ARTIGO ORIGINAL

 

Análise Retrospectiva da Técnica de Banda de Dosagem em Hospital Público do Agreste de Pernambuco

Retrospective Analysis of the Dose Banding Technique in a Public Hospital in the Agreste of Pernambuco

Análisis Retrospectivo de la Técnica de Banda de Dosis en un Hospital Público de la Región Agreste de Pernambuco

 

 

https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2025v71n4.5177

 

Igor José de Souza Marques1; Victor Emmanuel Guilherme de Albuquerque Almeida2; Ellison Neves de Lima3

 

1,3Centro Universitário Tabosa de Almeida (Asces-Unita). Caruaru (PE), Brasil. E-mails: igorjosedesouzamarques@gmail.com; ellisonlima@asces.edu.br. Orcid iD: https://orcid.org/0009-0009-1716-9156; Orcid iD: https://orcid.org/0000-0003-1742-8364

2Instituto de Câncer Infantil do Agreste (ICIA). Caruaru (PE), Brasil. E-mail: v.e.almeida27@gmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-9779-4972

 

Endereço para correspondência: Igor José de Souza Marques. Rua João Napoleão, 114 – Divinópolis. Caruaru (PE), Brasil. CEP 55010-410. E-mail: igorjosedesouzamarques@gmail.com

 

 

RESUMO

Introdução: A técnica de banda de dosagem padroniza doses de medicamentos anticâncer, arredondando-as em faixas predefinidas. Essa abordagem visa otimizar recursos, reduzir desperdícios e garantir segurança no preparo das quimioterapias. Criada no Reino Unido, a banda de dosagem permite preparar doses de forma mais rápida e econômica, com variações controladas, aumentando a oferta de serviços sem elevar custos ao sistema de saúde. Pactuada entre a equipe multidisciplinar, essa abordagem facilita a gestão do tratamento oncológico, mantendo sua eficácia e segurança. Objetivo: Analisar a amostra de acordo com a técnica de banda de dosagem em hospital público do Agreste de Pernambuco. Método: Para identificar os antineoplásicos com banda de dosagem mais prováveis de impactar o serviço de produção das preparações farmacêuticas, três critérios (limite de viabilidade) indicando os possíveis antineoplásicos a serem produtos viáveis foram utilizados para considerar a aplicabilidade da técnica conforme banda de dosagem logarítmica: (a) preparações antineoplásicas ≥150 por ano; (b) doses individualizadas ≥10 por banda de dosagem; (c) total de faixas de dose 5 que abrange um total ≥60% de todas as doses individualizadas para determinado medicamento. Resultados: No total, nove antineoplásicos apresentaram viabilidade de acordo com o estudo: ciclofosfamida, cisplatina, docetaxel, doxorrubicina, fluorouracil-bólus, fluorouracil-bomba, gencitabina, irinotecano, oxaliplatina e paclitaxel. A carboplatina não obteve resultados para atingir viabilidade para produção por banda de dosagem. Conclusão: necessidade de mais pesquisas sobre performance das tecnologias e processos para aplicabilidade da técnica de banda de dosagem.

Palavras-chave: Antineoplásicos/administração & dosagem; Farmacoeconomia; Hospitais Públicos; Preparacões Farmacêuticas.

 

 

ABSTRACT

Introduction: The dose banding technique standardizes doses of anticancer drugs, rounding them into predefined bands. This approach aims to optimize resources, reduce waste, and ensure safety in the preparation of chemotherapy. Created in the United Kingdom, dose banding allows doses to be prepared more quickly and economically, with controlled variations, increasing the supply of services without increasing costs to the health system. Agreed upon by the multidisciplinary team, this approach facilitates the management of cancer treatment, maintaining its efficacy and safety. Objective: Analyze the sample using the dose banding technique in a public hospital located in the Agreste region of Pernambuco. Method: To identify the antineoplastics with dose banding most likely to impact the production service of pharmaceutical preparations, three criteria (limit of viability) indicating the possible antineoplastics to be viable products were used to consider the applicability of the technique according to logarithmic dose banding: (a) antineoplastic preparations ≥ 150 per year; (b) individualized doses ≥ 10 per dose banding; (c) total dose bands ≤ 5 covering a total of ≥ 60% of all individualized doses for a given drug. Results: A total of nine antineoplastics showed viability according to the study: cyclophosphamide, cisplatin, docetaxel, doxorubicin, fluorouracil-bolus, fluorouracil-pump, gemcitabine, irinotecan, oxaliplatin, and paclitaxel. Carboplatin results were not enough to achieve viability for production through dose banding. Conclusion: There is a need for more research on the performance of technologies and processes for the applicability of the dose banding technique

Key words: Antineoplastic Agents/ administration & dosage; Economics, Pharmaceutical; Hospitals, Public; Pharmaceutical Preparations.

 

 

RESUMEN

Introducción: La técnica de banda de dosis estandariza las dosis de fármacos anticancerígenos, redondeándolas a rangos predefinidos. Este enfoque busca optimizar recursos, reducir el desperdicio y garantizar la seguridad en la preparación de la quimioterapia. Creada en el Reino Unido, la banda de dosis permite preparar las dosis de forma más rápida y económica, con variaciones controladas, lo que aumenta la oferta de servicios sin incrementar los costos para el sistema sanitario. Consensuado por el equipo multidisciplinario, este enfoque facilita la gestión del tratamiento del cáncer, manteniendo su eficacia y seguridad. Objetivo: Analizar la muestra según la técnica de bandas de dosis en un hospital público de la región de Agreste, Pernambuco. Método: Para identificar los antineoplásicos con bandas de dosis con mayor probabilidad de impactar en el servicio de producción de preparados farmacéuticos, se utilizaron tres criterios (límite de viabilidad) -que indicaban los posibles antineoplásicos para ser productos viables- para considerar la aplicabilidad de la técnica según banda de dosis logarítmica: (a) Preparaciones antineoplásicas ≥ 150 por año; (b) Dosis individualizadas ≥ 10 por banda de dosis; (c) Total del franjas de dosis ≤ 5 que cubre un total ≥ 60% de todas las dosis individualizadas para un medicamento dado. Resultados: Un total de nueve antineoplásicos mostraron viabilidad según el estudio: ciclofosfamida, cisplatino, docetaxel, doxorrubicina, fluorouracilo (bolo), fluorouracilo (bomba), gemcitabina, irinotecán, oxaliplatino y paclitaxel. El carboplatino no obtuvo resultados para lograr la viabilidad para la producción por banda de dosis. Conclusión: Existe la necesidad de más investigación sobre el desempeño de tecnologías y procesos para la aplicabilidad de la técnica de banda de dosis.

Palabras clave: Antineoplásicos/administração & dosagem; Economía Farmacéutica; Hospitales Públicos; Preparaciones Farmacéuticas .

 

 

INTRODUÇÃO

O câncer é entendido como um estado patológico cuja característica principal é o descontrole relacionado à divisão celular causada por alterações nos mecanismos de controle do ciclo celular¹. É um conjunto de mais de 100 doenças diferentes compreendidas pela sociedade como algo frequentemente associado ao risco de morte². Podendo ser originado em qualquer parte do corpo, o câncer tem início em células normais que crescem conforme a necessidade. Contudo, células danificadas podem crescer e se multiplicar descontroladamente, podendo migrar para tecidos adjacentes, órgãos vizinhos ou distantes, causando metástases³,4.

 

O câncer no mundo atualmente vitima mais de 10 milhões de pessoas ao ano5. É uma doença degenerativa que afeta várias dimensões da vida e causa grande impacto financeiro para o paciente e familiares, podendo acometer cerca de uma em cada quatro pessoas ao longo da vida, sendo o responsável por mais de 25% de todas as mortes ocorridas em adultos6,7. Estima-se um salto de 337 mil novos casos de câncer em 2002 para 704 mil em 20258,9. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA)10, entre 2023 e 2025, o Brasil terá cerca de 2,1 milhões de novos casos da doença. Pernambuco terá aproximadamente 74 mil novos casos e o Agreste, uma das subdivisões do Estado, apresentará por volta de 21 mil novos casos11,12.

 

O tratamento do câncer envolve modalidades como cirurgia, radioterapia, quimioterapia, imunoterapia, terapia-alvo, hormonioterapia e transplante de medula óssea, todas associadas a custos elevados. Novas tecnologias aumentam ainda mais esses custos, projetando um cenário insustentável que ameaça o acesso ao tratamento oncológico. Assim, a sustentabilidade no acesso a medicamentos oncológicos tornou-se um desafio global, afetando também países desenvolvidos, que enfrentam dificuldades para garantir tratamentos onerosos a todos os pacientes13. Para promover saúde de qualidade, são necessárias ações preventivas e de detecção precoce do câncer, visando tratamentos com menor custo, já que a terapia oncológica é de alto custo para o Sistema Único de Saúde (SUS) e um desafio para a gestão do Ministério da Saúde14.

 

Segundo Boscato7, a Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) busca a obtenção do máximo de benefício com o mínimo de despesa, promovendo racionalidade baseada na equidade para a utilização dos recursos. Desse modo, a farmacoeconomia é uma ciência da área da economia da saúde que tem como principal objetivo a realização de métodos econômicos a respeito das terapias medicamentosas. Nesse sentido, a banda de dosagem (BD) é uma técnica que busca gerar no preparo das quimioterapias e terapias-alvo a economia de tempo e de recursos possibilitando maior oferta de serviço sem impactar o custo financeiro para o sistema de saúde, sendo pactuada entre todos os membros da equipe de profissionais envolvidos no processo farmacoterapêutico oncológico15.

 

Durante o tratamento farmacoterapêutico, a dose ideal depende de variáveis específicas do medicamento, da doença e do paciente, sendo essencial para equilibrar o efeito terapêutico e a toxicidade dos antineoplásicos16. Segundo Pinkel17, a dose baseada na área de superfície corporal (BSA) é mais adequada para antineoplásicos, pois há semelhança entre doses por BSA em animais e humanos, diferentemente das doses por peso, que variam entre espécies e idades. Na BD, as preparações de antineoplásicos são produzidas com doses arredondadas para baixo ou para cima, com intuito de obter a padronização das doses de medicamentos citostáticos manipulados para utilização sob protocolo sempre que possível, não acarretando resultados negativos de saúde para o paciente15.

 

A BD é um sistema no qual os profissionais de oncologia, por meio de consenso, adotam arredondamentos padronizados das doses de quimioterapia, para cima ou para baixo, em faixas predefinidas, substituindo o cálculo tradicional baseado na BSA. Essa padronização, baseada em método logarítmico descrito por Zavery e Marsh15, é aplicada na preparação das bolsas quimioterápicas segundo protocolos estabelecidos18. Desenvolvida no Reino Unido em 1998 por Baker e Jones, a BD foi inicialmente aplicada ao metotrexato e ao 5-fluorouracil, com o objetivo de reduzir o tempo de espera dos pacientes ambulatoriais. Utilizando intervalos de BSA de 0,05 m², todos os pacientes com BSA entre 1,80 e 1,85 m², por exemplo, recebiam a mesma dose (1.125 mg), respeitando uma variação máxima de 5% em relação à dose individualizada15. Baker e Jones concluíram que a BD permitiria preparar até 95% das misturas citostáticas, passando a implementar o método. Atualmente, é considerado um sistema seguro, capaz de fornecer preparações antineoplásicas com resultados comparáveis aos da manipulação personalizada15,18. Na prática, a BD admite uma variação acordada de ±5% a 10% entre a dose prescrita e a dose administrada, com a concordância de toda a equipe envolvida18,19. Assim, a dose personalizada com base na BSA é agrupada em faixas de dose pré-definidas, adotando-se como referência o ponto médio da faixa, com o objetivo de reduzir desperdícios e custos do tratamento19.

 

Desde sua introdução, a BD evoluiu para dois modelos principais: o britânico, que utiliza várias bolsas de baixas doses combinadas para atingir a dose-alvo, e o francês, que adota bolsas de altas doses para uso único por aplicação15,20. O modelo britânico, criado no Reino Unido e hoje presente em mais de 50 hospitais, usa doses fixas e baixas, respeitando o limite de até três unidades por dispensação, e para anticorpos monoclonais admite variação de ±5% na dose dispensada, não ultrapassando ±10%15,20,21. O Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra (NHS) permite variação máxima de 6% da dose prescrita e usa volumes compatíveis com frascos para reduzir desperdícios19,22. Apesar de ser o mais adotado e documentado, o modelo inglês possui dispensação mais complexa, aumentando o risco de erros na administração ambulatorial15. Inspirado nele, o modelo francês prepara doses-padrão maiores, dispensando apenas uma bolsa ou seringa por prescrição, o que reduz a carga de trabalho da enfermagem e possíveis erros15,20. Estudos farmacocinéticos indicam variação de até 10% entre dose prescrita e dispensada, com aceitação de até 20% em alguns casos, sem diferenças entre doses baseadas em BSA ou bandeamento15. A menor complexidade do modelo francês pode explicar sua menor taxa de erros na administração15,20.

 

Este estudo tem o objetivo de analisar restrospectivamente as dosagens prescritas dos antineoplásicos de acordo com a técnica de BD em um hospital público do Agreste de Pernambuco.

 

MÉTODO

Estudo observacional com análise retrospectiva da amostra de acordo com a técnica de BD por meio de uma abordagem quantitativa e desenvolvido na central de quimioterapia (CQT) do Hospital Mestre Vitalino (HMV). Para tanto, foram utilizados os dados do consumo de todos os atendimentos das prescrições que contemplavam quimioterápicos preparados pela equipe da farmácia do setor de oncologia do hospital no período de julho a dezembro de 2021.

 

Para inclusão, foram considerados todos os antineoplásicos prescritos que estejam representados pela Tabela Nacional de BD do NHS. Quanto à exclusão, foram considerados todas as pacientes gestantes e prescrições desconformes que apresentem doses e modo de administração incoerentes. Todos os dados foram obtidos pelo software MV 2000, utilizado pelo hospital como sistema de gerenciamento. Foram analisados os relatórios de movimentação por estoque e de saída de produto por paciente para obter: os dez antineoplásicos mais consumidos na preparação das infusões quimioterápicas; todas as prescrições atendidas dos dez antineoplásicos mais consumidos; todos os atendimentos com pelo menos um agente antineoplásico prescrito; e todas as prescrições atendidas pela farmácia da CQT.

 

A tabela nacional de BD do NHS, baseada em método logarítmico, foi usada como referência para definir as faixas de dose para cada dose individualizada prescrita de antineoplásico, utilizando seu máximo de variação de dose (6%) e a BD respectiva para cada dose personalizada prescrita14. Essa escala logarítmica, de forma ampliada, aplica-se a qualquer BD, embasando a aplicação da técnica de faixa de dose-padrão para qualquer quimioterápico18.

 

Para identificar os antineoplásicos com BD mais prováveis de impactar o serviço de produção das infusões dos quimioterápicos pela equipe da farmácia da CQT, os produtos foram comparados dentro do modelo de BD. Três critérios (limite de viabilidade) indicando os possíveis antineoplásicos a serem produtos viáveis foram utilizados para considerar a aplicabilidade da técnica de BD conforme padronizado usando a BD logarítmica: (a) preparações antineoplásicas ≥150 por ano (≥75 para 6 meses); (b) doses individualizadas ≥10 por BD; (c) total de faixas de dose ≤5 que abrange um total ≥60% de todas as doses individualizadas para um medicamento15,23.

 

Foi determinado o número necessário de ciclos por ano e de produtos por ciclo de produção (lotes) mediante dados de estabilidade publicados, dividindo o total de semanas por ano (52) pela estabilidade em semanas de cada antineoplásico analisado. Todas as doses-padrão seriam preparadas em um único recipiente18,24.

 

Também foi calculado o número de doses logarítmicas padrão de BD necessárias para cobrir 60%, 70% e 80% das doses individualizadas de cada medicamento analisado. Por fim, foram selecionados como drogas viáveis para utilização da técnica de BD, os quimioterápicos que apresentaram um máximo de cinco bandas de doses, representando um total de 60% de todas as doses individualizadas para um determinado antineoplásico24. Todos os dados coletados foram tabulados pelo software Excel para análise posterior.

 

O presente estudo não contou com o envolvimento de seres humanos, contudo, utilizou dados de prescrições de pacientes. Dessa forma, foram seguidos todos os preceitos éticos da Resolução n.° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e da Lei n.º 13.709/18 de proteção de dados. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro Universitário Tabosa de Almeida (Asces-Unita) sob o número de parecer 5.491.567 (CAAE: 59240822.0.0000.5203)25.

 

RESULTADOS

Foram analisadas 2.646 prescrições atendidas pela farmácia da CQT, em um período de seis meses. As prescrições eram compostas por 32 antineoplásicos diferentes dispostos em 41 apresentações, desses, 8 medicamentos de administração por via oral (anastrozol, bicalutamida, capecitabina, ciclofosfamida, clorambucila, hidroxiureia, letrozol e tamoxifeno), 3 produtos por via intramuscular ou subcutânea (fulvestranto, interferon e triptorrelina) e 21 antineoplásicos de administração por via endovenosa.

 

Das 21 drogas administradas por infusão parenteral, 30 apresentações farmacêuticas distintas foram utilizados (brentuximabe vedotina, carboplatina, ciclofosfamida, cisplatina, citarabina, dacarbazina, docetaxel, doxorrubicina, etoposídeo, fluorouracil, gencitabina, ifosfamida, irinotecano, oxaliplatina, paclitaxel, pemetrexede, rituximabe, trastuzumabe, vimblastina, vincristina e vinorelbina) para produção de 2.923 preparações quimioterápicas, compostas por 2.675 bolsas de quimioterapias e 248 bombas de infusão contínua manipuladas pelos farmacêuticos da CQT.

 

A partir dos dados obtidos e analisados dos relatórios de saída de estoque por paciente e movimentações por estoque mediante software MV 200026, utilizado pelo hospital como sistema de gerenciamento, ficou exposto que foram realizados 1.996 atendimentos de prescrições contendo pelo menos um produto oncológico. Utilizando-se do filtro de pesquisa do MV 2000, foi obtido o Relatório de Saída de Produtos por Paciente, apenas dos dez produtos (apresentações) antineoplásicos de uso parenteral mais consumidos (carboplatina-150 mg/15 ml, ciclofosfamida-1g, cisplatina-50 mg/50 ml, docetaxel-80 mg, doxorrubicina-50 mg, fluorouracil-2,5 g/50 ml, gencitabina-1 g, irinotecano-100 mg, oxaliplatina-100 mg e paclitaxel-100 mg/16,7 ml) contemplados em um total de 1.490 prescrições. Também foram obtidas as quantidades de frascos-ampolas utilizados durante o período analisado no estudo, conforme descrito na Tabela 1. Os dados de estabilidade (semanas), número de ciclos por ano e número de preparações quimioterápicas produzidas por ciclo dos dez agentes antineoplásicos mais consumidos estão expostos na Tabela 227-32.

 

Os medicamentos com a frequência de utilização de agentes antineoplásicos ≥ 75 preparações/6 meses (≥150 preparações/ano) e o número de faixas de dosagem com pelo menos dez prescrições de doses individualizadas por banda de cada quimioterápico foram obtidos e dispostos na Tabela 3.

 

Dos dez agentes antineoplásicos mais consumidos, nove demonstram viabilidade do uso da técnica de BD. Destes, os citostáticos apresentaram cinco ou menos BD, contemplando 60% de todas as doses individualizadas prescritas. Também foram calculados o número de faixas de dose, que contemplaram 70%, 80% e 100% de todas as doses individualizadas prescritas, conforme Tabela 4.

 

Os medicamentos com faixas de dose viáveis (≥10) baseadas na tabela nacional de BD do NHS, que somaram em cinco faixas de dose um total de 60% de todas as doses individualizadas prescritas, as variações (em percentagem) das doses por BD e o número de preparações por BD estão representados na Tabela 5. O único agente antineoplásico do estudo que não obteve viabilidade foi a carboplatina, com 41,95% das doses prescritas individualizadas em cinco BD.

 

Tabela 1. Comparação de produtos farmacêuticos por concentração, quantidade de frascos-ampola e miligramas consumidos

Medicamento/apresentação

Concentração

Frasco-ampolas consumidos

Quantidade consumida em miligramas

Paclitaxel-100 mg/16,7 ml

Fluorouracil-2,5 g/50 ml

Oxaliplatina-100 mg

Carboplatina-150 mg/15 ml

Gencitabina-1 g

Irinotecano-100 mg

Doxorrubicina-50 mg

Docetaxel-80 mg

Cisplatina-50 mg/50 ml

Ciclofosfamida-1 g

6 mg/ml

672

671,4100

50 mg/ml

442

441,9280

5 mg/ml

388

387,6900

10 mg/ml

311

310,2404

38 mg/ml

256

255,4930

20 mg/ml

256

255,3400

2 mg/ml

240

239,2400

20 mg/ml

182

180,8875

1 mg/ml

154

153,4200

10º

20 mg/ml

151

150,1750

 

 

Tabela 2. Comparação de produtos farmacêuticos manipulados de acordo com o modelo de banda de dosagem pela quantidade de prescrições dentro de bandas de doses viáveis

Medicamento/

modo de administração

Número de vezes prescrito (%)

Estabilidade (em semanas)27-32

Produção Ciclos/ano

Número viável de bandas de dose (n.º ≥ 10)

Prescrições em dose viável (%)

Número de produtos por produção de ciclo

Paclitaxel

464 (23,2%)

427,28

13

11

412 (88,74%)

32

Fluorouracil (bólus)

312 (15,6%)

1629,30

4

10

300 (96,10%)

75

Fluorouracil (bomba)

248 (12,4%)

1629

4

8

243 (97,95%)

61

Oxaliplatina

292 (14,6%)

1231

5

11

277 (94,80%)

56

Carboplatina

324 (16,2%)

1231

5

15

280 (86,34%)

56

Gencitabina

177 (8,8%)

1231

5

7

173 (97,69%)

35

Irinotecano

85 (4,2%)

1231

5

6

75 (88,23%)

15

Doxorrubicina

149 (7,4%)

1732

4

4

101 (67,77%)

26

Docetaxel

166 (8,3%)

832

7

7

144 (86,70%)

21

Cisplatina

144 (7,2%)

431

13

6

103 (71,50%)

8

Ciclofosfamida

144 (7,2%)

432

13

5

121 (83,43%)

10

 

 

Tabela 3. Comparação de produtos farmacêuticos por número de doses individualizadas prescritas ≥10 por BD (limite de viabilidade), número de cobertura (60%, 70%, 80% e 100%) e número de prescrições≥150 por ano (limite de viabilidade)

Medicamento/modo de administração

Doses individualizadas prescritas (com n.º ≥10 doses individualizadas

por BD) (%)

Doses individualizadas prescritas (80% de cobertura)

Doses individualizadas prescritas (70% de cobertura)

Doses individualizadas prescritas (60% de cobertura)

Prescrições 75 em 6 meses (≥150 por ano)

Carboplatina

280 (86,34%)

260 (80,18%)

237 (73,09%)

136 (41,95%)

324

Ciclofosfamida

121 (83,43%)

121 (83,43%)

110 (75,85%)

94 (64,82%)

145

Cisplatina

103 (71,50%)

121 (84,00%)

103 (71,50%)

93 (64,56%)

144

Docetaxel

144 (86,70%)

144 (86,70%)

120 (72,26%)

105 (63,23%)

166

Doxorrubicina

101 (67,77%)

123 (82,51%)

109 (73,13%)

101 (67,77%)

149

Fluorouracil (bólus)

300 (96,10%)

262 (83,94%)

241 (77,21%)

216 (69,20%)

312

Fluorouracil (bomba)

243 (97,95%)

213 (85,86%)

174 (70,14%)

174 (70,14%)

248

Gencitabina

173 (97,695)

160 (90,35%)

140 (79,06%)

114 (64,38%)

177

Irinotecano

75 (88,21%)

75 (88,21%)

65 (76,45%)

54 (63,51%)

85

Oxaliplatina

277 (94,80%)

245 (83,86%)

214 (73,26%)

193 (66,07%)

292

Paclitaxel

412 (88,74%)

375 (80,78%)

334 (71,95%)

306 (65,92%)

464

Legendas: BD = banda de dosagem;  = medicamentos que atenderam aos parâmetros de viabilidade para BD.

 

 

Tabela 4. Comparação de produtos farmacêuticos por número de diferentes BD em 60%,70%,80 e 100% de cobertura das prescrições individualizadas, número ≥10 doses individualizadas prescritas por BD e número total de BD que contemplem número ≥60% de todas as doses individualizadas prescritas

Medicamento/modo de administração

Número de

diferentes BD (100% de

cobertura)

Número de diferentes BD (com n.º ≥10 doses individualizadas prescritas por BD)

Número        de

diferentes BD (80% de cobertura)

Número        de

diferentes BD (70% de cobertura)

Número de

diferentes BD (60%

de cobertura)

Total de BD 60% das doses individualizadas prescritas (limite de viabilidade: n.º 5

BD)

Carboplatina

25

15 (86,34%)

13 (80,18%)

11 (73,09%)

9 (64,15%)

5 (41,95%)

Ciclofosfamida

11

5 (83,43%)

5 (83,43%)

4 (75,85%)

3 (64,82%)

3 (64,82%)

Cisplatina

15

6 (71,50%)

8 (84,00%)

6 (71,50%)

5 (64,56%)

5 (64,56%)

Docetaxel

12

7 (86,70%)

7 (86,70%)

5 (72,26%)

4 (63,23%)

4 (63,23%)

Doxorrubicina

15

4 (67,77%)

7 (82,51%)

5 (73,13%)

4 (67,77%)

4 (67,77%)

Fluorouracil (bólus)

13

10 (96,10%)

7 (83,94%)

6 (77,21%)

5 (69,20%)

5 (69,20%)

Fluorouracil (bomba)

10

8 (97,95%)

6 (85,86%)

4 (70,14%)

4 (70,14%)

4 (70,14%)

Gencitabina

9

7 (97,69%)

6 (90,35%)

5 (79,06%)

4 (64,38%)

4 (64,38%)

Irinotecano

13

6 (88,21%)

6 (88,21%)

5 (76,45%)

4 (63,51%)

4 (63,51%)

Oxaliplatina

16

11 (94,80%)

8 (83,86%)

6 (73,26%)

5 (66,07%)

5 (66,07%)

Paclitaxel

21

11 (88,74%)

8 (80,78%)

6 (71,95%)

5 (65,92%)

5 (65,92%)

 Legendas: BD = banda de dosagem;  = medicamentos que atenderam aos parâmetros de viabilidade para BD;  = medicamentos que não atenderam aos parâmetros de viabilidade para BD.


 

 

Tabela 5. Comparação produtos farmacêuticos pelas doses (mg) das cinco maiores BD, faixas de banda, variações das faixas das BD em percentagem (%) e número total de preparações por BD

Medicamento/modo de administração

Doses-padrão e doses-limite

Carboplatina

Dose (mg)

120

150

180

200

220

Faixa de banda (mg)

(114,89-124,89)

(144,91-154,91)

(169,71-189,73)

(189,74-209,75)

(209,76-229,77)

Variação (%)

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

4

-4

4

-3

6

-5

5

-5

5

-4

Preparações

24 (7,40%)

27 (8,33%)

40 (12,34%)

24 (7,40%)

21 (6,48%)

Ciclofosfamida

Dose (mg)

480

720

900

1000

1260

Faixa de banda (mg)

(459,56-509,11)

(689,34-758,93)

(848,52-948,67)

(948,68-1058,29)

(1187,94-1328,15)

Variação (%)

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

4

-6

4

-5

6

-5

5

-6

6

-5

Preparações

16 (11,03%)

11 (7,58%)

23 (15,86%)

48 (33,10%)

23 (15,86%)

Cisplatina

Dose (mg)

40

45

56

63

70

Faixa de banda (mg)

(37,95-42,42)

(42,43-47,42)

(52,92-59,39)

(59,40-66,40)

(66,41-74,35)

Variação (%)

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

5

-6

6

-5

6

-6

6

-5

5

-6

Preparações

33 (22,91%)

18 (12,50%)

11 (7,63%)

16 (11,11%)

15 (10,41%)

Docetaxel

Dose (mg)

72

80

96

120

132

Faixa de banda (mg)

(69,98-75,89)

(75,90-83,89)

(91,92-101,81)

(113,84-125,85)

(125,86-139,77)

Variação (%)

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

3

-5

5

-5

4

-6

5

-5

5

-6

Preparações

15 (9,03%)

21 (12,65%)

37 (22,28%)

29 (17,46%)

18 (10,84%)

Doxorrubicina

Dose (mg)

40

48

80

90

100

Faixa de banda (mg)

(37,95-41,94)

(45,96-50,90)

(75,89-84,84)

(84,85-94,86)

(94,87-105,82)

Variação (%)

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

5

-5

4

-6

5

-6

6

-5

5

-6

Preparações

12 (8,05%)

13 (8,72%)

8 (5,36%)

39 (26,17%)

37 (24,83%)

Fluorouracil (bólus)

Dose (mg)

500

600

650

700

750

Faixa de banda (mg)

(474,35-524,39)

(574,45-624,49)

(624,50-674,54)

(674,55-724,54)

(724,55-774,59)

Variação (%)

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

5

-5

4

-4

4

-4

4

-3

4

-3

Preparações

30 (9,61%)

51 (16,34%)

38 (12,17%)

50 (16,02%)

47 (15,06%)

Fluorouracil (bomba)

Dose (mg)

2500

3150

3500

3950

4450

Faixa de banda (mg)

(2371,70-2645,74)

(2969,85-3320,39)

(3320,40-3718,19)

(3718,20-4192,54)

(4192,55-4716,99)

Variação (%)

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

5

-6

6

-5

5

-6

6

-6

6

-6

Preparações

22 (8,87%)

39 (15,72%)

59 (23,79%)

34 (13,70%)

42 (16,93%)

Gencitabina

Dose (mg)

912

1140

1254

1520

1710

Faixa de banda (mg)

(873,16-967,32)

(1081,48-1195,62)

(1195,63-1309,74)

(1441,99-1612,18)

(1612,19-1802,48)

Variação (%)

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

4

-6

5

-5

5

-4

5

-6

6

-5

Preparações

28 (15,81%)

26 (14,68%)

27 (15,25%)

32 (18,07%)

27 (15,25%)

Irinotecano

Dose (mg)

180

270

300

330

360

Faixa de banda (mg)

(171,81-189,73)

(254,56-284,60)

(284,61-314,63)

(314,64-344,66)

(344,67-379,46)

Variação (%)

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

5

-5

6

-5

5

-5

5

-4

4

-5

Preparações

15 (17,64%)

11 (12,94%)

13 (15,29%)

14 (16,47%)

12 (14,11%)

Oxaliplatina

Dose (mg)

100

120

135

150

200

Faixa de banda (mg)

(94,87-104,87)

(114,89-127,27)

(127,28-142,29)

(142,30-157,31)

(189,74-212,12)

Variação (%)

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

5

-5

4

-6

6

-5

5

-5

5

-6

Preparações

52 (17,80%)

34 (11,64%)

50 (17,12%)

26 (8,90%)

31 (10,61%)

Paclitaxel

Dose (mg)

96

120

132

144

270

Faixa de banda (mg)

(92,95-101,82)

(113,84-125,85)

(125,86-137,86)

(137,87-152,73)

(254,56-284,59)

Variação (%)

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

Abaixo

Acima

3

-6

5

-5

5

-4

4

-6

6

-5

Preparações

43 (9,26%)

91 (19,61%)

106 (22,84%)

30 (6,46%)

36 (7,75%)

Legendas: BD = banda de dosagem;  = medicamentos que atenderam aos parâmetros de viabilidade para BD;  = medicamentos que não atenderam aos parâmetros de viabilidade para BD.


 

 

DISCUSSÃO

Como consequência direta do aumento anual dos novos casos, as implicações financeiras são evidentes e precisam ser avaliadas e geridas. Segundo estudo, a Sociedade Norte-Americana de Câncer estima que no mundo o custo com tratamento de câncer irá se elevar de US$ 290 bilhões para US$ 458 bilhões entre o período de 2010 a 2030. No Brasil, entre os anos de 1999 e 2015, o gasto somente com o tratamento para combate ao câncer passou de 470 milhões para 3,3 bilhões, multiplicando os custos em sete vezes, em um período de 16 anos. Dois terços destes gastos se referem somente ao tratamento quimioterápico, porém, no Brasil, mesmo com o aumento exponencial do valor gasto com o câncer, os investimentos não contemplam o atendimento das necessidades33.

 

Diante desses desafios, o SUS não consegue ser efetivo e, por mais que haja políticas públicas para o tratamento do câncer incorporadas ao SUS, elas não são traduzidas em direitos efetivados para cada paciente. Pontos, como o acesso a melhores medicamentos e serviços, inúmeras vezes são violados34.

 

Esse fato demonstra que o direito à saúde de modo integral e universal nem sempre é respeitado em casos de pacientes oncológicos, em partes pela alta complexidade dos tratamentos oncológicos, pelo número e custo elevado com o uso dos antineoplásicos e soma-se, no caso do Brasil, à carência de investimentos em pesquisas de produção e desenvolvimento de novas tecnologias e medicamentos35.

 

Se tratando do SUS, os elevados custos com o câncer e seus desdobramentos têm sobrecarregado os investimentos em saúde. Considerando os atuais indicadores do custo de tratamentos oncológicos, o aumento da incidência do câncer e o custeio de tecnologias inovadoras e onerosas fornecidos pelo SUS (também por demandas judiciais) são fatores importantes na elevação destes custos. Além disso, grande parte dos investimentos também são direcionados à terapia paliativa, estado avançado da doença no qual as chances de cura são remotas.

 

Na última década, a faixa de dosagem foi implementada de forma ampla e interligada à prática clínica do NHS e teve como meta atender 90% de todas as prescrições quimioterápicas pelo sistema de BD, até março de 2018. Contudo, em outros lugares ainda não houve efetividade ou as iniciativas se dão ainda de forma tímida18,19.

 

A pesquisa de estabilidade dos agentes antineoplásicos é uma área para a qual muitas atenções estão voltadas e de contínuo crescimento de interesse. Um estudo internacional demonstrou que medicamentos de marcas originais e genéricas podem diferir. A maioria dos genéricos tem prazos de validade curtos (aproximadamente 24 horas) por razões microbiológicas, independentemente do verdadeiro valor físico-químico de estabilidade, além de expor dados de estabilidade físico-química nas fichas de informações dos produtos (reconstituídos ou diluídos) inconsistentes, apresentando diferentes informações de um país para outro. Embora não exista para a BD uma metodologia amplamente aceita, a estratégia logarítmica apresenta vantagens para a estruturação do sistema de BD: facilidade de implementação em sistemas de informação; constância proporcional; e aplicação universal24.

 

Um estudo sobre a aplicação da BD para a produção de agentes antineoplásicos apresentou três fatores que podem ser determinantes para a viabilidade da produção das faixas de dose dos agentes citostáticos: a) estabilidade das preparações após diluição; b) frequência de prescrição; c) número de bandas preciso, consolidando os limites de viabilidades adotados nesta análise15.

 

Para a implementação da BD, um fator determinante é a estabilidade físico- química das preparações e a garantia de um produto com qualidade asséptica. Desse modo, os dados de estabilidade obtidos têm a finalidade de ilustrar a capacidade de garantir maior tempo de vida útil dos produtos quimioterápicos parenterais manipulados por meio de boas práticas associadas à preparação dos agentes antineoplásicos, mas também da inserção de tecnologias que de início geram potenciais custos para implementação do sistema, como: bolsas de poliolefina (POF), bolsas de cloreto polivinilo (PVC), embalagens de vidro, seringas de polipropileno para acondicionamento dos lotes preparados, além de sistema fechado de manipulação dos agentes citotóxicos, para garantir estabilidade físico-química e microbiológica das preparações em sistema de BD15,23,31,32.

 

Dos dez antineoplásicos mais consumidos, apenas um medicamento não atingiu pelo menos um dos três limites de viabilidade determinados. A carboplatina não atingiu o número mínimo de cinco BD que contemplem 60% do total de doses individualizadas preparadas na CQT. Desse modo, a carboplatina foi o produto cuja viabilidade da utilização da técnica de BD não foi alcançada.

 

Por fim, os antineoplásicos que cumpriram todos os limites de viabilidade deste estudo foram: ciclofosfamida, cisplatina, docetaxel, doxorrubicina, fluorouracil-bólus, fluorouracil-bomba, gencitabina, irinotecano, oxaliplatina e placlitaxel. Desse modo, um total de nove agentes antineoplásicos apresentaram viabilidade para utilização da técnica de BD de acordo com este estudo.

 

Segundo as diretrizes do North of England Cancer Network do NHS, são citados como medicamentos citostáticos que atendem aos critérios necessários para utilização do sistema de BD: ciclofosfamida; doxorrubicina; fluorouracil; gencitabina; oxaliplatina, corroborando os resultados obtidos15.

 

Em contrapartida, de acordo com o estudo de gastos utilizando 17 agentes antineoplásicos (carboplatina; ciclofosfamida; cisplatina; doxorrubicina; epirrubicina; gencitabina; irinotecano; paclitaxel; pemetrexede; rituximabe), segundo o qual as tabelas nacionais de BD do NHS foram implementadas no sistema de prescrição, após a inserção da padronização de dose, resultados econômicos com redução de £ 100 mil por mês em 2016/17 foram alcançados e, mesmo havendo um aumento no número de prescrições, também houve evidências da redução do percentual de trabalho interno composto pelo processo de manipulação dos quimioterápicos que representava um total de 60% da carga horária total de trabalho/ano e que após a utilização da técnica de BD reduziu para 51%36.

 

De acordo com uma pesquisa que comparou cinco drogas antineoplásicas (bussulfano; carboplatina; ciclofosfamida; dactinomicina; etoposídeo) em relação à variação entre as doses de BD e a dose prescrita individualizada, resultados de análises em termos farmacocinéticos demonstraram não haver diferença significativa entre as doses recomendadas por prescrição individual e aquelas obtidas com BD, gerando suporte à utilização de tabelas de BD do NHS e indicando que mudanças relativamente pequenas na dose dos antineoplásicos são superadas amplamente pela variabilidade na exposição e depuração entre os pacientes21.

 

Resultados semelhantes foram encontrados em estudo realizado em 2012 por Chatelut et al.37, com seis drogas antineoplásicas (cisplatina; docetaxel; doxorrubicina; inrinotecano; paclitaxel; topotecano) em que há comparação entre faixa de doses de BD padronizadas e doses baseadas na BSA mediante critério farmacocinético apresentaram resultados que determinaram segurança para a implementação da BD por demonstrarem que o uso da BD não acarretaria aumento significativo da concentração plasmática dos pacientes.

 

A introdução da técnica de BD tem potencial de otimizar a capacidade asséptica da farmácia, a racionalização das doses, a flexibilização de realocação de doses-padrão em faixas, reduzir o gasto com medicamentos, melhoria das condições de trabalho, reorganização da gestão e contenção de resíduos, promovendo vantagens econômicas à unidade promotora de saúde e não trazendo prejuízos de nenhuma natureza que venham a comprometer a eficácia ao tratamento farmacológico prestado ao paciente18,37-40.

 

CONCLUSÃO

Fica evidente que a implementação da técnica de faixa de dosagem pode contribuir para racionalizar a produção e beneficiar unidades de quimioterapia, aumentando a capacidade de produção, diminuição das horas de trabalho e promovendo eficiência ao processo de manipulação de antineoplásicos. Entretanto, também é patente que, no caso específico de implementação da técnica de BD com sucesso, fazem-se necessários investimentos em processos educacionais contínuos e tecnologias que garantam qualidade farmacológica. Além disso, deve-se garantir a praticabilidade de implementação da técnica de BD e também é preciso manter o controle físico-químico e microbiológico dos fármacos, a fim de assegurar a qualidade e a eficácia das quimioterapias preparadas, sem trazer prejuízos de nenhuma natureza ao tratamento do paciente oncológico. Destaca-se, por fim, a necessidade de mais pesquisas e consenso sobre a performance das tecnologias e processos para a aplicabilidade da técnica de BD.

 

 

CONTRIBUIÇÕES

Todos os autores contribuíram substancialmente na concepção e no planejamento do estudo; na coleta, análise e interpretação dos dados; na redação e revisão crítica; e aprovaram a versão final a ser publicada.

 

 

DECLARAÇÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES

Nada a declarar.

 

 

DECLARAÇÃO DE DISPONIBILIDADE DE DADOS

Todos os conteúdos subjacentes ao texto do artigo estão contidos no manuscrito, com exceção de dados que foram coletados a partir das prescrições médicas eletrônicas obtidas por meio de pesquisa no banco de dados do software (MV2000) – sistema de gerenciamento e gestão utilizado pelo Hospital Mestre Vitalino – Caruaru-PE, e que, por possuir informações pessoais dos pacientes, estão protegidos pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), Lei n.º 13.709/2018.

 

 

FONTES DE FINANCIAMENTO

Não há.

 

 

REFERÊNCIAS

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Recebido em 13/3/2025

Aprovado em 15/7/2025

 

Editor-associado: Mario Jorge Sobreira da Silva. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-0477-8595

Editora-científica: Anke Bergmann. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-1972-8777

 

 

 

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