ARTIGO ORIGINAL

Cuidado Farmacêutico a Pacientes Elegíveis ao Tratamento Oncológico em um Serviço de Triagem Multiprofissional

Pharmaceutical Care for Patients Eligible for Oncological Treatment in a Multiprofessional Triage Service

Atención Farmacéutica a Pacientes Aptos para el Tratamiento Oncológico en un Servicio de Clasificación Multiprofesional

 

 

https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2024v70n4.4881

 

Brenda Oliveira Uchôa1; Camila Monteiro Sousa2; Marta Maria de França Fonteles3; Paulo Goberlanio de Barros Silva4; Paloma Araujo de Lima5; Anderson Dantas Costa6

 

1,2,4,5,6Instituto do Câncer do Ceará, Hospital Haroldo Juaçaba. Fortaleza (CE), Brasil. E-mails: brendauchoa.res@gmail.com; camila.sousa@icc.org.br; paulo_goberlanio@yahoo.com.br; palomaoncoicc@gmail.com; adantascosta4@gmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0009-0006-2626-4495; Orcid iD: https://orcid.org/0000-0001-7430-5438; Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-1513-9027; Orcid iD: https://orcid.org/0009-0004-6165-3627; Orcid iD: https://orcid.org/0009-0006-8208-4384

3Universidade Federal do Ceará, Departamento de Farmácia. Fortaleza (CE), Brasil. E-mail: martafontelesufc@gmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-2570-9265

 

 

Endereço para correspondência: Brenda Oliveira Uchoa. Rua Albano Amaral, 1092 – Manuel Sátiro. Fortaleza (CE), Brasil. CEP 60713-200. E-mail: brendauchoa.res@gmail.com

 

 

RESUMO

Introdução: A incidência e a mortalidade por câncer estão crescendo rapidamente, sendo estimados 28,4 milhões de novos casos até 2040. Com o número crescente de sobreviventes, é importante fornecer assistência de qualidade ao paciente oncológico. O farmacêutico, membro da equipe multiprofissional, atua na prevenção, identificação, correção e redução de possíveis riscos associados à terapia. Objetivo: Refletir sobre como o cuidado farmacêutico direcionado a pacientes elegíveis ao tratamento oncológico contribui para minimizar problemas relacionados a medicamentos (PRM). Método: Foram coletados, por meio de prontuário eletrônico, dados sociodemográficos, clínicos e farmacológicos de pacientes atendidos pelo farmacêutico, durante setembro a novembro de 2022, em um serviço de triagem multiprofissional de um hospital oncológico localizado em Fortaleza/CE. Os medicamentos foram classificados conforme a Classificação Anatômica Terapêutica Química (ATC). Foram identificados os PRM e analisadas as intervenções farmacêuticas. As variáveis foram analisadas utilizando os testes exato de Fisher ou qui-quadrado de Pearson, adotando o intervalo de confiança de 95%, com software SPSS versão 20.0 para Windows. Resultados: A maioria dos pacientes era do sexo feminino (53,82%), idade igual ou superior a 60 anos (59,18%), pardos (85,97%) e procedentes do interior ou Região Metropolitana (86,2%). As principais comorbidades foram hipertensão arterial, diabetes mellitus e doenças cardiovasculares. Houve associação entre polimedicação e idade igual ou superior a 60 anos (p<0,05). Identificaram-se 141 PRM, sendo realizadas 161 intervenções farmacêuticas, principalmente relacionadas à educação do paciente. Conclusão: O cuidado farmacêutico permite a detecção e a resolução de PRM, minimizando efeitos negativos advindos do uso inadequado, contribuindo para qualidade da assistência.

Palavras-chave: Oncologia; Assistência Farmacêutica; Tratamento Farmacológico.

 

 

ABSTRACT

Introduction: Cancer incidence and mortality are growing rapidly, with estimates of 28.4 million new cases by 2040. With the rising number of survivors, it is important to provide high-quality care to cancer patients. The pharmacist, a member of the multidisciplinary team, works to prevent, identify, correct and reduce possible therapy associated risks. Objective: Reflect on how pharmaceutical care to patients eligible for oncological treatment contributes to minimize drug-related problems (DRP). Method: Sociodemographic, clinical and pharmacological data of patients treated by the clinical pharmacist were collected through electronic charts, from September to November 2022, in a multidisciplinary screening service of a reference oncology hospital in Fortaleza, Ceará. The drugs were classified according to the Anatomical Therapeutic Chemical (ATC). DRP have been identified, and pharmaceutical interventions were analyzed. The variables were analyzed using Fisher’s exact test or Pearson’s chi-square test, adopting a 95% confidence level with software SPSS version 20.0 for statistical analysis. Results: The majority of the patients were women (53.82%), aged over 60 years (59.18%), mixed race (85.97%) living in the rural or metropolitan region (86.2%). The most reported comorbidities were high blood pressure, diabetes mellitus and cardiovascular diseases. There was an association between polypharmacy and age equal to or greater than 60 years (p < 0.05). 141 DRP were detected, and 161 pharmaceutical interventions were performed, most of them related to patient education. Conclusion: Pharmaceutical care allows the detection and resolution of DRP, minimizing negative effects arising from inappropriate use, contributing to the quality of care.

Key words: Medical Oncology; Pharmaceutical Services; Pharmacotherapy.

 

 

RESUMEN

Introducción: La incidencia y la mortalidad por cáncer están creciendo rápidamente y se estima que habrá 28,4 millones de casos nuevos para 2040. Ante el creciente número de supervivientes, es importante brindar atención de calidad a los pacientes con cáncer. El farmacéutico, miembro del equipo multidisciplinario, trabaja para prevenir, identificar, corregir y reducir los posibles riesgos asociados a la terapia. Objetivo: Reflexionar sobre cómo la atención farmacéutica dirigida a pacientes elegibles para tratamiento oncológico contribuye a minimizar los problemas relacionados a los medicamentos (PRM). Método: Se recolectaron datos sociodemográficos, clínicos y farmacológicos a través de la historia clínica electrónica de pacientes atendidos por el farmacéutico clínico, durante los meses de septiembre a noviembre de 2022, en un servicio de tamizaje multidisciplinario de un hospital oncológico de referencia en el Norte-Noreste, ubicado en Fortaleza/CE. Los medicamentos se clasificaron según la Clasificación Química Terapéutica Anatómica (ATC). Se identificaron los PRM y se analizaron las intervenciones farmacéuticas. Las variables fueron analizadas mediante la prueba exacta de Fisher o la de ji al cuadrado de Pearson, adoptando un intervalo de confianza del 95%, con el software SPSS versión 20.0 para Windows. Resultados: La mayoría de los pacientes fue de sexo femenino (53,82%), de 60 años o más (59,18%), mestizos (85,97%) y del interior o región metropolitana (86,2%). Las comorbilidades más reportadas fueron hipertensión arterial, diabetes mellitus y enfermedades cardiovasculares. Hubo asociación entre polifarmacia y edad igual o mayor a 60 años (p<0,05). Se identificaron 141 PRM reales y/o potenciales y se realizaron 161 intervenciones farmacéuticas, principalmente relacionadas con la educación del paciente. Conclusión: La atención farmacéutica permite la detección y resolución del PRM, minimizando los efectos negativos derivados del uso inadecuado, contribuyendo a la calidad de la atención.

Palabras clave: Oncología Médica; Servicios Farmacéuticos; Tratamiento Farmacológico.

 

 

INTRODUÇÃO

O câncer é uma doença responsável por um grande número de óbitos no Brasil e no mundo. Diariamente, diversas pessoas são diagnosticadas, seja no estágio inicial da doença ou na proximidade do final de vida. No Brasil, são estimados, para cada ano do triênio 2023-2025, 704 mil casos novos de câncer, incluindo os casos de câncer de pele não melanoma1.

 

Diante da crescente de casos, a Política Nacional para Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC) reforça a necessidade de oferecer cuidado integral a esses pacientes, que envolve desde as ações de prevenção da doença ao seu diagnóstico precoce e a garantia da continuidade do acompanhamento2.

 

O cuidado integral pleno deve ter como base o acolhimento, o estabelecimento de vínculo e a responsabilização da equipe diante do problema de saúde apresentado pelo paciente. A caracterização dos aspectos sociais e clínicos contribui para a criação de ações e estratégias capazes de atender às suas necessidades, tendo em vista a qualidade da assistência3,4.

 

O paciente oncológico pode apresentar, além da neoplasia, outras comorbidades associadas, tais como doenças cardiovasculares, doenças pulmonares, diabetes, infecções bacterianas e/ou fúngicas e distúrbios neurológicos e/ou psiquiátricos (depressão, insônia, convulsões, ansiedade)5. A presença de comorbidades pode ser um importante fator prognóstico e terapêutico, sendo associada a uma menor taxa de sobrevida global para alguns tipos de tumores e ao aumento das chances de complicações pós-terapêuticas6,7.

 

O aparecimento da doença, bem como o seu tratamento, pode acarretar manifestação de alguns sinais e sintomas, como dor, náusea, constipação, dispepsia, tosse, entre outros, podendo prejudicar a qualidade de vida dos pacientes e interferir na adesão ao tratamento8. Dessa forma, torna-se imprescindível a identificação precoce e a disponibilização de abordagens terapêuticas que atendam às suas necessidades biológicas, psicológicas e sociais9.

 

Nesse contexto, a maioria dos pacientes oncológicos tende a fazer uso de diversas combinações terapêuticas, seja para tratamento das doenças crônicas preexistentes ou para controle dos sintomas advindos do tumor e do próprio tratamento10.

 

Apesar de contribuírem para o controle das doenças e o aumento da qualidade de vida, o uso inadvertido de medicamentos pode acarretar interações medicamentosas e reações adversas11. O farmacêutico, como parte integrante da equipe multidisciplinar, trabalha a fim de evitar e solucionar problemas na farmacoterapia, fazendo com que esta seja a mais próxima do ideal, que é quando o medicamento está na dose, via de administração e duração adequadas, é efetivo e não produz um novo problema de saúde, nem agrava um problema de saúde já existente12,13.

 

O farmacêutico torna-se parte fundamental no cuidado ao paciente oncológico, garantindo a qualidade e a segurança da terapia medicamentosa em quaisquer das etapas da doença. As ações impostas no cuidado farmacêutico na oncologia excedem a dispensação ou ainda a manipulação da quimioterapia14. O profissional é o principal instrumento para a qualidade da farmacoterapia individualizada, sua atuação permite identificar dificuldades na adesão ao tratamento, manejar reações adversas e problemas relacionados a medicamentos (PRM) e com isso evitar danos ao paciente15,16.

 

Dada a importância de se conhecer os diferentes aspectos dos pacientes que iniciam o tratamento oncológico, o presente estudo tem por objetivo analisar o cuidado farmacêutico realizado precocemente junto pacientes elegíveis ao tratamento do câncer atendidos no serviço de triagem multiprofissional de um hospital referência em oncologia no Norte-Nordeste, localizado em Fortaleza, Ceará.

 

MÉTODO

Estudo de caráter descritivo retrospectivo qualiquantitativo, realizado em um hospital referência no tratamento oncológico no Norte-Nordeste, localizado no município de Fortaleza (CE).

 

A amostragem foi do tipo não probabilística por conveniência, com recrutamento consecutivo de pacientes elegíveis ao tratamento oncológico que foram atendidos pelo farmacêutico no serviço de triagem multiprofissional, no período de setembro a novembro de 2022.

 

O fluxo de atendimento na Instituição inicia na triagem, onde os pacientes encaminhados ao hospital são avaliados clínica e laboratorialmente pelo enfermeiro e médico. Confirmada a suspeita de neoplasia, o paciente dá seguimento ao tratamento na instituição. Antes de serem encaminhados para a primeira consulta com o médico especialista, o paciente é atendido por uma equipe multiprofissional composta por nutricionista, farmacêutico, psicólogo, assistente social e fisioterapeuta. Cada profissional atende individualmente portando um dispositivo eletrônico (tablet) com acesso ao formulário eletrônico institucional que guia a coleta de dados. Nesse formulário, consta uma sequência de perguntas padronizadas e específicas de cada área profissional. Todas as informações salvas no formulário são registradas instantaneamente no prontuário eletrônico do paciente (PEP). Durante o atendimento com o farmacêutico, entre os dados coletados, estão informações sobre o uso de medicamentos contínuo pelo paciente (dose, posologia, via de administração), presença de comorbidades e histórico de alergias/reações adversas a medicamentos. Além desses dados, é possível, ao final do questionário, registrar as demais informações que o profissional julgar relevantes, que foram relatadas durante a anamnese farmacêutica, bem como as condutas realizadas. Finalizado o atendimento com a equipe multiprofissional, os pacientes são encaminhados para primeira consulta com médico especialista.

 

Foram considerados os seguintes critérios de inclusão: pacientes encaminhados à equipe multidisciplinar atendidos pelo profissional farmacêutico que souberam informar os nomes dos medicamentos de uso contínuo e idade superior ou igual a 18 anos. Foram considerados critérios de exclusão pacientes que não recordaram o nome dos medicamentos de uso contínuo ou que se recusaram a responder às perguntas.

 

Foram consideradas as seguintes variáveis: dados sociodemográficos (sexo, faixa etária, raça e procedência), condição clínica do paciente (comorbidades) e dados farmacoterapêuticos (uso de medicamentos contínuos e histórico de alergias/reações adversas a medicamentos). Os medicamentos de uso contínuo dos pacientes foram classificados farmacologicamente de acordo com a Classificação Anatômica Terapêutica Química (ATC)17 adotada pelo WHO Collaborating Centre for Drug Statistics Methodology. Os PRM identificados pelo farmacêutico no momento do atendimento e registrados no PEP foram classificados de acordo com o Segundo Consenso de Granada18, que segue os princípios de necessidade, efetividade e segurança da farmacoterapia. O PRM pode ser classificado quanto à sua necessidade, caso o paciente sofra um problema de saúde em razão de não receber um medicamento que necessita (PRM 1) ou receber um medicamento que não necessita (PRM 2); efetividade, caso o paciente sofra um problema de saúde em virtude da inefetividade do medicamento em uso não quantitativa (PRM 3) ou quantitativa (PRM 4) e segurança, caso o paciente sofra um problema de saúde por conta da insegurança de medicamento em uso não quantitativa (PRM 5) ou quantitativa (PRM 6)18.

 

As intervenções farmacêuticas foram classificadas segundo Sabater et al.19, sendo divididas em três categorias principais: intervenções relacionadas com a quantidade de medicamentos, a estratégia farmacológica e educação ao paciente.

 

Para a análise estatística, foi criado um banco de dados em uma planilha padrão no Microsoft Excel. Os dados foram expressos em forma de frequência absoluta e percentual. Foi realizado o teste exato de Fisher ou qui-quadrado de Pearson20 (χ2, p>0,05) para avaliar associação entre uso de medicamentos e variáveis sociodemográficas. Todas as análises foram realizadas adotando um nível de confiança de 95% no software SPSS v20.021 para Windows.

 

A coleta de dados e o desenvolvimento do estudo ocorreram após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Instituição onde foi realizada a pesquisa sob o número de parecer 6.152.780 (CAAE: 70795723.6.0000.5528), e desenvolvido dentro dos padrões estabelecidos pela Resolução n° 466, de 12 de dezembro de 201222 e pela Norma Operacional 001/201323 do Conselho Nacional de Saúde. Tendo em vista que a coleta de informações foi de base secundária por meio do PEP, dispensou-se a aplicação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

 

RESULTADOS

Durante o período analisado, foram atendidos 894 pacientes pelo farmacêutico no setor. Destes, 17 pacientes não atenderam aos critérios de inclusão para a pesquisa: 12 pacientes não souberam informar os medicamentos de uso contínuo e cinco possuíam idade menor ou igual a 18 anos. Ao todo, foram incluídos 877 pacientes no estudo.

 

A maioria dos pacientes era do sexo feminino (53,82%), com idade igual ou superior a 60 anos, procedentes do interior ou Região Metropolitana de Fortaleza e que se autodeclararam pardos. Os pacientes relataram ser acometidos por no mínimo uma e no máximo sete comorbidades, sendo as mais relatadas hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia e cardiopatia. Os dados estão descritos na Tabela 1.

 

No que se refere ao uso contínuo de medicamentos, a maioria dos pacientes relatou fazer uso de pelo menos um medicamento (77,5%). Constatou-se que 165 pacientes eram polimedicados (18,8%), ou seja, estavam em uso de cinco ou mais medicamentos, sendo verificada relação estatística entre o uso contínuo de cinco a oito medicamentos e a idade igual ou maior a 60 anos (p<0,05), conforme descrito na Tabela 2.

 

Foram identificados 285 medicamentos utilizados pelos pacientes, sendo as principais classes: bloqueadores dos receptores de angiotensina II, diuréticos, hipoglicemiantes, analgésicos, agentes modificadores de lipídeos e antidepressivos. Os medicamentos mais utilizados estão listados na Tabela 3, conforme a classificação ATC.

 

Ao todo, 90 pacientes (10,26%) relataram possuir histórico de alergia ou reações adversas a medicamentos (RAM).

 

Foram identificados 141 PRM potenciais ou reais pelo farmacêutico, dos quais 45,39 % estavam relacionados à segurança, 29,08% à necessidade e 25,53% à eficácia, conforme a Tabela 4. Foram realizadas 161 intervenções farmacêuticas, classificadas conforme Sabater et al.19, descritas na Tabela 5.

 

DISCUSSÃO

No presente estudo, foi possível observar que a maioria dos pacientes atendidos pelo farmacêutico no serviço de triagem era do sexo feminino. Dado semelhante foi encontrado por Lorenz et al.24, cujas mulheres corresponderam a 53% dos pacientes em início do tratamento oncológico. Segundo a literatura, as mulheres tendem a procurar mais os serviços de saúde, aumentando as chances de detecção precoce das doenças. Os homens, por sua vez, buscam menos as unidades, sendo motivados pelo agravo do seu estado de saúde e tendem a participar menos de ações preventivas e de promoção de saúde25.

 

Em relação à faixa etária, a maioria dos pacientes possuía idade igual ou superior a 60 anos, corroborando o estudo de Silva et al.26. Cerca de 60% dos pacientes acometidos com câncer são idosos e a maior taxa de mortalidade da doença é encontrada nesse grupo populacional27. O acúmulo de fatores de riscos para alguns tipos de câncer e a tendência a uma menor eficácia dos mecanismos de reparação celular podem justificar a maior incidência da doença em idosos28.

 

No que diz respeito à raça, a predominância da amostra foi de indivíduos que se autodeclararam pardos, semelhante ao observado no estudo de Pitas et al.29, cujos autores traçaram o perfil epidemiológico de pacientes oncológicos atendidos em um hospital do nordeste brasileiro. Segundo dados epidemiológicos apresentados no Censo Demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cor ou raça parda é predominante na população cearense30.

 

No período analisado, a maioria dos pacientes referiu ser procedente do interior ou Região Metropolitana. Segundo Xavier et al.31, no Brasil, o atendimento hospitalar, especialmente os serviços de alta complexidade, muitas vezes, requer deslocamentos dos pacientes para outras cidades diferentes das suas residências.

 

Diante dessa realidade, reforça-se que, para atender às demandas dos pacientes oncológicos, é fundamental entender os aspectos biossociais nos quais eles estão inseridos. O conhecimento da sua história de vida, o percurso trilhado nos diferentes pontos de atenção, e suas vivências são fatores importantes para qualificação do cuidado, pois essas particularidades podem influenciar na escolha do melhor regime terapêutico, bem como na adesão ao tratamento32.

 

Quanto à presença de comorbidades, a maioria dos pacientes relatou possuir alguma doença preexistente. Observou-se que estes eram acometidos por no mínimo uma e no máximo sete comorbidades, sendo as mais referidas: hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia, cardiopatia e depressão. Na pesquisa de Montagner et al.33, envolvendo pacientes com diferentes tipos de câncer assistidos em um Centro de Alta Complexidade em Oncologia, a hipertensão arterial também foi a comorbidade mais prevalente, seguida da dislipidemia e diabetes.

 

A presença de comorbidades em pacientes com câncer pode ser um fator importante para a escolha do tratamento, bem como nos seu prognóstico. A menor taxa de sobrevida global em pacientes oncológicos com multicomorbidades associadas já tem sido relatada34. Tais doenças podem induzir alterações capazes de modular o microambiente tumoral, favorecendo a progressão do câncer e a resistência terapêutica, como é o caso da associação entre o diabetes e o risco aumentado para desenvolvimento de alguns tipos de câncer, como os cânceres de mama, colorretal, endometrial e de vesícula biliar35.

 

É importante destacar que a Atenção Primária à Saúde (APS) é a principal porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), funcionando como ordenadora do fluxo dos serviços na rede. Os pacientes são avaliados na APS e, caso haja necessidade, são encaminhados ao serviço especializado. Supõe-se que os pacientes incluídos neste estudo tiveram suas comorbidades detectadas ainda na APS. Contudo, não foi possível identificar com que regularidade é feito o acompanhamento nas unidades.

 

Em relação ao uso de medicamentos, 77,5 % dos pacientes referiram fazer uso de uma ou mais medicações continuamente. Lorenz et al.24 acharam resultado semelhante, no qual 74,1% dos pacientes relataram utilizar um ou mais medicamentos. No presente estudo, as classes de medicamentos mais utilizados foram os bloqueadores dos receptores de angiotensina II (28,39%), diuréticos (21,66%), hipoglicemiantes (19,73%), analgésicos (18,82%), agentes modificadores de lipídeos (17,90%) e antidepressivos (13%).

 

O paciente oncológico está mais propenso a fazer uso de diversos medicamentos, seja para o tratamento de comorbidades preexistentes ou para minimizar as toxicidades do tratamento e sintomas associados à doença, condições que podem diminuir de algum modo a qualidade de vida, merecendo, portanto, a atenção especial dos profissionais de saúde para adequado manejo dessas alterações36.

 

Quanto à polifarmácia, 18,8% dos pacientes atendidos referiram fazer uso de cinco ou mais medicamentos, e foi observada associação entre a polimedicação e a idade superior a 60 anos, semelhante ao estudo de Alves et al.37. O aumento do consumo de medicamentos nessa faixa etária pode ocorrer em decorrência do maior número de comorbidades que acompanham com o avançar da idade38.

 

Apesar de o uso de vários medicamentos ser indicado em algumas condições clínicas, a polifarmácia pode aumentar o risco de resultados negativos em saúde, como interações medicamentosas, não adesão, duplicidade terapêutica e efeitos indesejados que podem piorar o prognóstico do paciente em tratamento oncológico39,40. É importante atestar o uso adequado dos medicamentos, evitando que o paciente utilize terapias das quais não necessita ou sem indicação41.

 

Observou-se que 18,8% atendidos na triagem referiam uso de algum analgésico, dos quais 7,30% estavam em uso de opioides. Tratando-se dos sintomas advindos do câncer, a dor é uma manifestação frequente e debilitante que acomete boa parte dos pacientes oncológicos. O manejo adequado da dor do câncer está relacionado com a melhoria da qualidade de vida e com o aumento da sobrevida dos pacientes42.

 

O farmacêutico é responsável por fornecer informações apropriadas sobre a utilização correta dos medicamentos, bem como os efeitos colaterais advindos do seu uso contínuo, como é o caso do aparecimento da constipação intestinal advinda do uso de opioides. O profissional pode orientar quanto a medidas farmacológicas e dietéticas que minimizem esse efeito43.

 

Neste estudo, 10% dos pacientes atendidos relataram histórico de alergia ou reação adversa a medicamentos. O atendimento com o farmacêutico clínico na triagem contribui para aumentar a segurança do paciente, haja vista que o registro em prontuário diminui as chances da dispensação e administração inadequada do medicamento ao qual o paciente relata possuir alergia.

 

A revisão da farmacoterapia possibilitou a identificação de PRM. Ao todo, foram identificados 141 PRM reais e/ou potenciais, dos quais 45,39 % estavam relacionados à segurança, 29,08% à necessidade e 25,53% à eficácia. Os PRM podem surgir por causa da prescrição, dispensação ou do uso inadequados dos medicamentos16.

 

Em relação ao PRM de segurança, foi possível identificar pacientes em uso prolongado e sem acompanhamento de anti-inflamatórios não esteroidais (AINE), inibidores da bomba de prótons (IBP) e corticoides, bem como uso irracional de antibióticos.

 

Entre os PRM de necessidade, foram identificados pacientes com baixa adesão aos tratamentos de suas comorbidades, como paciente com diabetes, hipertensão descompensada e histórico de infarto agudo do miocárdio, que havia sido suspenso por conta o uso de AAS e dapagliflozina.

 

Já nos PRM relacionados à eficácia, foi possível encontrar pacientes em uso de analgésicos referindo dor não controlada e pacientes em uso de medicamentos, como metformina, cuja forma farmacêutica de liberação prolongada era realizada via sonda enteral. A literatura aponta incompatibilidade desse tipo de apresentação, haja vista possível obstrução da sonda e flutuação de nível sérico do medicamento44.

 

Os PRM interferem na qualidade da farmacoterapia, prejudicando os resultados esperados com os tratamentos selecionados. Dessa forma, o farmacêutico torna-se indispensável para garantir uma melhor assistência visando minimizar tais problemas16. A resolução dos PRM pode ser feita por meio da intervenção farmacêutica (IF), adotando medidas de prevenção e correção dos erros envolvendo o uso de medicamentos junto ao prescritor, cuidador ou paciente45.

 

Neste estudo, foram realizadas 161 IF no período analisado, sendo a maioria relacionada à educação do paciente (78,89%), seguida das intervenções na quantidade de medicamentos (16,76%) e intervenções na estratégia farmacológica (4,35%). Entre as IF realizadas, são citadas as orientações aos pacientes quanto ao risco advindo do uso indiscriminado de medicamentos, as orientações sobre uso racional de antimicrobianos, o reforço sobre a importância do acompanhamento e da adesão ao tratamento das comorbidades, a orientação não farmacológicas para constipação, o aprazamento dos medicamentos a fim de aumentar eficácia e diminuir interações medicamentosas, as orientações quanto à correta administração de medicamentos via sonda enteral, bem como a solicitação junto ao médico de prescrição de medicamentos, tais como para dor e insônia.

 

Diante da complexidade que envolve o paciente oncológico, é essencial reconhecer a importância do acompanhamento cada vez mais individualizado que consiga atender às suas necessidades. De acordo com Sturaro46, o acompanhamento do farmacêutico é uma ferramenta importante para a redução de erros com medicamentos, tornando o tratamento mais eficaz, aumentando a adesão ao tratamento e melhorando a qualidade de vida dos pacientes.

 

A presença do farmacêutico é uma realidade na maioria dos serviços de oncologia. Sua atuação vai além do gerenciamento ou manipulação de quimioterápicos, ele está envolvido no cuidado direto ao paciente oncológico, assegurando resultados clinicamente apropriados na farmacoterapia e melhorando a qualidade do serviço prestado47.

 

O farmacêutico clínico na triagem permitiu a realização precoce da revisão da farmacoterapia, oferecendo mais segurança ao paciente. Foi possível detectar desde cedo a presença de PRM reais ou potenciais e, por meio das IF, fornecer orientações corretas quanto ao uso adequado dos medicamentos, bem como solicitar, quando necessário, ajustes na terapia junto aos prescritores.

 

Uma limitação neste estudo se deve ao fato de não ter sido possível avaliar se todos os medicamentos de uso contínuo dos pacientes eram realmente necessários ou não, e saber se as recomendações e intervenções do farmacêutico foram realmente aceitas pelos pacientes e cuidadores.

 

CONCLUSÃO

A caracterização dos aspectos sociais e clínicos dos pacientes oncológicos podem viabilizar ações e estratégias que visam atender às suas necessidades, melhorando a qualidade da assistência. Foi possível observar que o farmacêutico clínico na triagem contribuiu no cuidado do paciente junto à equipe multiprofissional, demonstrado, por meio das intervenções farmacêuticas, que foram realizadas a fim reduzir e resolver os PRM detectados. A atuação clínica do farmacêutico no serviço, portanto, tem o potencial de contribuir para a garantia do acesso e do uso seguro dos medicamentos, assim como para a otimização da farmacoterapia e para a promoção da saúde e bem-estar dos pacientes que iniciam o tratamento oncológico.

 

 

CONTRIBUIÇÕES

Todos os autores contribuíram substancialmente na concepção e no planejamento do estudo; na obtenção, análise e interpretação dos dados; na redação e revisão crítica; e aprovaram a versão final a ser publicada.

 

 

DECLARAÇÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES

Nada a declarar.

 

 

FONTES DE FINANCIAMENTO

Não há.                     

 

 

REFERÊNCIAS

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Recebido em 22/8/2024

Aprovado em 11/11/2024

 

Editor-associado: Mario Jorge Sobreira da Silva. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-0477-8595

Editora-científica: Anke Bergmann. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-1972-8777

 

 

Tabela 1. Perfil sociodemográfico e clínico dos pacientes atendidos pelo serviço de Farmácia clínica

Gênero

n

%

Masculino

405

46,18

Feminino

472

53,82

Total

877

100

Idade

n

%

< 60anos

358

40,82

60 anos ou +

519

59,18

Total

877

100

Procedência

n

%

Fortaleza

121

13,8

Interior / Região Metropolitana

756

86,2

Total

877

100

Raça

n

%

Branca

121

13,8

Parda

754

85,97

Preto

2

0,23

Total

877

100

Número de comorbidades

n

%

0

315

35,92

1

214

24,4

2

150

17,1

3

100

11,4

4

53

6,04

5

34

3,88

6

9

1,03

7

2

0,23

Total

877

100

Comorbidades

n

%

Hipertensão arterial sistêmica

389

44,36

Diabetes mellitus

181

20,64

Dislipidemia

165

18,81

Cardiopatia

90

10,26

Depressão

41

4,68

Hiperplasia prostática benigna

33

3,76

Osteoporose

29

3,31

Artrite/Artrose

23

2,62

Hipotireoidismo

23

2,62

Acidente vascular sistêmico

10

1,14

Outras

102

11,62

Nota: Dados expressos em forma de frequência absoluta e percentual.

 

 

Tabela 2. Idade dos pacientes polimedicados incluídos no estudo

Quantidade de medicamentos

< 60 anos

(n; %)

+ 60 anos

(n; %)

5

20 (5,59%)

43 (8,30%)*

6

11 (3,07%)

33 (6,37%)*

7

5 (1,40%)

14 (2,70%)*

8

6 (1,68%)

16 (3,09%)*

9

0 (0,00%)

4 (0,77%)

10

2 (0,56%)

5 (0,97%)

11

1 (0,28%)

2 (0,39%)

12

1 (0,28%)

2 (0,39%)

Total

46

119

Legenda: *p<0,05, teste exato de Fisher ou qui-quadrado de Pearson (n, %).

Nota: Dados expressos em forma de frequência absoluta e percentual.

 

 

 

 

Tabela 3. Classificação ATC dos medicamentos utilizados pelos pacientes atendidos pelo farmacêutico

Grupo

Subgrupo farmacológico

n

%

Aparelho cardiovascular

Bloqueadores do receptor de angiotensina II

249

28,39

Aparelho cardiovascular

Diuréticos

190

21,66

Aparelho digestivo e metabolismo

Insulinas/Hipoglicemiantes

173

19,73

Sistema nervoso

Analgésicos

(Analgésicos opioides)

(Analgésicos não opioides)

165

(64)

(101)

18,82

(7,30)

(11,52)

Aparelho cardiovascular

Agentes modificadores de lipídeos

157

17,90

Sistema nervoso

Antidepressivos

114

13,00

Aparelho cardiovascular

Beta bloqueadores

111

12,66

Aparelho cardiovascular

Bloqueadores canais de cálcio

80

9,12

Sangue e órgãos hematopoiéticos

Agentes antitrombóticos

79

9,01

Aparelho digestivo e metabolismo

Inibidores bomba de prótons

 

77

8,78

Aparelho cardiovascular

Inibidores da enzima de conversão da angiotensina

77

8,78

Aparelho geniturinário e hormônios sexuais

Medicamentos para hiperplasia prostática benigna

74

8,44

Sistema musculoesquelético

Anti-inflamatórios não esteroidais

 

71

8,10

Aparelho digestivo e metabolismo

Medicamentos para

desordens gastrointestinais

49

5,59

Sistema nervoso

Ansiolíticos

45

5,13

Sistema nervoso

Antiepiléticos

43

4,90

 

Outros

266

30,25

Nota: Dados expressos em forma de frequência absoluta e percentual.

 

 

Tabela 4. Problemas relacionados a medicamentos identificados pelo farmacêutico clínico em atendimento ambulatório no período de setembro a novembro de 2022

Problemas relacionados a medicamentos

n

%

Necessidade

PRM 1

35

24,82

PRM 2

6

4,26

Efetividade

PRM 3

22

15,60

PRM 4

14

9,93

Segurança

PRM 5

61

43,26

PRM 6

3

2,13

Total

141

100

Legenda: PRM = Problemas relacionados a medicamentos.

Nota: Dados expressos em forma de frequência absoluta e percentual.

 

 

Tabela 5. Perfil de Intervenções realizadas pelo farmacêutico clínico

Intervenções farmacêuticas

n

%

Intervenções na quantidade de medicamentos

Intervir na quantidade do medicamento

3

1,86

Alterar a posologia

11

6,83

Alterar a frequência da administração

13

8,07

Intervenções na estratégia farmacológica

Adicionar medicamento(s)

6

3,73

Retirar medicamento(s)

1

0,62

Substituir medicamento(s)

0

0

Intervenções de educação ao paciente

Educar sobre o uso do medicamento

85

52,80

Alterar atitudes em relação ao tratamento

28

17,39

Educar em medidas não farmacológicas

14

8,70

 

Total

161

100

Nota: Dados expressos em forma de frequência absoluta e percentual.

 

 

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