ARTIGO ORIGINAL

 

Registros Hospitalares de Câncer no Brasil: Distribuição e Completude das Informações sobre o Câncer Infantojuvenil, de 2000 a 2022

Hospital-Based Cancer Registries in Brazil: Distribution and Completeness of Information on Childhood Cancer, from 2000 to 2022

Registros de Cáncer Hospitalarios en el Brasil: Distribución y Completitud de la Información sobre Cáncer Infantil, de 2000 a 2022

 

 

https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2025v71n1.4832

 

Nyellisonn Nando Nóbrega de Lucena1; Lecidamia Cristina Leite Damascena2; Ynnaiana Navarro de Lima Santana Quintans3; Luiz Medeiros Araújo Lima Filho4; Ana Maria Gondim Valença5

 

1,2,4Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Centro de Ciências Exatas e da Natureza, Programa de Pós-Graduação em Modelos de Decisão e Saúde. João Pessoa (PB), Brasil. E-mails: nyellisonobrega@hotmail.com; lecidamia@hotmail.com; luiz@de.ufpb.br. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-6524-0908; Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-2128-4757; Orcid iD: https://orcid.org/0000-0001-8841-8433

3UFPB, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. João Pessoa (PB), Brasil. E-mail: ynnaiananavarro@gmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0009-0009-6213-5983

5UFPB, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família. João Pessoa (PB), Brasil. E-mail: anamvalenca@gmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0001-8460-3981

 

Endereço para correspondência: Nyellisonn Nando Nóbrega de Lucena. Rua Sidney Clemente Dore, 333 – Tambaú. João Pessoa (PB), Brasil. CEP 58039-230. E-mail: nyellisonobrega@hotmail.com

 

 

RESUMO

Introdução: O câncer configura-se como um conjunto de doenças com características agressivas e passíveis de disseminação pelos órgãos do corpo. É considerado um dos principais problemas de saúde pública, sendo apontado como causa predominante de morte na maioria da população. Objetivo: Caracterizar o câncer infantojuvenil e verificar a completude das informações na base dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC) no Brasil e em suas Regiões geográficas no período de 2000 a 2022. Método: Estudo observacional, retrospectivo, de base secundária, com abordagem quantitativa. A amostra foi composta de 91.233 casos registrados em diferentes registros de câncer, contidos no Módulo Integrador dos RHC do Instituto Nacional de Câncer, com informações de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos. Resultados: O câncer infantojuvenil foi mais prevalente no sexo masculino (54,2%; n=49.448), nas crianças entre 0 e 4 anos (31,5%; n=28.686) e residentes na Região Sudeste (44,7%; n=40.801). O sistema hematopoiético e reticuloendotelial foi o mais acometido (29,5%; n=26.859) e a quimioterapia foi a terapêutica mais administrada (44,8%; n=40.916). Em 78,8% (n=71.891) dos casos, os serviços especializados cumpriram o prazo estabelecido por lei para início do tratamento oncológico. A maioria das variáveis foi classificada de excelente preenchimento, porém 20% foram consideradas de ruim preenchimento, sendo a Região Sudeste a com maior incompletude de informações. Conclusão: Neoplasias do sistema hematopoiético e reticuloendotelial foram as mais frequentes, acometendo principalmente crianças mais jovens e do sexo masculino, evidenciando-se excelente preenchimento para a maioria das variáveis analisadas.

Palavras-chave: Criança; Adolescente; Neoplasias/epidemiologia; Registro/estatística & dados numéricos.

 

 

ABSTRACT

Introduction: Cancer is a set of diseases with aggressive characteristics that can spread throughout the body’s organs. It is considered one of the main public health issues, being identified as the predominant cause of death in most of the population. Objective: To characterize childhood cancer and verify the completeness of information in the hospital-based cancer registries (HBCRs) database in Brazil and its geographic regions, from 2000 to 2022. Method: Observational, retrospective study of secondary basis, with a quantitative approach. The sample comprised 91,233 cases registered in different cancer registries, contained in the Integrating Module of hospital-based cancer registries of the National Cancer Institute, with information on children and adolescents aged 0 to 19 years. Results: Childhood cancer was more prevalent in males (54.2%; n=49,448), in children between 0 and 4 years old (31.5%; n=28,686), and residents in the Southeast region (44.7%; n=40,801). The hematopoietic and reticuloendothelial system was most affected (29.5%; n=26,859) and chemotherapy was the most administered therapy (44.8%; n=40,916). In 78.8% (n=71,891) of cases, specialized services have met the legal deadline for starting cancer treatment. Most of the variables were classified as excellently completed, however, 20% were considered poorly completed, with the Southeast region being the one with the greatest incompleteness of information. Conclusion: Neoplasms of the hematopoietic and reticuloendothelial systems were the most frequent, affecting mainly younger children and males, showing excellent completion for most of the variables analyzed.

Key words: Child; Adolescent; Neoplasms/epidemiology ; Records/statistics & numerical data.

 

 

RESUMEN

Introducción: El cáncer es un conjunto de enfermedades con características agresivas y capaces de propagarse por los órganos del cuerpo. Es considerado uno de los principales problemas de salud pública, identificándose como la causa predominante de muerte en la mayoría de la población. Objetivo: Caracterizar el cáncer infantil y juvenil y verificar la integridad de las informaciones contenidas en la base de datos de Registros de Cáncer Hospitalarios (RCH) en el Brasil y sus regiones geográficas, en el período de 2000 a 2022. Método: Estudio observacional, retrospectivo, de base secundaria, con enfoque cuantitativo. La muestra estuvo conformada por 91 233 casos registrados en diferentes registros de cáncer, contenidos en el Módulo Integrador de Registros de Cáncer Hospitalarios del Instituto Nacional del Cáncer, con información de niños y adolescentes de 0 a 19 años. Resultados: El cáncer infantil y juvenil fue más prevalente en el sexo masculino (54,2%; n=49 448), en niños entre 0 y 4 años (31,5%; n=28 686) y en residentes de la región Sudeste (44,7%; n=40 801). El sistema hematopoyético y reticuloendotelial fue el más afectado (29,5%; n=26 859) y la quimioterapia fue la terapia más administrada (44,8%; n=40 916). En el 78,8% (n=71 891) de los casos, los servicios especializados han cumplido el plazo establecido por la ley para iniciar el tratamiento del cáncer. La mayoría de las variables fueron clasificadas como excelentemente llenadas, sin embargo, el 20% fue considerado mal llenado, siendo la región Sudeste la que presenta mayor incompletitud de informaciones. Conclusión: Las neoplasias del sistema hematopoyético y reticuloendotelial fueron las más frecuentes, afectando principalmente a niños de menor edad y al sexo masculino, mostrando un excelente llenado en la mayoría de las variables analizadas.

Palabras clave: Niño; Adolescente; Neoplasias/epidemiología; Registros/estadística & datos numéricos.

 

 

INTRODUÇÃO

O câncer configura-se como um conjunto de doenças com características agressivas e passíveis de disseminação pelos órgãos do corpo. É um dos principais problemas de saúde pública, sendo apontado como causa predominante de morte na maioria da população1. Entre crianças e adolescentes, o câncer é considerado preocupante, pois é uma doença de causalidade pouco conhecida e características distintas, o que dificulta sua prevenção2. Tal patologia tem apresentado mundialmente uma estimativa de 400 mil casos3, sendo, no Brasil, estimados 7.930 novos casos a cada ano do triênio 2023-20251.

 

A proporção de morbimortalidade em países desenvolvidos traduz a efetividade do acesso ao diagnóstico e tratamento, pois, mesmo com o aumento do número de casos, a taxa de mortalidade tem diminuído ao longo do tempo4. Porém, 90% das crianças e adolescentes com câncer vivem em países de baixa e média renda, onde os serviços de saúde muitas vezes são precários e inadequados, assim como a existência de sub-registros que não expressam a realidade, comprometendo as estratégias de controle da doença5. Os países em desenvolvimento apresentam inúmeras barreiras nas ações que aproximam o diagnóstico, o tratamento e o acompanhamento de crianças e adolescentes com câncer, visto que as informações referentes a estes casos são ignoradas e que, na maioria das vezes, os dados sobre este tipo de câncer são omitidos da estatística ou agrupados com as neoplasias em adultos6. Mesmo com a presença de registros de câncer nesses países, as informações são subnotificadas, tornando-se necessários dados de outras fontes para compreensão epidemiológica5,7.

 

No Brasil, o monitoramento dos casos de câncer é sistematizado e disponibilizado pelos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP)8, Registros Hospitalares de Câncer (RHC)9 e pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM)10, sendo estes responsáveis pela descrição epidemiológica da doença11.

 

É necessário destacar que, a depender das informações, estas traduzem o perfil e magnitude da doença, como também a qualidade dos cuidados prestados, tornando-se essencial no planejamento, implantação e acompanhamento de políticas públicas, no desenvolvimento de estratégias em saúde e na tomada de decisão beneficiando ações mais adequadas diante das necessidades da população11.

 

Considerando o exposto, este estudo aborda as informações dos RHC, uma vez que é imprescindível verificar as lacunas e a qualidade de informação sobre o câncer no território brasileiro, já que são essenciais para conhecer os perfis assistenciais dos centros de referência para o tratamento da doença e contribuir no planejamento e execução de estratégias mais assertivas no enfrentamento do câncer infantojuvenil. Poucos são os estudos sobre o câncer infantojuvenil no Brasil, e os existentes abordam períodos curtos, em alguns casos com tipos específicos de neoplasias, com perfil epidemiológico ou tendências de incompletude de dados. Partindo disso, a pesquisa apresenta um conhecimento inédito sobre o câncer infantojuvenil no Brasil e em suas Regiões, com caracterização e incompletude de dados de 22 anos de acompanhamento.

 

Portanto, o presente trabalho tem como objetivo caracterizar o câncer infantojuvenil e verificar a completude das informações na base dos RHC no Brasil e em suas Regiões geográficas, no período de 2000 a 2022.

 

MÉTODO

Estudo observacional, retrospectivo, de base secundária, com abordagem quantitativa, o qual apresenta um recorte da tese de doutoramento de um dos autores, tendo como tema central o câncer infantojuvenil no Brasil12. Os dados do estudo foram coletados a partir das informações contidas no Módulo Integrador dos RHC9, disponibilizados pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA). O download das informações foi realizado no dia 18 de maio de 2024, sendo estes dados de acesso público.

 

A população do estudo foi composta por 118.348 registros sobre o câncer de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos, no período de 2000 a 2022. Os dados foram coletados até o ano de 2022, por ser o ano mais recente com registros de dados em todos os meses do ano.

 

Foram incluídos no estudo 91.233 casos registrados em diferentes registros de câncer, sendo considerados elegíveis apenas os casos cadastrados como analíticos (com diagnóstico e tratamento nos hospitais com RHC) para não haver superestimação de registros13, os que tiveram o primeiro diagnóstico de câncer no período de 2000 a 2022 e os que possuíam o Estado de residência.

 

As variáveis analisadas foram extraídas da ficha de registro de tumor, sendo agrupadas, de acordo com sua classificação, em: variáveis demográficas (sexo, idade, cor de pele, Unidade da Federação (UF) da residência do paciente), variáveis assistenciais e do diagnóstico do tumor (base mais importante para o diagnóstico, localização do tumor primário, tipo histológico, data do primeiro diagnóstico) e variáveis relacionadas ao tratamento (data do início do primeiro tratamento específico para o tumor no hospital, razão para não realização do primeiro tratamento no hospital, primeiro tratamento recebido no hospital, estado da doença ao final do primeiro tratamento no hospital).

 

Para uma melhor compreensão do comportamento do câncer infantojuvenil, foi realizada a conversão dos casos elegíveis, baseada na Classificação Internacional do Câncer na Infância, 3ª edição revisada (CICI-3)14.

 

Foi criada também a variável “tempo entre diagnóstico e tratamento”, sendo calculado o intervalo de tempo entre a data do diagnóstico e a data do início do tratamento, porém foram consideradas incompletas, as informações que não possuíam alguma das datas ou que estavam com erro de digitação ocasionando tempo negativo.

 

As informações contidas no banco de dados que apresentaram como resposta “sem informação”, “número 0”, “informação e/ou data desconhecida” ou a ausência da informação foram agrupados na categoria “sem informação” para análise de completude dos dados. Na variável “primeiro tratamento recebido no hospital”, os registros de pacientes que apresentaram mais de uma modalidade terapêutica foram agrupados em “duas ou mais modalidades terapêuticas”.

 

Os dados analisados foram tabulados e organizados em uma planilha do software Microsoft Excel™ viabilizando a análise estatística no software de domínio público R. As variáveis foram descritas mediante frequências absolutas (n) e frequências relativas (%). Os dados foram avaliados quanto à sua incompletude, ou seja, a determinação do percentual de informações ignoradas ou não preenchidas. O grau de preenchimento foi classificado de acordo com um sistema de escores15, estratificado da seguinte maneira: Excelente (incompletude <5%), Bom (5%≤ incompletude <10%), Regular (10%≤ incompletude <20%), Ruim (20%≤ incompletude <50%) e Muito Ruim (incompletude ≥50%).

 

A pesquisa dispensa apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa, pois se trata de um estudo com dados secundários, os quais são públicos e de acesso livre, conforme a Resolução n.º 51016 de 7 de abril de 2016 do Conselho Nacional de Saúde.

 

RESULTADOS

O estudo obteve uma amostra de 91.233 casos registrados em diferentes registros de câncer, com informações oncopediátricas (0 a 19 anos), sendo distribuídos nas Regiões: Norte (8,2%; n=7.498), Nordeste (25,9%; n=23.633), Centro-Oeste (5,1%; n=4.610), Sudeste (44,7%; n=40.801) e Sul (16,1%; n=14.691). A maioria das informações foi pertencente a indivíduos do sexo masculino (54,2%; n=49.448), tendo o Norte com maior representatividade (56,6%; n=4.244). A idade média observada foi de 9,27 anos (± 6,2), com mediana igual a 9 anos, e a faixa etária mais prevalente foi a de 0 a 4 anos (31,5%; n=28.686), enquanto a cor de pele parda foi a mais frequente (29,0%; n=26.429), estando mais presente no Nordeste (59,2%; n=13.994) (Tabela 1).

 

Em nível nacional, é possível destacar incompletude de dados na variável cor de pele (40,7%; n=37.166), sendo esta classificada como preenchimento ruim. As Regiões Sudeste (65,4%; n=26.685) e Centro-Oeste (42,8%; n=1.974) foram as que mais apresentaram falta de informação nessa variável, assim classificadas como de muito ruim e ruim preenchimento, respectivamente.

 

Na Tabela 2, percebe-se que para o diagnóstico do câncer, a confirmação microscópica prevaleceu quando comparada aos demais recursos disponíveis (90,4%; n=82.491), sendo a Região Sudeste (92,3%; n=37.659) a que mais utilizou esta fonte para o diagnóstico. Foi observado que o sistema hematopoiético e reticuloendotelial foi o mais acometido (29.5%; n=26.859), e de acordo com a categorização da CICI-3, as leucemias, doenças mieloproliferativas e doenças mielodisplásicas (27,9%; n=25.431), linfomas e neoplasias reticuloendoteliais (16,4%; n=14.920) e os Tumores de SNC e miscelânea de neoplasias intracranianas e intraespinhais (11,1%; n=10.135) foram as patologias mais retratadas.

 

Quanto aos dados faltantes desta seção, nota-se que as variáveis “base para o diagnóstico” e “localização do tumor primário” foram classificadas como de excelente preenchimento (0,5%; n=399; 0,0%; n=01), respectivamente.

 

De acordo com a Tabela 3, a variável “razão para não realização do primeiro tratamento” possui a subcategoria “não se aplica”, que traduz a possibilidade de o paciente ter realizado o tratamento integral, sendo ela a mais frequentemente observada nos RHC de todas as Regiões brasileiras, em torno de 90% dos casos, sendo o Sudeste a Região com maior adesão (95,6%; n=38.978). A quimioterapia (44,8%; n=40.916), cirurgia (13,1%; n=12.309) e radioterapia (3,1%; n=2.806) foram as modalidades terapêuticas mais realizadas no primeiro tratamento recebido no hospital. Os serviços especializados para tratamento oncológico têm cumprido, em sua maioria, o prazo estabelecido por lei para início do tratamento oncológico (78,8%; n=71.891). Todas as Regiões brasileiras se destacaram com mais de 70% dos casos que iniciaram o tratamento até 60 dias após diagnóstico comprovado. A remissão completa (15,4%; n=13.993) e a estabilidade da doença (14,3%; n=13.011) prevaleceram após esta primeira etapa no ambiente hospitalar. Por fim, nota-se que a Região Sul (30,5%; n=4.483) tem apresentado o maior percentual de pacientes com remissão total da doença.

 

A variável “estado da doença no final do primeiro tratamento no hospital” (47,4%; n=43.224) foi a que apresentou maior percentual de informações incompletas desta sessão, sendo classificada de ruim preenchimento e o Sudeste apresentou a maioria dessas perdas de informações (71,4%; n=29.132), sobressaindo-se como de muito ruim preenchimento. A variável “razão para não realização do primeiro tratamento no hospital” foi considerada de excelente preenchimento (3,3%; n=3.007), porém a Região Sul (6,3%; n=925) e Nordeste (5,7%; n=1.339) foram classificadas de bom preenchimento. Enquanto isto, na variável “primeiro tratamento recebido no hospital”, todas as Regiões foram consideradas como de excelente completude, e no “tempo entre diagnóstico e tratamento” como de bom preenchimento.

 

DISCUSSÃO

O presente estudo observou que a maioria das crianças e adolescentes com câncer é do sexo masculino, com faixa-etária entre 0-4 anos e cor de pele parda, verificou-se também que o sistema hematopoiético e reticuloendotelial foi o mais acometido, e que a maioria dos pacientes realizou o tratamento antineoplásico, este iniciado no prazo determinado pela Lei 12.732/1217. A maioria das variáveis estudadas possui uma completude de dados excelente, a depender das características, estas também foram vistas em outros estudos com RHC de diferentes Regiões do Brasil18-21, porém 20% foram classificadas como ruim preenchimento, sendo a Região Sudeste a com maior incompletude de informações.

 

A predominância do sexo masculino foi observada no presente estudo e em outras pesquisas direcionadas a estados das diferentes Regiões do país12-28 e em estudos internacionais29,30. Apesar da pouca compreensão sobre a maior incidência do câncer infantojuvenil em indivíduos do sexo masculino, estudiosos apontam fatores genéticos e condições imunológicas como possíveis causas31,32.

 

Identificou-se um maior número de registros na faixa etária de 0-4 anos, corroborando outros estudos brasileiros21,24,27,28 e internacionais6,33. A idade é um fator importante de análise, pois a ocorrência de alguns tumores é maior em determinadas faixas etárias, sendo os pacientes nos primeiros anos de vida os mais acometidos34.

 

O presente trabalho demonstrou predominância de indivíduos com cor de pele parda, estando em consonância com estudos desenvolvidos no Estado de Minas Gerais23, Alagoas24, Acre27 e Piauí35. Algumas pesquisas18,26,28 observaram os indivíduos brancos como os mais acometidos pelo câncer infantojuvenil. Esse fato pode ser explicado pelas diferenças de grupos humanos distribuídos no país, sendo a Região Norte e a Nordeste as que mais concentram indivíduos pardos36.

 

Ao analisar a completude das informações nas variáveis demográficas em todo o território brasileiro, percebe-se que sexo e idade possuem excelente preenchimento, corroborando outros estudos nacionais19,37,38, sendo relevante o preenchimento correto, por serem características objetivas e de fácil entendimento19, e por se tratarem de informações essenciais para a vigilância em saúde e para o planejamento de ações de controle da doença39. No entanto, a variável cor de pele foi classificada como de ruim preenchimento, considerando a completude da Região Sudeste como muito ruim. Estudos brasileiros19,21 partilham do aumento na falta de dados dessa característica, fato que necessita de um melhor cuidado, tendo em vista que pode não ser só uma diferença biológica, mas uma construção sociocultural capaz de contribuir para a desigualdade no acesso ao diagnóstico e tratamento antineoplásico19-21.    

 

Em relação aos exames utilizados para o diagnóstico do câncer infantojuvenil, estudos desenvolvidos nos Estados de Minas Gerais23 e Piauí35 revelaram uma maior utilização de exames microscópicos. Estes achados também foram encontrados na presente pesquisa, estando evidentes em todas as Regiões brasileiras. Dessa forma, a realização de exames microscópicos é essencial para orientar o profissional responsável sobre a suspeita do câncer infantojuvenil e assim permitir o encaminhamento para centros especializados em oncologia, responsáveis pela conclusão do diagnóstico definitivo.

 

O presente estudo mostra um maior número de casos do sistema hematopoiético e retículo endoplasmático em todas as Regiões do Brasil, corroborando estudos de diferentes Regiões brasileiras23,35. Porém, é importante destacar uma maior proporção do acometimento de tal sistema na Região Norte, o que pode estar relacionado a uma maior disponibilidade de recursos diagnósticos para neoplasias hematológicas em razão dos exames para comprovação da doença serem menos complexos e de melhor acesso.

 

Ao considerar a CICI-3, foram identificados, no presente estudo, resultados consistentes com outras investigações nacionais18,24-26 e internacionais6,7,30, que consideraram as leucemias, linfomas e tumores de sistema nervoso central (SNC) como as neoplasias mais frequentes. Para os estudos internacionais, os tumores de SNC vêm em segundo lugar, seguido dos linfomas7,29.

 

Ao que concerne à “base mais importante para o diagnóstico”, esta foi de excelente preenchimento, como observado em outros estudos com RHC19,20,37,38,40. A variável “localização do tumor primário” foi classificada como de excelente preenchimento, sendo esta uma característica primordial para o entendimento do processo saúde-doença37.

 

O estudo em questão também mostra que cerca de 90% dos indivíduos diagnosticados com câncer infantojuvenil realizaram o primeiro tratamento antineoplásico no hospital. Diante do achado, é necessário firmar o diagnóstico de maneira precoce para a brevidade do início do tratamento com chances de cura6.

 

De acordo com os dados analisados, houve predominância da modalidade quimioterápica em todas as Regiões brasileiras, seguida da cirurgia e da radioterapia como primeiro tratamento recebido no hospital. Estes achados são corroborados por outros estudos realizados nas Regiões Nordeste24 e Sudeste23, como também um estudo em nível nacional29, enquanto os desenvolvidos no Norte do país mostram a radioterapia como a segunda modalidade mais utilizada22. Diante da necessidade de implementação das políticas de controle do câncer, em 2012 foi publicada a Lei n.º 12.73217, que estabelece o prazo máximo de 60 dias para o início do tratamento, após comprovação diagnóstica de câncer. Assim, o presente estudo identificou que 70% ou mais da população infantojuvenil com câncer iniciaram o tratamento em serviços especializados até o limite de dias estipulado por lei, variando entre 0 e 4.772 dias, com uma mediana de 8 e uma média de 42,4 dias.

 

Foi possível visualizar o tempo entre diagnóstico e tratamento em um estudo realizado com todos os RHC do Brasil, entre 2000 e 2015, sendo observado um intervalo entre 1 e 1.455, com mediana de 2 e média de 15 dias18. Já em outro estudo, realizado em João Pessoa-PB, foi constatado que pacientes pediátricos com tumores sólidos apresentaram um intervalo entre 0 e 77 dias do diagnóstico ao início do tratamento, enquanto com neoplasias hematológicas, variou entre 0 e 37 dias41. Estas diferenças podem ser explicadas a partir da dimensão territorial estudada, além dos serviços envolvidos no tratamento oncopediátrico, pois a cidade de João Pessoa possui um Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) com serviço de oncologia pediátrica. Ressalta-se que alguns Estados, principalmente do Norte e Nordeste, não possuem centros especializados no câncer infantojuvenil, podendo esse fato contribuir para o atraso no diagnóstico e no tratamento adequado.

 

Percebe-se também que 15,4% dos pacientes apresentaram remissão completa do câncer após o primeiro tratamento no hospital, seguido da estabilidade da patologia. As Regiões Sul e Centro-Oeste foram as que apresentaram maior percentual de remissão completa, enquanto a Região Norte registrou um maior número de casos com progressão da doença no final do primeiro tratamento, como também foi a Região onde mais aconteceram óbitos. Um estudo no Estado de Minas Gerais corrobora, em parte, os resultados do presente estudo, pois evidencia um maior número de indivíduos com a estabilidade da doença seguida da remissão completa da doença23.

 

Quanto à completude dos dados, constatou-se que a variável “razão para não realização do primeiro tratamento no hospital” foi classificada como de excelente preenchimento, variando entre a maior perda de informações na Região Sul (bom preenchimento) e a menor incompletude na Região Sudeste (excelente preenchimento). Um estudo desenvolvido na Região Sul40 mostra excelente completude em relação a essa variável, enquanto outros estudos expõem variações na classificação de dados completos18-20,37. Na variável “primeiro tratamento recebido no hospital”, a completude obteve excelente preenchimento em nível nacional, e quando comparadas às Regiões brasileiras. Resultados parecidos foram observados em alguns estudos18-20, o que torna clara a necessidade da informação para seguimento do tratamento antineoplásico, assim como para a avaliação na qualidade da assistência prestada ao paciente.

 

Por fim, nota-se que a variável “estado da doença no final do primeiro tratamento no hospital” foi a que obteve a pior classificação do estudo, sendo considerada de ruim preenchimento. Quando analisada por Região, o Sudeste obteve completude muito ruim. Estudos realizados com dados do RHC pactuam de resultados similares, considerando a variável de ruim preenchimento18-20,37,40, o que expõe a fragilidade dessa informação que é essencial na avaliação da assistência hospitalar prestada aos indivíduos com câncer.

 

Em síntese, a completude dos dados disponibilizados nos RHC, em sua maioria, foi considerada de excelente a bom preenchimento de acordo com a classificação adotada, porém é necessário levar em consideração as diferenças de preenchimento percebidas entre as Regiões brasileiras e a perda extensiva de dados de algumas variáveis para a Região Sudeste.

 

A falta de informação em variáveis importantes pode ocorrer em razão do desconhecimento de informações por parte do acompanhante do paciente, mas também a falta de capacitação dos registradores, a dificuldade de retroalimentação do sistema por parte dos profissionais de saúde e a diferença dos registros clínicos e epidemiológico contidos nos prontuários dos pacientes39.

 

Dessa forma, a melhoria e o aprimoramento da coleta e do preenchimento de dados do registro do câncer têm sido um desafio, visto que pode afetar a interpretação da situação da doença e a identificação de fatores que contribuem para o seu desenvolvimento.

 

As limitações do presente estudo se deram por se tratar de uma pesquisa com dados de base secundária, devendo considerar possíveis vieses de informação e seleção. O acompanhamento por um tempo prolongado (22 anos) pode ocasionar mudanças na padronização da coleta de dados, nas classificações utilizadas para preenchimento e na rotatividade dos profissionais responsáveis pelos registros13. E, ainda, ressalta-se o declínio acentuado nos últimos anos do número de casos registrados, em função do atraso na atualização dos dados dos RHC. Outro aspecto digno de nota é a falta de informações pessoais dos pacientes, o que impossibilita relacionar os dados com outros bancos de dados e tornar as informações completas. Algumas das variáveis apresentaram alto nível de incompletude, isto foi perceptível para a Região Sudeste, tendo em vista uma grande falta de informações no Estado de São Paulo, o que alerta para a falta de integração do SisRHC. Quanto às potencialidades do estudo, estão o tamanho da amostra analisada e a abrangência territorial, permitindo o conhecimento da assistência oncopediátrica no país e em suas Regiões geográficas.

 

Analisar as informações contidas nos RHC possibilitou uma melhor compreensão da distribuição do câncer infantojuvenil no Brasil e em suas Regiões geográficas, identificando possíveis fragilidades no acesso ao tratamento a esta população. Tais informações contribuem não só para o conhecimento científico, mas também para o aperfeiçoamento de políticas públicas e a aplicação de estratégias específicas e assertivas de acordo com a realidade de cada localidade, auxiliando na tomada de decisão por parte dos gestores e dos profissionais envolvidos na atenção ao paciente oncológico pediátrico.

 

 

CONCLUSÃO

Com a análise dos casos registrados em diferentes registros de câncer, constatou-se que a maioria pertencia a crianças e adolescentes do sexo masculino, na faixa etária de 0 a 4 anos e cor de pele parda. O sistema hematopoiético e reticuloendotelial foi o mais acometido, a maioria dos indivíduos realizou o primeiro tratamento no hospital, sendo a quimioterapia a modalidade mais utilizada. Todas as Regiões brasileiras cumpriram o prazo determinado pela Lei dos 60 dias em mais de 70% dos casos.

 

Verificou-se também que a maioria das variáveis foi de excelente preenchimento, porém as informações sobre “cor de pele” e “estado da doença ao final do primeiro tratamento no hospital” foram as que apresentaram o maior percentual de dados faltantes, sendo consideradas de ruim preenchimento, e a Região Sudeste foi a que apresentou a maior incompletude de informações.

 

 

CONTRIBUIÇÕES

Nyellisonn Nando Nóbrega de Lucena, Luiz Medeiros Araújo Lima Filho e Ana Maria Gondim Valença contribuíram substancialmente na concepção e no planejamento do estudo; na obtenção, análise e interpretação dos dados; na redação e revisão crítica. Lecidamia Cristina Leite Damascena e Ynnaiana Navarro de Lima Santana Quintans contribuíram substancialmente na análise e interpretação dos dados; na redação e revisão crítica. Todos os autores aprovaram a versão final a ser publicada.

 

 

DECLARAÇÃO DE CONFLITOS DE INTERESSE

Nada a declarar.

 

 

FONTES DE FINANCIAMENTO

Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (FAPESQ), Termo n.º 222/2024.

 

 

REFERÊNCIAS

1.            Instituto Nacional do Câncer. Estimativa 2023: incidência de câncer no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: INCA; 2022. [Acesso 2024 dez 12]. Disponível em: https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/estimativa-2023-incidencia-de-cancer-no-brasil

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40.         Keske GL. Análise e proposta de gestão para a qualidade de informação do registro hospitalar de câncer do Hospital Universitário de Santa Maria – RS [dissertação]. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria; 2021.

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Recebido em 25/7/2024

Aprovado em 11/11/2024

 

Editora-associada: Jeane Tomazelli. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-2472-3444

Editora-científica: Anke Bergmann. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-1972-8777

 

 

Tabela 1. Características demográficas do câncer infantojuvenil nas Regiões brasileiras, Brasil, 2000-2022

Variáveis

Norte

Nordeste

Centro-Oeste

Sudeste

Sul

Brasil

n

%

n

%

n

%

n

%

n

%

n

%

Sexo

Masculino

4.244

56,6

12.688

53,7

2.458

53,3

21.995

53,9

8.063

54,9

49.448

54,2

Feminino

3.254

43,4

10.945

46,3

2.152

46,7

18.806

46,1

6.627

45,1

41.784

47,8

Sem informação

0

0,0

0

0,0

0

0,0

0

0,0

1

0,0

1

0,0

Total

7.498

100,0

23.633

100,0

4.610

100,0

40.801

100,0

14.691

100,0

91.233

100,0

Faixa etária

0-4 anos

2.483

33,1

7.280

30,8

1.630

35,4

12.435

30,5

4.858

33,1

28.686

31,5

5-9 anos

1.662

22,2

4.862

20,6

897

19,4

7.877

19,3

2.702

18,4

18.000

19,7

10 -14 anos

1.523

20,3

5.045

21,3

926

20,1

8.768

21,5

2.915

19,8

19.177

21,0

15-19 anos

1830

24,4

6446

27,3

1157

25,1

11721

28,7

4216

28,7

25.370

27,8

Total

7.498

100,0

23.633

100,0

4.610

100,0

40.801

100,0

14.691

100,0

91.233

100,0

Cor de pele

Branca

832

11,1

3.735

15,8

920

19,9

6.663

16,4

12.209

83,1

24.359

26,7

Preta

139

1,8

864

3,7

96

2,1

1.196

2,9

315

2,1

2.610

2,9

Amarela

30

0,4

285

1,2

10

0,2

58

0,1

56

0,4

439

0,5

Parda

3.788

50,5

13.994

59,2

1.584

34,4

6.181

15,2

882

6,0

26.429

29,0

Indígena

117

1,6

27

0,1

26

0,6

18

0,0

42

0,3

230

0,2

Sem informação

2.592

34,6

4.728

20,0

1.974

42,8

26.685

65,4

1.187

8,1

37.166

40,7

Total

7.498

100,0

23.633

100,0

4.610

100,0

40.801

100,0

14.690

100,0

91.233

100,0

Fonte: Baseado nos dados dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC): 2000-20229.

 

 

Tabela 2. Características assistenciais e do diagnóstico do câncer infantojuvenil nas Regiões brasileiras, Brasil, 2000-2022

Variáveis

Norte

Nordeste

Centro-Oeste

Sudeste

Sul

Brasil

n

%

n

%

n

%

n

%

n

%

n

%

Base para o diagnóstico

Clínica

73

1,0

210

0,9

69

1,5

254

0,6

315

2,2

921

1,0

Recursos não microscópicos

571

7,6

1.903

8,0

518

11,2

2.796

6,9

1.634

11,1

7.422

8,1

Confirmação microscópica

6.829

91,1

21.384

90,5

3.966

86,1

37.659

92,3

12.653

86,1

82.491

90,4

Sem informação

25

0,3

136

0,6

57

1,2

92

0,2

89

0,6

399

0,5

Total

7.498

100,0

23.633

100,0

4.610

100,0

40.801

100,0

14.690

100,0

91.233

100,0

Localização do tumor primário

Sistema hematopoiéti

co e reticuloendo

telial

3.077

41,1

7.335

31,0

1.219

26,5

10.849

26,6

4.379

29,8

26.859

29,5

Linfonodos

796

10,6

2.760

11,7

480

10,4

4.322

10,6

1.656

11,3

10.014

11,0

Encéfalo

596

7,9

2.311

9,8

583

12,6

4.626

11,3

1.506

10,2

9.622

10,6

Ossos, articulações e cartilagens articulares de membros

527

7,0

1.776

7,5

294

6,4

2.521

6,2

780

5,3

5.898

6,5

Rim

393

5,3

1.293

5,5

261

5,7

2.127

5,2

708

4,8

4.782

5,2

Tecido conjuntivo, subcutâneo e outros tecidos moles

215

2,9

917

3,9

211

4,6

1.595

3,9

558

3,8

3.496

3,8

Olhos e anexos

292

3,9

802

3,4

212

4,6

1.545

3,8

379

2,6

3.230

3,5

Ossos, articulações e cartilagens articulares de outras articulações não especificadas

171

2,3

578

2,4

126

2,7

952

2,3

394

2,7

2.221

2,4

Glândula suprarrenal

86

1,1

289

1,2

108

2,3

1.043

2,6

483

3,3

2009

2,2

Outros

1.345

17,9

5.572

23,6

1.116

24,2

11.221

27,5

3.847

26,2

23.101

25,3

Sem informação

0

0,0

0

0,0

0

0,0

0

0,0

1

0,0

1

0,0

Total

7.498

100,0

23.633

100,0

4.610

100,0

40.801

100,0

14.690

100,0

91.233

100,0

Classificação do câncer (CICI-3)

Leucemias, doenças mieloproliferativas e doenças mielodisplá

sicas

2.913

38,9

6.932

29,4

1.169

25,4

10.267

25,2

4.150

28,2

25.431

27,9

Linfomas e neoplasias reticuloendo

teliais

1.135

15,1

3.830

16,2

697

15,1

6.812

16,7

2.446

16,6

14.920

16,4

Sistema nervoso central e miscelânea de neoplasias intracranianas e intraespinhais

606

8,1

2.272

9,6

598

13,0

5.105

12,5

1.554

10,6

10.135

11,1

Neuroblasto

ma e outros tumores de células nervosas periféricas, tumores do sistema nervoso simpático

190

2,6

807

3,4

183

4,0

1.808

4,4

649

4,4

3.637

4,0

Retinoblasto

ma

242

3,2

687

2,9

187

4,1

1.344

3,3

306

2,1

2.766

3,0

Tumores renais

378

5,0

1.252

5,3

258

5,6

2.211

5,4

716

4,9

4.815

5,3

Tumores hepáticos

80

1,1

223

0,9

49

1,1

426

1,1

143

1,0

921

1,0

Tumores ósseos malignos

663

8,8

2.169

9,2

371

8,0

3.138

7,7

1.031

7,1

7.372

8,1

Tecidos moles e outros sarcomas extraósseos

357

4,8

1.394

5,9

313

6,8

2.858

7,0

796

5,4

5.718

6,3

Tumores de células germinativas, tumores trofoblásticos e neoplasias gonadais

369

4,9

1.262

5,3

311

6,7

2.766

6,8

989

6,7

5.697

6,2

Outros neoplasmas malignos epiteliais e outros melanomas malignos

425

5,7

2.184

9,2

357

7,7

3.585

8,8

1.612

11,0

8.163

8,9

Outras neoplasias malignas e não especifica

das

138

1,8

415

1,8

103

2,2

381

0,9

267

1,8

1.304

1,4

Clinicamente tumor maligno (sem exame microscópico)

02

0,0

205

0,9

14

0,3

100

0,2

29

0,2

350

0,4

Sem informação

00

0,0

01

 0,0

00

0,0

00

0,0

03

0,0

04

0,0

Total

7.498

100,0

23.633

100,0

4.610

100,0

40.801

100,0

14.691

100,0

91.233

100,0

Fonte: Baseado nos dados dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC): 2000-20229.

 

 

Tabela 3. Características do tratamento do câncer infantojuvenil nas Regiões brasileiras, Brasil, 2000-2022

Variáveis

Norte

Nordeste

Centro-Oeste

Sudeste

Sul

Brasil

n

%

n

%

n

%

n

%

n

%

n

%

Razão para não realização do primeiro tratamento no hospital

Recusa do tratamento

12

0,2

12

0,0

04

0,1

42

0,1

19

0,1

89

0,1

Doença avançada, falta de condições clínicas e/ou doenças associadas

55

0,7

75

0,3

18

0,4

188

0,5

31

0,2

367

0,4

Abandono do tratamento

20

0,3

114

0,5

10

0,2

54

0,1

31

0,2

229

0,3

Óbito

143

1,9

471

2,0

62

1,4

508

1,2

305

2,1

1.489

1,6

Outras razões ou complicações do tratamento ou tratamento realizado fora

119

1,6

493

2,1

164

3,5

748

1,8

276

1,9

1.800

2,0

Não se aplica

6.903

92,0

21.129

89,4

4.138

89,8

38.978

95,6

13.104

89,2

84.252

92,3

Sem informação

246

3,3

1.339

5,7

214

4,6

283

0,7

925

6,3

3.007

3,3

Total

7.498

100,0

23.633

100,0

4.610

100,0

40.801

100,0

14.690

100,0

91.233

100,0

Primeiro tratamento recebido no hospital

Nenhum

260

3,5

460

1,9

178

3,9

1.207

3,0

299

2,0

2.404

2,6

Cirurgia

619

8,3

2.756

11,7

726

15,8

5.880

14,4

2.328

15,8

12.309

13,5

Radioterapia

195

2,6

1.024

4,3

234

5,1

805

2,0

548

3,7

2.806

3,1

Quimioterapia

4.090

54,5

11.577

49,1

2.129

46,2

15.969

39,2

7.151

48,8

40.916

44,8

Hormonioterapia

08

0,1

26

0,1

06

0,1

19

0,0

29

0,2

88

0,1

Transplante de medula óssea

07

0,1

21

0,1

02

0,0

55

0,1

16

0,1

101

0,1

Imunoterapia

03

0,0

11

0,0

01

0,0

26

0,1

11

0,1

52

0,1

Duas ou mais modalidades terapêuticas

2.111

28,2

7.238

30,6

1.224

26,5

16.407

40,2

4.083

27,8

31.063

34,1

Outros

166

2,2

419

1,8

63

1,4

413

1,0

151

1,0

1.212

1,3

Sem informação

39

0,5

101

0,4

47

1,0

20

0,0

75

0,5

282

0,3

Total

7.498

100,0

23.633

100,0

4.610

100,0

40.801

100,0

14.690

100,0

91.233

100,0

Tempo entre diagnóstico e tratamento

≤ 60 dias

5.407

72,1

17.547

74,2

3.693

80,1

33.705

82,6

11.539

78,5

71.891

78,8

> 60dias

1.512

20,2

3.823

16,2

603

13,1

4.756

11,7

1.859

12,7

12.553

13,8

Sem informação

579

7,7

2.263

9,6

314

6,8

2.340

5,7

1.293

8,8

6.789

7,4

Total

7.498

100,0

23.633

100,0

4.610

100,0

40.801

100,0

14.690

100,0

91.233

100,0

Estado da doença no final do primeiro tratamento no hospital

Remissão completa

507

6,8

4.580

19,4

1.164

25,3

3.259

8,0

4.483

30,5

13.993

15,4

Remissão parcial

652

8,7

1.199

5,1

186

4,0

1.344

3,3

1.717

11,7

5.098

5,6

Doença estável

2.140

28,5

4.808

20,3

532

11,6

3.347

8,2

2.184

14,9

13.011

14,3

Doença em progressão

733

9,8

1.378

5,8

248

5,4

1.284

3,1

868

5,9

4.511

4,9

Suporte terapêutico oncológico

77

1,0

283

1,2

45

1,0

229

0,6

231

1,6

865

0,9

Óbito

1.219

16,2

3.609

15,3

481

10,4

1.487

3,6

1.253

8,5

8.049

8,8

Não se aplica

305

4,1

893

3,8

191

4,1

719

1,8

374

2,5

2.482

2,7

Sem informação

1.865

24,9

6.883

29,1

1.763

38,2

29.132

71,4

3.581

24,4

43.224

47,4

Total

7.498

100,0

23.633

100,0

4.610

100,0

40.801

100,0

14.690

100,0

91.233

100,0

Fonte: Baseado nos dados dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC): 2000-20229.

 

 

 

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