ARTIGO ORIGINAL

Qualidade dos dados dos Registros Hospitalares de Câncer: Uma Análise dos Casos Cadastrados de Câncer no Brasil entre 2000 e 2020

Quality of data from Hospital Cancer Registries: An analysis of Registered Cancer Cases in Brazil between 2000 and 2020

Calidad de los Datos de los Registros Hospitalarios de Cáncer: Un análisis de los Casos de Cáncer Registrados en el Brasil entre 2000 y 2020

 

 

https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2024v70n1.4568

 

Édnei César de Arruda Santos Junior1; Gulnar Azevedo e Silva2; Natalia Santana Paiva3

 

1,2Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro (IMS). Rio de Janeiro (RJ), Brasil. E-mails: edneicesar2@gmail.com; gulnar@ims.uerj.br. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-6956-6139; Orcid iD: https://orcid.org/0000-0001-8734-2799

3Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (Iesc). Rio de Janeiro (RJ), Brasil. E-mail: nataliapaiva@iesc.ufrj.br Orcid iD: https://orcid.org/0000-0003-0541-4686

 

Endereço para correspondência: Édnei César de Arruda Santos Junior. IMS/Uerj. Rio de Janeiro (RJ), Brasil. CEP 20950-000. E-mail: edneicesar2@gmail.com

 

 

RESUMO

Introdução: O câncer tem um impacto significativo na população brasileira, apresentando elevada incidência e mortalidade no país. Os Registros Hospitalares de Câncer (RHC) são fontes de informações essenciais para a avaliação da assistência oncológica no SUS, possibilitando a condução de pesquisas clínicas-epidemiológicas e a definição de eixos estratégicos para o planejamento das políticas de saúde e ações de vigilância e controle do câncer no país. Objetivo: Avaliar a completude e inconsistência da base de RHC no Brasil, de 2000 a 2020. Método: Estudo descritivo de avaliação da qualidade dos dados de RHC no Brasil. Os dados foram coletados no IntegradorRHC e estão disponibilizados de forma pública pelo Instituto Nacional de Câncer. Utilizou-se o escore de Romero & Cunha para a classificação da qualidade dos dados segundo a completude e inconsistência. Resultados: As piores completudes foram observadas para as variáveis: ocupação, Pathological Tumor-Node-Metastasis (PTNM) e estado da doença ao final do primeiro tratamento em todos os anos de estudo. Em relação às inconsistências, as combinações foram substancialmente zero no período de estudo. Conclusão: A qualidade dos dados do Sistema de Informação de Registros Hospitalares de Câncer (SisRHC), apesar de baixo preenchimento em algumas variáveis, apresenta uma melhoria ao decorrer dos anos. A utilização desses dados deve ser estimulada e pode oferecer subsídios para a vigilância e controle do câncer no Brasil.

Palavras-chave: Confiabilidade dos Dados. Neoplasias/epidemiologia; Registros Hospitalares; Saúde pública; Sistemas de Informação em Saúde.

 

 

ABSTRACT

Introduction: Cancer has a significant impact on the Brazilian population, with a high incidence and mortality. Hospital Cancer Registries (HCR) are essential sources of information to evaluate cancer care provided by SUS, making it possible to conduct clinical and epidemiological researches and define strategic axles to plan health policies, cancer surveillance and control actions in the country. Objective: To evaluate the completeness and inconsistency of the HCR database in Brazil from 2000 to 2020. Method: Descriptive study to assess the quality of data of HCR in Brazil. The public available data were collected on IntegradorRHC at the National Cancer Institute. The Romero & Cunha score was utilized to classify the quality of the data according to completeness and inconsistency. Results: The worst completeness was observed for the following variables: occupation, Pathological Tumor-Node-Metastasis (pTNM) and disease status at the end of the first treatment in all study years. With regard to inconsistencies, the combinations were substantially zero during the study period. Conclusion: The quality of the data of the “Sistema de Informação de Registros Hospitalares de Câncer (SisRHC)” has improved over the years, despite low completeness in some variables. The use of these data should be encouraged and can provide material for cancer surveillance and control in Brazil.

Key words: Data Accuracy; Neoplasms/epidemiology; Hospital Records; Public Health; Health Information Systems.

 

 

RESUMEN

Introducción: El cáncer tiene un impacto significativo en la población brasileña, con una alta incidencia y mortalidad en el país. Los Registros Hospitalarios de Cáncer (RHC) son fuentes esenciales de información para la evaluación de la atención del cáncer en el SUS, posibilitando la investigación clínica y epidemiológica y la definición de ejes estratégicos para la planificación de políticas de salud y acciones de vigilancia y control del cáncer en el país. Objetivo: Evaluar la completitud e inconsistencia de la base de datos del RHC en el Brasil, de 2000 a 2020. Método: Estudio descriptivo para evaluar la calidad de los datos de los RHC en el Brasil. Los datos fueron recogidos de IntegradorRHC y están puestos a disposición del público por el Instituto Nacional del Cáncer. Se utilizó la puntuación de Romero & Cunha para clasificar la calidad de los datos según su integridad e inconsistencia. Resultados: La peor completitud se observó para las siguientes variables: ocupación, Pathological Tumor-Node-Metastasis (pTNM) y estado de la enfermedad al final del primer tratamiento en todos los años del estudio. En cuanto a las incoherencias, las combinaciones fueron prácticamente nulas durante el periodo de estudio. Conclusión: La calidad de los datos del Sistema de Información de Registros Hospitalarios de Cáncer (SisRHC) ha mejorado con los años, a pesar de la baja completitud en algunas variables. El uso de estos datos debe ser estimulado y puede proporcionar ayudas para la vigilancia y control del cáncer en el Brasil.

Palabras clave: Exactitud de los Datos; Neoplasias/epidemiología. Registros Hospitalarios; Salud Pública; Sistemas de Información en Salud.

 

INTRODUÇÃO

O câncer apresenta elevada incidência e mortalidade no Brasil, exigindo grande esforço das autoridades de saúde pública para o seu controle1. A incidência e mortalidade por câncer vêm aumentando de forma expressiva em função das transformações sociodemográficas e epidemiológicas da população, bem como as mudanças nos principais fatores de riscos para a doença1,2.

 

As informações produzidas pelos Registros Hospitalares de Câncer (RHC) são processadas dentro do Sistema de Informação de Registro Hospitalar de Câncer (SisRHC) e alimentam o IntegradorRHC que consolida e disponibiliza os dados hospitalares oncológicos provenientes dos RHC do Brasil3.

 

Os RHC são fundamentais para o monitoramento da situação do câncer no Brasil, uma vez que, além de avaliar a assistência prestada na rede oncológica, auxiliam na pesquisa epidemiológica, clínica e de planejamento4,5. Desse modo, as informações produzidas pelos RHC contribuem para a vigilância do câncer e para a criação de ações de controle no país. Entretanto, diversos sistemas de vigilância em saúde apresentam questões relacionadas à qualidade, com dados incompletos ou insuficientes para o monitoramento adequado da população6,7.

 

No campo da saúde, a qualidade da informação depende da averiguação da confiabilidade de um dado para corresponder à necessidade na qual foi criado. Portanto, os sistemas de informações em saúde corroboram a prevenção, promoção, planejamento e monitoramento de agravos no nível populacional8. O funcionamento de um sistema de informação em saúde e as melhorias nas condições de saúde de uma população são influenciadas conforme o fluxo de informações fidedignas à população que perpassa as gestões municipal, estadual e federal9-11.

 

Considerando a importância de um sistema de informação na saúde pública, os aspectos relacionados à avaliação da qualidade dos dados auxiliam na identificação das fragilidades e potencialidades das informações produzidas no âmbito do direcionamento das políticas públicas de saúde, identificação de população vulnerável, riscos coletivos e impactos de doenças na população e seus territórios12,13.

 

É definido pelo Centers for Disease Control and Prevention que a avaliação de um Sistema de Vigilância abrange atributos qualitativos e quantitativos, e, entre eles, a qualidade dos dados é um dos atributos mais recomendados para análise, principalmente quanto a sua confiabilidade, validade, cobertura e completitude11,14.

 

Este estudo teve como objetivo avaliar a completude e inconsistência da base de RHC no Brasil entre 2000 e 2020.

 

MÉTODO

Estudo descritivo de avaliação da qualidade dos dados de RHC no Brasil. Os dados utilizados foram extraídos no dia 29 de julho de 2023 do IntegradorRHC, uma base de dados não nominais de acesso público, portanto, não necessita da apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa, de acordo com a Resolução n.º 510/201615, do Conselho Nacional de Saúde (CNS). O IntegradorRHC consolida todos os casos de pacientes com diagnóstico confirmado de câncer que realizaram atendimento em uma unidade hospitalar habilitada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.

 

Foram selecionados todos os casos analíticos e sem recidivas de câncer notificados, sendo a primeira consulta realizada entre 1º de janeiro de 2000 e 31 de dezembro de 2020.

 

Para a seleção das variáveis de estudo, optou-se por aquelas que possuíssem o preenchimento obrigatório disponibilizadas dentro da base de dados, visto que é uma conduta padronizada em todos os RHC no Brasil.

Após a coleta de dados, foram calculados dois indicadores para a avaliação da qualidade dos dados presentes no IntegradorRHC baseando-se no guia do Center for Disease and Control para a avaliação de Sistemas de Vigilância em Saúde Pública14: completude e inconsistência.

 

Completude

O cálculo de completude foi realizado a partir da proporção de dados completos preenchidos subtraindo-se a proporção de dados preenchidos como ignorado ou em branco, ou seja, 100% menos a proporção de incompletude para cada ano sob estudo. Para avaliação de completude, utilizou-se o escore proposto por Romero & Cunha16 para classificar as variáveis selecionadas no estudo (Tabela 1).

 

Quadro 1. Escore de Romero & Cunha, correspondência com a completude e inconsistência, e classificação

Escore de Romero & Cunha

Proporção de incompletude

Correspondência com a completude e inconsistência

Classificação

< 5%

100% a 96%

Excelente (E)

5% a 10%

95% a 90%

Bom (B)

10% a 20%

90% a 80%

Regular (R)

20% a 50%

80% a 50%

Ruim (RU)

50%+

50% a 0%

Muito ruim (MR)

 Fonte: Romero e Cunha16.

 

Inconsistência

A proporção de registros com inconsistências (%) foi calculada considerando o número de intervalos de tempo entre as datas registradas que apresentaram algum tipo de inconsistência entre todos os registros, e multiplicado por 100 para cada ano sob estudo. Para classificar as inconsistências, foi utilizado o escore de Romero & Cunha16 (Tabela 1). Os intervalos de tempo considerados para esta análise foram: Data da primeira consulta < Data do diagnóstico durante o período de 12 meses; Data da primeira consulta > Data do início do tratamento posterior a 12 meses; Data do diagnóstico > Data do início do tratamento posterior a 12 meses; Data da primeira consulta > Data do óbito posterior a 12 meses; Data do diagnóstico > Data do óbito posterior a 12 meses; e Data do início do tratamento posterior a 12 meses (Quadro 2).

Considerando as possibilidades de pacientes encaminhados sem diagnóstico, diagnóstico após a cirurgia e diagnóstico após o óbito, optou-se por considerar inconsistentes somente os casos em que a diferença entre as datas fosse maior ou menor que 12 meses a depender da inconsistência, que foi um período considerado suficiente para o diagnóstico, havendo maior probabilidade de serem erros de registro. O ponto de corte de 12 meses foi estabelecido utilizando como referência o estudo de Pinto et al.17.

 

Quadro 2. Variáveis selecionadas e suas condições para definição de inconsistência

Intervalos de tempo considerados como inconsistência nos registros

Data da primeira consulta < Data do diagnóstico

Data da primeira consulta > Data do início do tratamento

Data do diagnóstico > Data do início do tratamento

Data da primeira consulta > Data do óbito

Data do diagnóstico > Data do óbito

Data do início do tratamento > Data do óbito

 

 

As análises foram realizadas no software livre R, versão 4.3.018.

 

RESULTADOS

No período entre 2000 e 2020 foram registrados 3.435.126 casos de câncer no IntegradorRHC, observando um crescimento de 55.753 de 2000 para 172.889 em 2020, com um aumento percentual de 210% ao comparar os casos de câncer cadastrados nos RHC em 2000 e 2020 (Tabela 1).

Entre os blocos de análise da ficha de registro do tumor, as piores completudes encontraram-se nas variáveis ocupação, PTNM19 (Pathological Tumor-Node-Metastasis) e estado da doença ao final do primeiro tratamento em todos os anos

 

Nas variáveis do bloco de identificação do paciente constatou-se completude ruim e muito ruim entre as variáveis raça/cor da pele, escolaridade e ocupação com completude de 43,3%, 67,5% e 41,6%, respectivamente no ano 2000, e de 67,2%, 77,1% e 54,1% em 2020 (Tabela 1).

 

O bloco de caracterização do diagnóstico apresentou completude excelente em quase todas as variáveis, com exceção da variável base mais importante para o diagnóstico que foi classificada como ruim, entretanto, ocorreu uma melhora no preenchimento da variável no decorrer do estudo, atingindo completude de 72,2% em 2020 (Tabela 1).

 

As variáveis clínicas estadiamento clínico do tumor, TNM19 e PTNM19 pertencentes ao bloco de caracterização do tumor foram classificadas com completude ruim durante o período. O estadiamento clínico do tumor apresentou completude de 80,7% no ano 2000 e 73,8% em 2019, já na variável PTNM a completude foi de 57,9% no ano 2000 e 51,3% em 2019 (Tabela 1). Constata-se, portanto, uma queda no preenchimento dessas variáveis.

 

Entre as variáveis do bloco de caracterização do primeiro tratamento, a variável estado da doença ao final do primeiro tratamento apresentou completude oscilante entre muito ruim e ruim, com melhora do preenchimento no seguimento do estudo passando de muito ruim nos anos de 2000 (37,2%) a 2006 (49,2%) para ruim de 2007 (51,6%) a 2020 (53,91%) (Tabela 1).

 

As combinações entre os tempos nas variáveis foram substancialmente zero durante o estudo. O resultado encontrado demonstra que as inconsistências entre as datas no SisRHC são baixas sendo classificadas de acordo o critério de Romero & Cunha16 com grau excelente (Tabela 2).

 

Tabela 1. Proporção de campos preenchidos e completude das variáveis do IntegradorRHC para todos os tipos de câncer, Brasil, 2000-2020

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bloco de variáveis

Câncer*

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

Identificação do paciente

 %

 

 

 %

 

 

 

%

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Idade

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

99,9

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

Sexo

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

Raça/Cor da pele

43,3

MR

50,5

RU

53,8

RU

52,2

RU

54,2

RU

55,1

RU

56,6

RU

60,5

RU

61,0

RU

61,4

RU

63,7

RU

62,2

RU

62,2

RU

63,2

RU

63,9

RU

65,8

RU

66,6

RU

67,1

RU

67,4

RU

67,1

RU

67,2

RU

Escolaridade

67,5

RU

71,2

RU

69,1

RU

70,7

RU

71,5

RU

69,6

RU

67,8

RU

69,2

RU

68,6

RU

68,9

RU

70,5

RU

72,0

RU

75,2

RU

76,2

RU

76,5

RU

76,2

RU

77,4

RU

77,3

RU

77,6

RU

76,1

RU

77,1

RU

Ocupação

41,6

MR

46,2

MR

47,8

MR

49,5

MR

53,9

RU

56,2

RU

55,0

RU

59,7

RU

57,7

RU

56,5

RU

55,4

RU

55,4

RU

54,6

RU

55,1

RU

53,9

RU

53,6

RU

54,6

RU

55,2

RU

55,6

RU

55,0

RU

54,1

RU

UF de procedência

99,4

E

99,6

E

99,5

E

99,6

E

99,7

E

99,8

E

99,8

E

99,8

E

99,7

E

99,9

E

99,7

E

99,5

E

99,2

E

99,3

E

99,4

E

99,3

E

99,6

E

98,9

E

99,5

E

99,4

E

99,6

E

Caracterização do diagnóstico

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

Data da 1ª consulta

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

Data do 1º diagnóstico

99,4

E

98,8

E

98,8

E

98,9

E

99,2

E

99,2

E

99,2

E

98,6

E

98,6

E

98,2

E

97,8

E

97,9

E

98,3

E

98,4

E

98,5

E

98,1

E

98,3

E

98,3

E

98,5

E

98,6

E

98,3

E

Diagnóstico e tratamento anteriores

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

Base mais importante para o diagnóstico

48,5

MR

55,4

RU

58,5

RU

58,2

RU

60,2

RU

62,8

RU

65,6

RU

68,6

RU

69,0

RU

68,8

RU

69,8

RU

68,8

RU

68,6

RU

69,0

RU

69,3

RU

70,5

RU

72,0

RU

73,2

RU

73,2

RU

73,3

RU

72,2

RU

Caracterização do tumor

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

 %

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

Tipo histológico

99,9

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

99,8

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

Estadiamento clínico do tumor (TNM)

80,7

R

79,7

RU

79,4

RU

79,1

RU

78,6

RU

79,9

RU

78,9

RU

79,2

RU

78,2

RU

78,9

RU

77,2

RU

77,3

RU

76,2

RU

76,5

RU

75,2

RU

74,3

RU

73,9

RU

73,2

RU

73,9

RU

73,8

RU

75,2

RU

TNM

73,6

RU

72,3

RU

67,9

RU

68,7

RU

69,5

RU

71,4

RU

69,1

RU

70,4

RU

70,1

RU

71,1

RU

68,7

RU

68,2

RU

67,6

RU

68,3

RU

67,8

RU

66,7

RU

66,5

RU

66,0

RU

66,9

RU

66,8

RU

68,5

RU

PTNM

57,9

RU

56,2

RU

50,4

RU

53,4

RU

52,1

RU

54,5

RU

55,2

RU

55,4

RU

50,5

RU

49,9

MR

50,5

RU

49,8

MR

47,9

MR

49,3

MR

49,6

MR

50,5

RU

51,9

RU

52,2

RU

51,8

RU

51,3

RU

52,2

RU

Caracterização do 1º tratamento

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

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% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

% 

 

Data do início do 1º tratamento

93,1

B

92,6

B

92,7

B

94,3

B

94,0

B

94,0

B

93,4

B

93,1

B

92,9

B

93,0

B

92,9

B

93,3

B

93,2

B

93,4

B

93,5

B

93,5

B

93,5

B

93,4

B

92,7

B

92,1

B

91,3

B

Principal razão para não tratar

98,0

E

98,1

E

98,1

E

98,6

E

98,4

E

97,2

E

91,7

B

95,4

B

91,9

B

90,2

B

85,6

R

94,6

B

97,2

E

97,9

E

97,9

E

97,7

E

97,7

E

97,3

E

97,0

E

97,1

E

97,1

E

1º tratamento recebido

99,3

E

99,7

E

99,9

E

99,9

E

99,9

E

99,9

E

99,7

E

99,2

E

99,1

E

98,9

E

99,0

E

99,1

E

99,0

E

99,0

E

99,0

E

99,3

E

99,2

E

99,2

E

98,9

E

99,1

E

99,0

E

Estado da doença ao final do 1º tratamento

37,2

MR

44,8

MR

43,5

MR

43,2

MR

45,1

MR

48,3

MR

49,2

MR

51,6

RU

50,1

RU

50,2

RU

52,8

RU

52,4

RU

51,8

RU

51,0

RU

52,1

RU

53,0

RU

53,9

RU

54,3

RU

55,0

RU

55,0

RU

53,9

RU

Data do óbito

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

100,0

E

Legendas: Classificação: E = excelente; B = bom; R = regular; RU = ruim; MR = muito ruim.

*Todos os tipos de câncer.


 

 

Tabela 2. Proporção (%) de inconsistências em variáveis combinadas do IntregradorRHC para todos os tipos de câncer, Brasil, 2000-2020.

Inconsistências %

Câncer*

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

Data da primeira consulta < Data do diagnóstico

 

 

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

Data da primeira consulta > Data de início do tratamento

 

 

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

Data do diagnóstico > Data do início do tratamento

 

 

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

Data da primeira consulta > Data do óbito

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

 0,0

E

0,0

E

0

-

0

-

0

-

0

-

0

-

0

-

0

-

0

-

0

-

0,0

E

0

-

0

-

Data do diagnóstico > Data do óbito

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0

-

0

-

0

-

0

-

0

-

0

-

0

-

0

-

0

-

0

-

0

-

Data de início do tratamento > Data do óbito

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0,0

E

0

-

0

-

0

-

0

-

0

-

0

-

0

-

0

-

0,0

E

0

-

0

-

Legendas: Classificação: E = excelente; B = bom; R = regular; RU = ruim; MR = muito ruim.

*Todos os tipos de câncer.

 

 

DISCUSSÃO

Este estudo mostrou uma melhoria na completude das variáveis ao decorrer dos anos. Observa-se que no ano de 2020 a completude das variáveis clínicas teve um aumento quando comparado aos últimos três anos. Em razão da redução no número de procedimentos de rastreio, diagnóstico e tratamento com exceção da quimioterapia para câncer no ano de 2020 quando comparado com 201920, o aumento da completude pode ser atribuído à pandemia de covid-19 que limitou o número de pacientes dentro dos RHC e uma melhor qualificação das fichas de registro do tumor foi possível.

 

A ocorrência do baixo número de dados preenchidos nas variáveis clínicas relaciona-se a uma falha no preenchimento por parte do profissional de saúde, uma vez que ao adentrar em um RHC e iniciar o tratamento oncológico, a doença vai possuir um estadiamento conhecido e consequentemente um TNM e PTNM do tumor. O preenchimento inadequado das variáveis clínicas foi observado em publicações similares sobre avaliação de dados do SisRHC12,17,21-25. Em D’Alessandro e Antoniazzi12, relatou-se piores completudes em TNM e PTNM conjuntamente (35,0%) e estadiamento (26,0%). O estudo realizado por Pinto et al.17 evidenciou completude ruim para as variáveis estadiamento (29,7%) e TNM (49,8%). No estudo de Oliveira et al.21, observou-se completude muito ruim para TNM (77,2%) e ruim para estadiamento (42,2%). O estudo de Lopes-Júnior et al.22 encontrou completude ruim para estadiamento clínico do tumor (45,7%) e muito ruim para TNM (67,8%). No estudo de Keske23, a incompletude média entre os anos de 2017 e 2019 foi ruim (39,5%) para estadiamento clínico do tumor e muito ruim (62,9%) para TNM. Em Cardoso24, mostrou-se completude muito ruim nas variáveis TNM (70,0%), PTNM (58,0%) e estadiamento (52,0%). O estudo de Oliveira et al.25 constatou maior ausência de informação em estadiamento TNM (36,6%).

 

O preenchimento da variável escolaridade é ruim, contudo, observa-se uma melhoria no decorrer dos anos. A completude ruim da escolaridade não está restrita aos RHC, estudos nacionais que avaliaram o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e o Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN) constataram preenchimento ruim da escolaridade26-30.

 

Tendo em vista as disparidades raciais no acesso ao SUS, a completude ruim da variável raça/cor da pele traz à tona um problema crônico do sistema de saúde. A raça/cor da pele é um marcador social de desigualdade31, a falta de informação nessa variável dificulta a criação de políticas públicas específicas para mitigar desigualdades de acesso ao sistema de saúde.

 

A variável ocupação apresentou completude muito ruim e ruim ao longo dos anos, corroborando o observado em estudos similares22,24,32. A baixa completude de dados dessa variável traz barreiras quanto à realização de ações de vigilância em saúde do trabalhador para cânceres de origem ocupacionais, não permitindo obter um perfil das categorias profissionais com maior predominância de câncer.

 

A completude da variável estado da doença ao final do primeiro tratamento melhorou ao decorrer dos anos, entretanto, o preenchimento ainda está inadequado. Estudos realizados anteriormente relatam baixo preenchimento nessa variável17,21,23,25,33. A informação dessa variável é importante para avaliar os tratamentos utilizados e padronizar procedimentos e trocas de experiências entre as Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) e os Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon).

 

As baixas inconsistências entre os tempos podem estar relacionadas a uma maior qualificação no preenchimento de datas para realização de vigilância do câncer, uma vez que as informações presentes nesses dados servem de subsídios para diversos estudos.

 

CONCLUSÃO

A qualidade dos dados do SisRHC para o Brasil apesar do baixo preenchimento em algumas variáveis apresenta uma melhoria no decorrer dos anos. O aumento no preenchimento das variáveis auxilia a vigilância e controle do câncer no Brasil, desde o diagnóstico precoce até o tratamento nas unidades hospitalares.

 

A ausência de informações em alguns campos pode estar relacionada a questões de organização do serviço nos RHC como: digitação incorreta, dificuldade no entendimento do sistema e inexistência de um fluxo de comunicação entre o corpo clínico e os registradores. Vale frisar que o preenchimento da ficha de registro do tumor baseia-se no prontuário do paciente, desse modo, a falta de informações no prontuário influencia diretamente na ausência de informações da ficha de registro do tumor.

 

Este estudo teve como limitações a impossibilidade de avaliar a tendência de completude e de inconsistência, assim como de identificar a duplicidade dos registros. Dessa forma, não foi possível detectar os casos de indivíduos que possuíam mais de um número de prontuário ou quando o nome tenha sido digitado incorretamente. Além disso, incentiva-se a realização de estudos posteriores que avaliem a tendência de completude e de inconsistência da base do SisRHC no Brasil.

 

Contudo, apesar das limitações apontadas, os resultados encontrados na avaliação dos dados do SisRHC demonstram bom preenchimento e baixa inconsistência das variáveis obrigatórias da ficha de registro do tumor. A utilização desses dados deve ser estimulada e a melhora da qualidade das informações dos RHC é essencial para a qualidade do sistema de informação em câncer, condição essencial para assegurar resolutividade à assistência oncológica na rede de serviços do SUS.

 

CONTRIBUIÇÕES

Todos os autores contribuíram substancialmente na concepção e no planejamento do estudo; na obtenção, análise e interpretação dos dados; na redação e revisão crítica; e aprovaram a versão final a ser publicada.

 

DECLARAÇÃO DE CONFLITO DE INTERESSES

Nada a declarar.

 

 

FONTES DE FINANCIAMENTO

Édnei César de Arruda Santos Junior recebeu apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (Capes) - Código de Financiamento 001.

 

 

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Recebido em 19/2/2024

Aprovado em 27/3/2024

 

Editor-associado: Jeane Tomazelli. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-2472-3444

Editora-científica: Anke Bergmann. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-1972-8777

 

 

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