Alopecia as a Factor of Psychological Distress in the Treatment of Malignant Breast Neoplasm in a Black Woman: Case Report
La Alopecia como Factor de Malestar Psicológico en el Tratamiento de la Neoplasia Maligna de Mama en una Mujer Negra: Informe de Caso
Juliana Santos Beltrão1; Adriele da Costa Silveira2; Thamiles Sena da Silva3
1-3Grupo Oncoclínicas, Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB). Lauro de Freitas (BA), Brasil.
1E-mail: julianabeltrao@hotmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0009-0001-2116-7710
2E-mail: adriele_silveira@hotmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-4187-6215
3E-mail: thamiles.sena@gmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0001-8112-7123
RESUMO
Introdução: A alopecia induzida por quimioterapia é um efeito colateral muito comum em tratamentos para câncer de mama, e o método de resfriamento do couro cabeludo tornou-se o mais utilizado para prevenir essa reação. Embora mais utilizado, esse método acarreta alguns efeitos adversos difíceis de suportar e, para população negra, alguns pontos precisam ser mais discutidos. O objetivo do estudo é descrever o sofrimento psíquico no tratamento de neoplasia maligna de mama em mulher negra. Relato do caso: Mulher jovem, negra, cabelos crespos, com diagnóstico de neoplasia maligna de mama, historicamente afetada pelo racismo estrutural durante a infância e adolescência, opta por iniciar o tratamento quimioterápico associado à crioterapia. Durante o tratamento, demonstra enfrentamento ao sofrimento psíquico com resiliência e consolidados recursos de enfrentamento no discurso. Conclusão: O procedimento de crioterapia necessita de mais avanços para maior eficácia na contenção da alopecia de cabelos crespos, além disso mais estudos fazem-se necessários sobre o processo de adoecimento oncológico em pessoas negras e seus impactos envolvidos.
Palavras-chave: Neoplasias da Mama; Alopecia em Áreas/induzido quimicamente; Crioterapia; Angústia Psicológica; População Negra.
ABSTRACT
Introduction: Chemotherapy-induced alopecia is a very common side effect of breast cancer treatments and the scalp cooling method has become the most used to prevent this reaction. Although more widely used, this method causes some adverse effects that are difficult to bear, and for the black population, some points need to be further discussed. The objective of the study is to describe psychological suffering in the treatment of malignant breast neoplasia in black women. Case report: Young black woman, with curly hair diagnosed with malignant breast neoplasia, historically affected by structural racism during childhood and adolescence, prefers to start chemotherapy treatment associated with cryotherapy. During treatment, she coped with psychological suffering with resilience and her speech expressed consolidated resources. Conclusion: The cryotherapy procedure needs further advances to be more effective in containing frizzy hair alopecia. Furthermore, more studies on the process of oncological illness in black people and the impacts involved are needed.
Key words: Breast Neoplasms; Alopecia Areata/chemically induced; Cryotherapy; Psychological Distress; Black People.
RESUMEN
Introducción: La alopecia inducida por quimioterapia es un efecto secundario muy común en los tratamientos para el cáncer de mama y el método de enfriamiento del cuero cabelludo se ha convertido en el más utilizado para prevenir esta reacción. Aunque se utiliza más ampliamente, este método provoca algunos efectos adversos que son difíciles de soportar, y para la población negra es necesario discutir más a fondo algunos puntos. El objetivo del estudio es describir el sufrimiento psicológico en el tratamiento de la neoplasia maligna de mama en mujeres de raza negra. Informe del caso: Mujer joven, negra, de cabello rizado diagnosticada con neoplasia maligna de mama, históricamente afectada por racismo estructural durante la infancia y adolescencia, opta por iniciar tratamiento de quimioterapia asociado a crioterapia. Durante el tratamiento, demuestra afrontar el sufrimiento psicológico con resiliencia y recursos de enfrentamiento consolidados en su discurso. Conclusión: El procedimiento de crioterapia necesita más avances para ser más eficaz en la contención de la alopecia para cabello rizado. Además, se necesitan más estudios sobre el proceso de enfermedad oncológica en personas de raza negra y los impactos involucrados.
Palabras clave: Neoplasias de la Mama; Alopecia Areata/inducido quimicamente; Crioterapia; Distrés Psicológico; Población Negra.
O câncer de mama é o mais prevalente entre as doenças oncológicas femininas. O tratamento antineoplásico pode causar alopecia como efeito colateral. A perda dos cabelos é decorrente da forte agressão sofrida pelos fios durante o tratamento, causando alopecia induzida por quimioterapia1.
A maioria dos protocolos quimioterápicos para câncer de mama causa esse efeito temido pelas mulheres por impactar a autoestima e imagem social1. O resfriamento do couro cabeludo é o método mais indicado para reduzir alopecia2. A crioterapia capilar é uma técnica que utiliza toucas refrigeradas. Ocorre um processo de vasoconstrição sanguínea no couro cabeludo, impedindo a quimioterapia de atingir o local e provocar queda do cabelo3,4. Estudos recentes relatam que a maioria das usuárias da crioterapia capilar tolera os efeitos adversos que incluem cefaleia e calafrios2. Entretanto, algumas mulheres não se adaptam ou optam por não iniciar.
Diversas são as repercussões psíquicas, tendo em vista o cabelo ser um importante elemento de identificação subjetiva na autoimagem. Referente à mulher negra, sabe-se que no Brasil é uma etnia ainda muito afetada no acesso à saúde por questões sociais. Uma revisão de literatura sobre qualidade de vida de mulheres negras com câncer de mama4 aponta que não foram identificados trabalhos com os três descritores associados: qualidade de vida, mulher negra e câncer de mama. Contudo, foram identificados 103 artigos contendo um dos três descritores mencionados.
Assim, este estudo propõe entender a dinâmica do sofrimento psíquico de uma mulher negra, historicamente afetada pelo racismo estrutural e diante do diagnóstico de câncer de mama acarretador de perdas, como o cabelo, e que afeta na relação com sua identidade étnica. Trata-se de um relato de caso acompanhado em uma clínica oncológica em Salvador, Bahia, entre fevereiro e julho de 2024.
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Santa Izabel sob o número de parecer 7.189.655 (CAAE: 83220824.3.0000.5520), com base nas Resoluções do Conselho Nacional de Saúde (CNS) n.º 466/20125 e n.º 510/20166.
O caso clínico foi correlacionado com a literatura especializada sobre o tema e realizada revisão bibliográfica. O tratamento oncológico com quimioterapia para a neoplasia maligna de mama foi iniciado em março. A avaliação multiprofissional aconteceu de março a julho de 2024. A paciente foi informada sobre o interesse em relatar o caso no estudo e, diante do aceite, concordou em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Houve a análise em prontuário da psicologia, enfermagem e farmácia.
Mulher negra, 32 anos, sem filhos, diagnosticada com câncer de mama em fevereiro de 2024, iniciou tratamento com paclitaxel, seguido de doxorrubicina e ciclofosfamida, com suporte de fator estimulador de granulócitos, após consulta com equipe multiprofissional.
Na admissão de enfermagem e farmácia, a paciente foi informada sobre o tratamento, seus efeitos e a crioterapia, destacando-se a alopecia como reação adversa mais discutida.
A paciente optou pela crioterapia e foi orientada sobre o uso da touca hipotérmica antes, durante e após quimioterapia, além dos cuidados domiciliares para preservar os fios, como evitar calor, produtos químicos e fricção excessiva3.
Na admissão da psicologia, a paciente compartilhou o impacto do diagnóstico na juventude, mencionando planos interrompidos, incluindo a pausa na formação em Nutrição. A psicóloga discutiu o luto relacionado ao adoecimento, e a paciente já demonstrava sentimentos de perda e necessidade de readaptação.
O maior sofrimento da paciente foi a possibilidade de perder o cabelo, importante para sua autoimagem; ela esperava evitar a alopecia com a crioterapia; mas, nas sessões seguintes, relatou dor e desconforto dificultando a continuidade.
A paciente relacionou sua identidade visual ao cabelo que representava desejo e identidade. Como jovem negra, enfrentou desafios na adolescência para se afirmar socialmente, usando cabelo alisado por anos como forma de pertencimento.
Com o amadurecimento, a paciente adotou o estilo black natural, que representava sua identidade e força. Perder o cabelo significava perder parte de sua história e enfrentar a percepção de fragilidade e vunerabilidade. A escuta validou o sofrimento da paciente, ajudando-a a refletir que, assim como superou desafios sociais e raciais para construir sua identidade, poderia ressignificar esse momento e encontrar-se novamente.
A paciente interrompeu a crioterapia após o segundo ciclo em razão da alopecia e do intenso desconforto, optando por raspar o cabelo completamente. Apresentou resiliência e foram consolidados recursos de enfrentamento. Afirmou não desejar peruca e assim seguiu durante todo o tratamento. Abordou sobre o fortalecimento psíquico gerado ao refletir sobre experiências racistas vividas e a necessidade de lidar com a dor e se reinventar.
Ademais, manteve a corrida como estratégia para o bem-estar físico, social, psíquico e espiritual, atividade ligada à sua identidade. Ao final do tratamento, expressou gratidão por suas escolhas, especialmente por interromper a crioterapia, refletir sobre a perda do cabelo e ressignificar essa experiência.
A alopecia induzida por quimioterapia varia com o tipo e dose, ocorrendo em 60-100% dos casos no tratamento do câncer de mama. A terapia combinada pode causar maior incidência de alopecia, que geralmente começa nas primeiras semanas de tratamento7-9.
A crioterapia causa vasoconstrição local, reduz a chegada e o efeito das drogas no couro cabeludo ao diminuir o metabolismo dos folículos pilosos10.
O tratamento proposto aponta um aspecto crucial e subjetivo. O acompanhamento multidisciplinar foi essencial para o caso, destacando sua importância na oncologia. Na fala da paciente, destacou-se a valorização de sua história de vida e validação de seus desejos durante o adoecimento. Desde o diagnóstico, já é possível perceber sofrimento emocional causado por perdas simbólicas e mudanças previstas na rotina, hábitos e projetos, marcando o início de um processo de luto11-13.
A paciente recebeu apoio para decidir sobre seu tratamento e optou por não realizar a crioterapia. O caso também levou a equipe a questionar a indicação desse procedimento para pessoas com cabelos crespos, já que não há evidências comprovadas de sua eficácia nesse grupo13. Dessa forma, o estudo estimula a reflexão sobre a necessidade de práticas inclusivas e abrangentes.
Nota-se que a crioterapia necessita de mais avanços para maior eficácia na contenção da alopecia em cabelos crespos. Um ponto importante é a discussão da presença do racismo estrutural desde a conjectura do procedimento, posto que, inicialmente, não foi pensado para todos os tipos de cabelo.
A discussão em torno da indicação de crioterapia para pessoas com cabelos que, previamente, possa supor que não haverá tanta eficácia (crespos alisados, lisos sem volume, com produtos químicos ou com coloração, entre outros) torna-se relevante. É importante ponderar riscos e benefícios, considerando o desconforto do procedimento e os desdobramentos do ponto de vista psíquico, em termos inclusive de frustração.
Tendo em vista a limitação do relato de caso ter sido realizado apenas com uma vivência e diante das reflexões trazidas, considera-se importante que mais estudos sejam feitos sobre o adoecimento oncológico em pessoas negras, impactos psicológicos e perdas vividas, racismo estrutural e procedimentos realizados em paralelo ao tratamento oncológico, como a exemplo da crioterapia, e que são mais acessíveis, ainda atualmente, às pessoas de pele branca. Desse modo, fica o desejo e a expectativa de que, em breve, possa haver avanços nesse sentido.
À equipe – queridos colegas de trabalho que ajudam diariamente no cuidado ao paciente em tratamento oncológico – e aos pacientes que, compartilhando suas vivências diariamente, inspiram a todos para o avanço do conhecimento.
CONTRIBUIÇÕES
Todos os autores contribuíram substancialmente na concepção e no planejamento do estudo; na obtenção, análise e interpretação dos dados; na redação e revisão crítica; e aprovaram a versão final a ser publicada.
DECLARAÇÃO DE CONFLITOS DE INTERESSE
Nada a declarar.
DECLARAÇÃO DE DISPONIBILIDADE DE DADOS
Todos os conteúdos subjacentes ao texto do artigo estão contidos no manuscrito.
FONTES DE FINANCIAMENTO
Não há.
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Recebido em 16/4/2025
Aprovado em 24/7/2025
Editora-científica: Anke Bergmann. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-1972-8777
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