou menos ( ) Muito ( ) Não sei

 

Sentiu-se segura com esse tipo de avaliação?

( ) Pouco ( ) Mais ou menos ( ) Muito ( ) Não sei

 

Sentiu-se satisfeita com esse tipo de consulta?

( ) Pouco ( ) Mais ou menos ( ) Muito ( ) Não sei

 

As orientações fornecidas pela fisioterapeuta foram bem compreendidas?

( ) Não ( ) Sim, parcialmente ( ) Sim, totalmente ( ) Não sei

 

Você seguiu as orientações da fisioterapeuta?

( ) Não ( ) Parcialmente ( ) Sim ( ) Não sei

 

Você seguiu as orientações de exercícios domiciliares com os MMSS?

( ) Não ( ) Ocasionalmente ( ) Diariamente

 

Comparando com a consulta presencial, você acha que a teleconsulta é:

( ) Pior ( ) Igual ( ) Melhor ( ) Não sei

 

Você acha que a teleconsulta foi necessária nesse período de pandemia?

( ) Não ( ) Sim ( ) Não sei

 

Você acha que a teleconsulta deve continuar após a pandemia?

 ( ) Não ( ) Sim ( ) Não sei

 

Legenda: MMSS = membros superiores.

 

 

Foi realizada análise descritiva utilizando média e desvio-padrão (DP) para as variáveis contínuas e distribuição das frequências relativa (%) e absoluta (n) para os dados categóricos. Foi utilizado o software SPSS 20.09.

 

Para a avaliação qualitativa, foi aplicada a pergunta aberta: Qual é a sua opinião sobre as consultas de fisioterapia terem sido feitas pelo telefone/vídeo durante a pandemia?” As respostas foram audiogravadas por meio do aplicativo call.center CubeACR©10 e transcritas em sua totalidade. O número de participantes incluídas foi definido pelo princípio da saturação teórica dos dados, sendo interrompido quando o entrevistador constatou que já tinha obtido as informações necessárias11. Para a análise, foi utilizada a técnica da análise de conteúdo proposta por Bardin12.

 

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do INCA sob o número de parecer 4.702.209 (CAAE: 45004621.0.0000.5274). Foram seguidos todos os requisitos de ética relacionados com estudos envolvendo seres humanos, necessários ao seu bom êxito e resguardo relacionados ao sigilo das informações, conforme evidenciado na Resolução n.º 466/1213 do Conselho Nacional de Saúde.

 

RESULTADOS

Entre março e maio de 2020, 217 pacientes foram submetidas ao tratamento cirúrgico do câncer de mama e indicadas para acompanhamento fisioterapêutico por teleconsulta. Após um ano, 82 pacientes não atenderam às ligações telefônicas, cinco haviam ido a óbito, uma não era capaz de responder aos questionamentos por déficit cognitivo, e 129 foram contatadas e aceitaram participar da pesquisa.

 

Foram incluídas no estudo 129 mulheres que participaram de duas teleconsultas de seguimento fisioterapêutico no pós-cirúrgico (mediana). A média de idade das pacientes foi de 56,82 (±12,27) anos. A maioria declarou-se de cor não branca (54,3%), cursou mais de oito anos de estudo (64,3%), não vivia com companheiro (55%), exercia como atividade principal os afazeres do lar (67,4%) e residia na cidade do Rio de Janeiro (55,0%). Em relação aos hábitos de vida, a maioria não fumava (65,9%), não consumia álcool (62,0%) e não praticava atividade física (62,0%) (Tabela 1).

 

A respeito das características clínicas, 79,0% das pacientes foram classificadas com sobrepeso ou obesidade e 54,3% apresentaram estadiamento inicial (< IIB). Quanto ao tratamento cirúrgico, a maioria (65,1%) realizou mastectomia, 51,2%, biópsia do linfonodo sentinela (BLS) exclusiva, 10,9%, BLS seguida de linfadenectomia axilar (LA) e 38%, LA diretamente. Apenas 10,9% da população do estudo realizaram reconstrução mamária. A maioria foi submetida à quimioterapia (72,1%), à radioterapia (71,4%), à hormonioterapia (85,3%), e apenas 13,3% receberam terapia-alvo molecular (Tabela 1).

 

Tabela 1. Características sociodemográficas, clínicas e de tratamento (n=129)

Variáveis

n (%)

Variáveis

n (%)

Idade

 

Estadiamento clínico*

 

Média (DP)

56,82 (12,27)

< IIB

70 (54,3)

Cor da pele

 

≥ IIB

54 (41,9)

Branca

59 (45,7)

Cirurgia mamária

 

Não branca

70 (54,3)

Conservadora

45 (34,9)

Estado civil

 

Mastectomia

84 (65,1)

Com companheiro

58 (45,0)

Abordagem axilar

 

Sem companheiro

71 (55,0)

BLS

66 (51,2)

Escolaridade*

 

BLS+LA

14 (10,9)

< 8 anos

43 (33,3)

LA

49 (38,0)

≥ 8 anos

83 (64,3)

Reconstrução mamária

 

Ocupação*

 

Não

115 (89,1)

Do lar

87 (67,4)

Sim

14 (10,9)

Outras atividades

38 (29,5)

Quimioterapia

 

Cidade de moradia

 

Não

36 (27,9)

Rio de Janeiro

71 (55,0)

Neoadjuvante

45 (34,9)

Outras cidades do Rio de Janeiro

58 (45,0)

Adjuvante

47 (36,4)

Etilismo*

 

Paliativa

1 (0,8)

Não

80 (62,0)

Radioterapia

 

Ex-etilista

13 (10,1)

Não

37 (28,7)

Sim

34 (26,4)

Neoadjuvante

2 (1,6)

Tabagismo

 

Adjuvante

90 (69,8)

Não

85 (65,9)

Hormonioterapia

 

Ex-tabagista

31 (24,0)

Não

19 (14,7)

Sim

13 (10,1)

Neoadjuvante

4 (3,1)

Prática de atividade física*

 

Adjuvante

105 (81,4)

Não

80 (62,0)

Paliativa

1 (0,8)

Sim

37 (28,7)

Terapia-alvo

 

IMC

 

Não

112 (86,8)

Baixo/adequado

27 (21,0)

Neoadjuvante

6 (4,7)

Sobrepeso/obesidade

102 (79,0)

Adjuvante

10 (7,8)

 

 

Paliativa

1 (0,8)

Legendas: DP = desvio-padrão; IMC = índice de massa corporal; BLS = biópsia do linfonodo sentinela; LA = linfadenectomia axilar.

 

Em relação às complicações pós-operatórias, as mais frequentes foram alteração de sensibilidade no trajeto do NICB (75,2%), dor (24,8%), sensação de peso em membro superior (21,7%) e limitação da amplitude de movimento (16,3%) (Tabela 2). De todas as pacientes avaliadas pela teleconsulta, 13 (10,1%) foram encaminhadas para uma consulta ambulatorial em razão do relato de complicação com necessidade de avaliação presencial (linfedema, restrição de movimento e dor crônica).

 

No que diz respeito à percepção das pacientes sobre as teleconsultas, a maioria relatou que se sentiu muito confortável (81,4%), muito segura (72,1%) e muito satisfeita (71,3%). Quanto à comparação entre a teleconsulta e a consulta presencial, 49,6% opinaram que não havia diferença entre as duas modalidades. Para 95,3% das entrevistadas, a teleconsulta foi necessária no período da pandemia e 68,2% relataram que achavam válida a continuidade do modelo de teleconsulta (Tabela 3).

 

Tabela 2. Complicações pós-operatórias (n=129)

Variáveis

n (%)

Dor

 

Não

97 (75,2)

Sim

32 (24,8)

Alteração de sensibilidade NICB*

 

Não

27 (20,9)

Sim

97 (75,2)

Intercostobraquialgia*

 

Não

122 (94,6)

Sim

4 (3,1)

Síndrome da rede axilar*

 

Não

100 (77,5)

Sim

11 (8,5)

Sensação de peso em membro superior*

 

Não

99 (76,7)

Sim

28 (21,7)

Linfedema*

 

Não

117 (90,7)

Sim

11 (8,5)

Limitação da amplitude de movimento

 

Não

Sim

108 (83,7)

21 (16,3)

 

 

Legenda: NICB = nervo intercostobraquial.

(*) Variação no total em virtude dos sem informação.

 

Tabela 3. Aceitação e opinião das pacientes sobre teleconsulta (n=129)

Aceitação e opinião das pacientes sobre teleconsulta

n (%)

Conforto

 

Pouco

6 (4,7)

Mais ou menos

18 (14,0)

Muito

105 (81,4)

Segurança

 

Pouco

11 (8,5)

Mais ou menos

24 (18,6)

Muito

93 (72,1)

Não sei

1 (0,8)

Satisfação

 

Pouco

14 (10,9)

Mais ou menos

23 (17,8)

Muito

92 (71,3)

Diferença entre teleconsulta e consulta presencial

 

Pior

39 (30,2)

Igual

64 (49,6)

Melhor

10 (7,8)

Não sei

16 (12,4)

Necessária no período da pandemia

 

Não

5 (3,9)

Sim

123 (95,3)

Não sei

1 (0,8)

Continuidade da teleconsulta

 

Não

37 (28,7)

Sim

88 (68,2)

Não sei

4 (3,1)

 

 

 

Quanto à compreensão e adesão às orientações fornecidas pelo fisioterapeuta nas teleconsultas, 89,1% das pacientes relataram que as compreenderam totalmente, 66,7% que as seguiram totalmente e 63,6% que realizaram os exercícios de membros superiores diariamente (Tabela 4).

Tabela 4. Compreensão e adesão às orientações fornecidas durante as teleconsultas (n=129)

Orientações fornecidas                                       

n (%)

Compreensão das orientações

Não

Sim, parcialmente

Sim, totalmente

Adesão às orientações

Não

Sim, parcialmente

Sim, totalmente

Adesão aos exercícios orientados

Não

Ocasionalmente

Diariamente

 

1 (0,8)

13 (10,1)

115 (89,1)

 

2 (1,6)

41 (31,8)

86 (66,7)

 

3 (2,3)

44 (34,1)

82 (63,6)

 

Das 129 pacientes, 60 foram incluídas para o estudo qualitativo. Quase por unanimidade, as pacientes relataram que essa modalidade foi necessária, válida e muito importante por evitar a exposição ao vírus no período da pandemia. Além da segurança, outras vantagens mencionadas pela maioria das participantes foram a praticidade e o conforto, por evitar os deslocamentos até a instituição e a economia de tempo e de dinheiro. Algumas ainda ponderaram que a teleconsulta poderia funcionar como uma triagem de pacientes, devendo ser encaminhadas ao hospital as pacientes nas quais alguma alteração fosse identificada.

Algumas falas das pacientes estão expostas a seguir:

Pontos positivos relatados sobre as teleconsultas

Pós-operatório no meio de uma pandemia? Correndo o risco de pegar covid estando operada? Então achei super válido!

Eu vi vantagens. Por que ter que sair de onde estou pra ir aí? É muito longe! Eu fico muito cansada, é muito gasto!

Eu pude resolver por telefone, não perdi tempo indo e voltando do hospital. E tem gente que tem que ir de muito longe! O hospital também está sobrecarregado com muita gente doente. Poupa o tempo do profissional… tipo uma triagem. Pra quem precisa, se não puder resolver por telefone, aí tem que ir. Tem pessoas que precisam de uma atenção especial.

Pontos negativos relatados sobre as teleconsultas

Eu acho que no tempo de pandemia foi algo necessário, mas não substitui o olhar clínico presencial. Avaliar, tocar, fazer o movimento com o paciente… não tem como substituir!

Eu acho que nada substitui o olhar clínico, nada! Você ir ao profissional e ele poder, de fato, olhar para você, te examinar… eu acho que não substitui, não.

 

DISCUSSÃO

Este estudo avaliou a aceitação e a opinião das pacientes sobre a teleconsulta fisioterapêutica, além da compreensão e da adesão às orientações fisioterapêuticas. Essa nova modalidade de atendimento facilita o acompanhamento pós-cirúrgico, permitindo que as pacientes sejam assistidas em sua própria casa. Outras vantagens para as pacientes incluíram redução de custos e de tempo, associados ao deslocamento para o hospital e melhor acessibilidade para as que eram fisicamente incapazes de se deslocar para comparecer à consulta presencial.

 

Observou-se que a maioria das participantes da pesquisa relatou que a teleconsulta foi necessária, válida e muito importante por evitar a exposição ao vírus no período da pandemia, além das vantagens como praticidade e conforto, por evitar os deslocamentos até a instituição, a economia de tempo e de dinheiro. Apesar de a maioria relatar segurança, conforto e satisfação, 30,2% disseram que a teleconsulta é pior do que a consulta presencial por considerarem que o contato físico permite uma melhor avaliação. A respeito da pandemia, 95,3% das pacientes acharam que a teleconsulta foi necessária nesse período.

 

Lawford et al.14, em estudo qualitativo, avaliaram as percepções dos participantes sobre a terapia de exercícios orientada por fisioterapeutas via telefone para pacientes com osteoartrite de joelho, descrevendo experiências positivas, valorizando a comodidade das ligações e a sensação de suporte contínuo e personalizado fornecido pelo fisioterapeuta. Alguns pacientes desse estudo relataram que, embora se sentissem confiantes em realizar os exercícios via telefone, ainda desejavam o contato visual com o fisioterapeuta, seja por videoconferência ou por consulta presencial. No presente estudo, também foi realizada a avaliação por vídeo quando necessária, o que pode ter contribuído para a boa aceitação das pacientes em relação ao conforto, segurança e satisfação.

 

O estudo de Lovo et al.15, que investigou a experiência de pacientes com dor crônica na coluna vertebral durante um novo modelo de avaliação usando telessaúde, observou que a maioria dos participantes se mostrou satisfeita (68,4%) e confiante (63,1%). Grande parte da amostra (79,1%) indicaria a telessaúde para outras pessoas, e 42,1% acharam essa modalidade de atendimento comparável à presencial. Esses dados corroboram os encontrados no presente estudo, no qual 49,6% das pacientes opinaram semelhança entre a teleconsulta e a consulta presencial. Lovo et al.15 sugerem que a telessaúde é um modelo promissor a ser seguido em pesquisas futuras e considerado na prática clínica como uma forma de atendimento capaz de proporcionar melhor acesso aos cuidados.

 

Alguns estudos demonstram que, em condições crônicas, a teleconsulta e o telemonitoramento são instrumentos importantes que proporcionam benefícios para a autogestão de pacientes, dando a eles orientações de como e quando seria realmente necessário entrar em contato com os profissionais de saúde para uma avaliação de sua condição16-19. Esse cenário pode ser aplicável à população do presente estudo com relação ao linfedema, por ser uma complicação crônica bastante comum em pacientes submetidas ao tratamento cirúrgico do câncer de mama.

 

Desde 2010, a OMS20 assegura que a telemedicina tem um grande potencial para melhorar a prestação de serviços de saúde por superar as barreiras de distância e tempo entre profissionais de saúde e pacientes, particularmente em comunidades que possuem difícil acesso aos serviços. Segundo a OMS, as evidências também apontam para importantes benefícios socioeconômicos para pacientes e famílias. Todavia, um grande desafio para essa prática compreende ultrapassar a complexidade humana e fatores culturais que levam alguns pacientes e profissionais de saúde a resistirem à adoção de modelos de atendimento diferentes dos tradicionais21.

 

Sabe-se da importância da avaliação fisioterapêutica em mastologia oncológica, e, assim como no trabalho de Daniel e Sulmasy21, o exame físico ou outro tipo de consulta presencial são considerados essenciais para confirmar um diagnóstico como, por exemplo, o linfedema. Contudo, por causa das restrições de circulação no período da pandemia, a teleconsulta foi uma modalidade de atendimento importante que funcionou como triagem dos pacientes que deveriam ser encaminhados à consulta presencial. Esse entendimento, inclusive, foi mencionado no discurso de uma das participantes entrevistadas. Os autores também enfatizam a importância do tato como elemento terapêutico, e a falta desse recurso pode justificar a sensação de insegurança dos discursos das pacientes entrevistadas no presente estudo.

 

A realização dos atendimentos por modalidade remota deste estudo focou nos mesmos objetivos do atendimento presencial: prevenção ou minimização dos sintomas após a cirurgia do câncer de mama, como limitação dos movimentos dos membros superiores, intercostobraquialgia e/ou parestesia do trajeto do NICB, diminuição de força muscular e fadiga oncológica22. Baroni et al.23, em 2023, afirmaram que a telerreabilitação é uma opção segura e eficaz no manejo das diversas condições musculoesqueléticas.

 

Com o objetivo de analisar a eficácia da telessaúde no tratamento e recuperação do câncer de mama, Kruse et al.24 realizaram uma revisão da literatura e concluíram que as intervenções por essa modalidade apresentam efeitos positivos em pelo menos um domínio entre saúde física, mental, qualidade de vida e do sono. Os autores também apontam que as orientações de exercícios auxiliam na educação e no desenvolvimento de hábitos saudáveis que estão associados à redução do risco de recorrência da doença.

 

Loubani et al.25, mesmo tendo incluído um pequeno número de mulheres após tratamento primário para o câncer de mama em sua pesquisa, acreditam que foi importante oferecer um programa de telerreabilitação durante a pandemia da covid-19 por considerarem que este foi capaz de melhorar a adesão das mulheres ao tratamento, apesar da falta de melhora nos sintomas físicos e emocionais autorreferidos. Para os autores, as restrições da pandemia abriram portas para mostrar que a telerreabilitação é viável e pode ser incorporada ao atendimento convencional em determinadas circunstâncias, o que justificaria, inclusive, uma mudança nas políticas de saúde.

 

No presente estudo, para 10,1% das pacientes, além da consulta de forma remota, foi realizada uma consulta presencial para complementação do atendimento. O estudo de Palm et al.26 mostrou que os atendimentos remoto e presencial podem ser realizados para um mesmo paciente, constatando que um atendimento não exclui o outro, ao contrário, se complementam, e são capazes de gerar resultados efetivos, não apenas em situações de pandemia. Esses autores relatam que o atendimento remoto reduziu os custos de transporte e de tempo, favoreceu a ampliação de atendimento especializado, possibilitou a continuidade de intervenção e conteve a disparidade de saúde.

 

Este é um dos poucos estudos relatados em que houve a avaliação e o acompanhamento fisioterapêutico por teleconsulta de pacientes diagnosticadas com câncer de mama durante a pandemia da covid-19, o que permitiu, por meio de seus resultados positivos, a implementação dessa modalidade em um serviço público de saúde, levando à otimização do acompanhamento pós-cirúrgico e à diminuição de custos para as pacientes.

 

CONCLUSÃO

A modalidade de teleconsulta nas avaliações de seguimento em 30 dias, seis meses e/ou um ano após as cirurgias do câncer de mama gerou percepções de muita segurança, conforto e satisfação às pacientes. A teleconsulta foi considerada necessária no período da pandemia, e a maior parte das pacientes relatou que é válida a continuidade desse modelo de atendimento, tendo boa compreensão e adesão tanto das orientações fornecidas quanto da prática de exercícios domiciliares.

 

CONTRIBUIÇÕES

Todas as autoras contribuíram substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo; na obtenção, análise e interpretação dos dados; na redação e revisão crítica; e aprovaram a versão final a ser publicada.

 

 

DECLARAÇÃO DE CONFLITO DE INTERESSES

Nada a declarar.

 

 

FONTES DE FINANCIAMENTO

Não há.

 

 

REFERÊNCIAS

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Recebido em 9/9/2023

Aprovado em 3/10/2023

 

Editor-associado: Mario Jorge Sobreira da Silva. Orcid iD: https://orcid.org//0000-0002-0477-8595

Editora-científica: Anke Bergmann. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-1972-8777

 

 

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