ARTIGO ORIGINAL

 

Avaliação da Mucosite Oral e seus Fatores de Risco em Pacientes com Câncer de Cabeça e Pescoço em Tratamento Radioterápico

Evaluation of Oral Mucositis and its Risk Factors in Patients with Head and Neck Cancer Undergoing Radiotherapy Treatment

Evaluación de la Mucositis oral y sus Factores de Riesgo en Pacientes con Cáncer de Cabeza y Cuello Sometidos a Tratamiento de Radioterapia

 

 

https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2025v71n3.5267

 

Laila Thainara André de Souza¹; Juliana Chagas Pereira Costa2; Cristiane Ferreira Alfenas3; Ana Carolina Ribeiro de Oliveira4; Adriele de Freitas Neiva Lessa5

 

1-3Centro Universitário FAMINAS, Faculdade de Odontologia. Muriaé (MG), Brasil. E-mails: lailasouza_rec@hotmail.com; julianacp13@hotmail.com; cristiane.alfenas@professor.faminas.edu.br. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0001-6216-9678; https://orcid.org/0009-0006-2514-1872; https://orcid.org/0009-0000-0540-0781

4,5Hospital do Câncer de Muriaé, Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Cristiano Varella (FCV). Muriaé (MG), Brasil. E-mails: ana.coliveira@fcv.org.br.; adriele.neiva@fcv.org.br; Orcid iD: https://orcid.org/0000-0001-8262-8667; https://orcid.org/0000-0003-4784-2881

 

Endereço para correspondência: Adriele de Freitas Neiva Lessa. Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da FCV. Avenida Cristiano Ferreira Varella, 555 – Bairro Universitário. Muriaé (MG), Brasil. CEP 36888-233. E-mail: adriele.neiva@fcv.org.br

 

 

RESUMO

Introdução: A mucosite oral é uma condição dolorosa e debilitante, frequentemente observada como efeito adverso agudo do tratamento antineoplásico. Fatores de risco relacionados ao paciente, como idade e gênero, variáveis do tratamento, dose e área irradiada, podem influenciar a gravidade da mucosite, impactando negativamente a qualidade de vida dos pacientes oncológicos e a evolução do tratamento. Objetivo: Analisar a prevalência da mucosite oral e identificar os principais fatores de risco associados à sua ocorrência e gravidade em pacientes com câncer de cabeça e pescoço submetidos à radioterapia. Método: Estudo observacional transversal de natureza retrospectiva, baseado na análise de 209 prontuários de pacientes atendidos no Hospital do Câncer de Muriaé entre 2018-2022. Resultados: Os resultados mostraram associação significativa entre sexo feminino e ocorrência de mucosite (p=0,020), bem como tumores localizados na língua e boca (p=0,022). O uso de sonda nasoenteral também esteve associado ao agravamento da mucosite (p<0,001), com aumento da utilização conforme o grau da lesão. Pacientes com xerostomia apresentaram maior predisposição ao desenvolvimento da condição (p=0,019). Além disso, a mucosite foi mais prevalente e severa em pacientes submetidos à radioterapia com finalidade curativa em comparação à paliativa (p=0,001 e p=0,013, respectivamente). Conclusão: Os fatores como sexo, localização tumoral, xerostomia, uso de sonda e tipo de radioterapia influenciam diretamente a ocorrência e gravidade da mucosite oral. Tais achados reforçam a importância de estratégias de prevenção individualizadas para um manejo mais eficaz dessa condição.

Palavras-chave: Neoplasias Bucais; Radioterapia; Estomatite; Fatores de Risco.

 

 

ABSTRACT

Introduction: Oral mucositis is a painful and debilitating condition, often observed as an acute adverse effect of antineoplastic treatment. Patient-related risk factors, as age and gender, as well as treatment variables, as dose and irradiated area, can influence the severity of mucositis, negatively impacting the quality of life of cancer patients and the progress of the treatment. Objective: To analyze the prevalence of oral mucositis and identify the main risk factors associated with its occurrence and severity in patients with head and neck cancer undergoing radiotherapy. Method: Cross-sectional observational retrospective study, based on the analysis of 209 medical records of patients treated at the “Hospital do Câncer de Muriaé” between 2018 and 2022. Results: The results showed a significant association between female gender and the occurrence of mucositis (p=0.020), as well as tumors located in the tongue and mouth (p=0.022). The use of nasogastric tubes was also associated with worsening of mucositis (p<0.001), and increased use according to the severity of the lesion. Patients with xerostomia were more likely to develop the condition (p=0.019). Furthermore, mucositis was more prevalent and severe in patients undergoing radiotherapy for curative purposes, compared to palliative (p=0.001 and p=0.013, respectively). Conclusion: Factors as gender, tumor location, xerostomia, use of tubes and type of radiotherapy directly influence the occurrence and severity of oral mucositis. These findings reinforce the importance of individualized prevention strategies for more effective management of this condition.

Key words: Mouth Neoplasms; Radiotherapy; Stomatitis; Risk Factors.

 

 

RESUMEN

Introducción: La mucositis oral es una enfermedad dolorosa y debilitante, que a menudo se observa como un efecto adverso agudo del tratamiento antineoplásico. Los factores de riesgo relacionados con el paciente, como la edad y género, así como las variables del tratamiento, como la dosis y el área irradiada, pueden influir en la gravedad de la mucositis, impactando negativamente en la calidad de vida de los pacientes con cáncer y en el progreso del tratamiento. Objetivo: Analizar la prevalencia de la mucositis oral e identificar los principales factores de riesgo asociados a su aparición y severidad en pacientes con cáncer de cabeza y cuello sometidos a radioterapia. Método: Estudio observacional transversal de naturaleza retrospectiva, basado en el análisis de 209 historias clínicas de pacientes atendidos en el Hospital del Cáncer de Muriaé entre 2018 y 2022. Resultados: Los resultados mostraron una asociación significativa entre el sexo femenino y la aparición de mucositis (p=0,020), así como tumores localizados en la lengua y boca (p=0,022). El uso de sonda nasoenteral también se asoció a un empeoramiento de la mucositis (p<0,001), con el aumento del uso de acuerdo con el grado de lesión. Los pacientes con xerostomía presentaron mayor predisposición a desarrollar la enfermedad (p=0,019). Además, la mucositis fue más prevalente y grave en los pacientes sometidos a radioterapia con fines curativos, en comparación con los paliativos (p=0,001 y p=0,013, respectivamente). Conclusión: Factores como sexo, localización del tumor, xerostomía, uso de sonda y tipo de radioterapia influyen directamente en la aparición y gravedad de la mucositis oral. Estos hallazgos refuerzan la importancia de las estrategias de prevención individualizadas para un manejo más efectivo de esta condición.

Palabras clave: Neoplasias de la Boca; Radioterapia; Estomatitis; Factores de Riesgo.

 

 

INTRODUÇÃO

O câncer de cabeça e pescoço (CCP) é amplamente reconhecido por sua agressividade e capacidade invasiva, representando um desafio significativo para o diagnóstico e tratamento. Dentro desse grupo, o carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço (CCECP) se destaca como a forma mais comum, originando-se nas células epiteliais da região afetada1.

 

O tratamento para o CCP pode englobar mais de uma modalidade terapêutica, sendo elas cirurgia, radioterapia e quimioterapia2-4. A escolha da abordagem depende de fatores relacionados ao tumor (características histológicas e moleculares do tumor), bem como relacionados ao paciente (tabagismo, idade, condição clínica, comorbidades e gênero)3,5. A radioterapia tem contribuído para o aumento da sobrevida dos pacientes, no entanto, ela e a quimioterapia não são seletivas para as células neoplásicas e os seus efeitos citotóxicos também afetam células saudáveis, podendo resultar em complicações, como mucosite oral (MO), xerostomia, candidíase, alteração do paladar, disfagia, cárie de radiação, trismo e osteorradionecrose6.

 

A MO representa uma complicação aguda frequente e significativa em pacientes submetidos à radioterapia de cabeça e pescoço, cuja prevalência pode variar de 40% a 90%. Caracterizada pela inflamação e ulceração da mucosa oral, a MO pode causar dor intensa, dificuldade de alimentação e aumento do risco de infecções bacterianas e fúngicas7-9.

 

Sua fisiopatologia é multifatorial e envolve uma interação complexa entre os agentes quimioterápicos ou a radiação ionizante e os tecidos da mucosa oral. A agressão direta aos queratinócitos e células basais da mucosa resulta em danos ao epitélio, levando à ativação de vias inflamatórias e liberação de citocinas pró-inflamatórias, como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e o fator de crescimento epidérmico (EGF), que contribuem para a progressão da lesão na mucosa9.

 

A MO é classificada de acordo com sua gravidade em graus que variam de leve (grau 1) a grave (grau 4), sendo os principais sintomas incluídos nessa classificação a dor, eritema, ulceração e dificuldade de alimentação. Quando a radioterapia é realizada concomitante à quimioterapia, a incidência de MO grau 3 e 4 é maior10. Ademais, essa complicação pode levar a complicações graves, como a suspensão temporária ou a redução da dose da terapia antineoplásica, à necessidade de intervenção médica e hospitalização, o que aumenta o custo do tratamento e prolonga o tempo de recuperação. Em situações extremas, a alimentação enteral ou parenteral pode ser necessária para evitar a desnutrição e a desidratação11.

 

Estudos indicam uma série de fatores de risco para o desenvolvimento da MO, incluindo características individuais dos pacientes, como idade, gênero, presença de xerostomia, fatores genéticos, função renal, tabagismo, consumo de álcool e comorbidades, além de variáveis relacionadas ao tratamento, como a área irradiada, dose, tipo de agente terapêutico e quimioterapia concomitante12,13.

 

A identificação de fatores de risco específicos e o desenvolvimento de intervenções preventivas são fundamentais para reduzir a frequência e a gravidade da MO, contribuindo para melhores desfechos clínicos. No entanto, os estudos sobre fatores de risco associados à MO induzida por radioterapia em pacientes com CCP ainda são limitados e apresentam resultados inconsistentes14.

 

O objetivo deste estudo foi avaliar a MO e seus fatores de risco em pacientes com CCP em tratamento radioterápico. Compreender esses fatores é essencial para desenvolver estratégias preventivas e terapêuticas eficazes, melhorando os desfechos clínicos e a qualidade de vida dos pacientes.

 

MÉTODO

Este estudo adotou um delineamento observacional transversal de natureza retrospectiva, conduzido de acordo com as diretrizes do checklist STROBE (Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology)15, que está disponível como Material Suplementar.

 

Foram utilizados dados extraídos dos sistemas MVSOUL16 e MVPEP17, referentes ao período de 1 de janeiro de 2018 a 31 de dezembro de 2022. Nesses anos, foram atendidos no Hospital do Câncer de Muriaé um total de 421 indivíduos diagnosticados com CCECP. Com base nesse total populacional, foi realizado o cálculo amostral utilizando a fórmula de Cochran, adequada para populações finitas. Considerou-se um nível de confiança de 95%, uma margem de erro de 5% e uma proporção esperada (p) de 0,5, visando obter o tamanho de amostra mais conservador possível. A substituição dos valores na fórmula resultou em um tamanho amostral mínimo de 201 pacientes. Foram incluídos e analisados 209 prontuários, número superior ao mínimo necessário, garantindo maior robustez aos dados obtidos.

 

A seleção dos 209 prontuários foi realizada por amostragem consecutiva, incluindo todos os pacientes que preencheram os critérios de inclusão no período avaliado, o que reduz o risco de viés de seleção. Foram incluídos pacientes de ambos os sexos, com idade mínima de 18 anos, diagnosticados histopatologicamente com CCECP, e que receberam tratamento antineoplásico com radioterapia, quimioterapia e/ou cirurgia. Foram excluídos prontuários com informações incompletas.

 

Foram coletadas de prontuários eletrônicos no sistema MVPEP e MVSOUL características epidemiológicas, sociodemográficas (sexo, idade, cor, escolaridade e estado civil), hábitos de vida (tabagismo, etilismo) e informações clínicas como comorbidades, localização, estadiamento do tumor, tipo de tratamento. Além disso, foram coletados dados sobre a condição bucal: MO (grau e frequência), localização da lesão, uso de sonda nasogástrica por mucosite e por outros motivos, e xerostomia.

 

A análise descritiva das variáveis categóricas foi realizada por meio das frequências absolutas e relativas (%), e as variáveis numéricas foram expressas como medianas. Para avaliar a associação entre variáveis categóricas, utilizou-se o teste qui-quadrado ou, quando necessário, o teste exato de Fisher. As diferenças entre os grupos quanto à frequência e grau de mucosite foram analisadas pelo teste Mann-Whitney18. As análises estatísticas foram realizadas no software R, versão 4.3.119 (R Core Team, 2023), considerando-se p<0,05 como estatisticamente significativo.

 

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FAMINAS sob parecer n.º 6.913.227 (CAAE: 79778124.0.0000.5105). A pesquisa foi conduzida conforme a Resolução n.º 466/12 do Conselho Nacional de Saúde20. A dispensa do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi solicitada, pois trata-se de uma análise retrospectiva, garantindo a anonimização dos dados dos pacientes e a proteção de suas informações sensíveis. Todas as informações foram coletadas e analisadas em conformidade com os princípios éticos e legais vigentes.

 

RESULTADOS

A amostra foi composta majoritariamente por homens (85,65%) e a faixa etária predominante foi de 60 a 70 anos (37,87%). Quanto à raça/cor, a maioria dos participantes se identificou como parda (55,50%). Em relação ao estado civil, 52,63% eram casados. Em termos de escolaridade, a maior parte dos participantes possuía ensino fundamental incompleto (64,82%) ou era analfabeta (14,07%). Em relação aos hábitos nocivos, 47,37% eram ex-consumidores de bebidas alcoólicas e 63,16% afirmaram ser atuais fumantes. A maioria possuía arco dentado (81,35%). Em relação ao uso de próteses, 28,20% dos pacientes faziam uso de algum tipo, sendo 19,14% com prótese total e 7,18% com prótese parcial removível. As principais comorbidades descritas nos prontuários foram hipertensão arterial (33,50%), diabetes mellitus tipo II (10,29%) e gastrite (11,48%) (Tabela 1).

 

Tabela 1. Perfil sociodemográfico, oral, clínico e hábitos nocivos dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço atendidos no Hospital do Câncer de Muriaé (2018-2022)

Variável

n (%)

Sexo

 

Feminino

30 (14,35%)

Masculino

179 (85,65%)

Faixa etária

 

<50

37 (13,00%)

>70

32 (20,19%)

50 – 59

66 (28,94%)

60 – 70

74 (37,87%)

Raça/Cor

 

Parda

116 (55,50%)

Branca

60 (28,71%)

Preta

33 (15,79%)

Estado civil

 

Casado

110 (52,63%)

Solteiro

69 (33,01%)

Separado judicialmente

19 (9,09%)

Viúvo

10 (4,78%)

União consensual

1 (0,48%)

Escolaridade

 

Fundamental incompleto

129 (64,82%)

Analfabeto

28 (14,07%)

Fundamental completo

19 (9,55%)

Nível médio

13 (6,53%)

Nível superior completo

9 (4,52%)

Nível superior incompleto

1 (0,50%)

Etilista

 

Ex-consumidor

99 (47,37%)

Sim

92 (44,02%)

Nunca

18 (8,61%)

Tabagista

 

Sim

132 (63,16%)

Ex-fumante

57 (27,27%)

Nunca

20 (9,57%)

Tipo de arco

 

Dentado

170 (81,35%)

Desdentado

39(18,65%)

Uso de prótese

 

Não

150 (71,80%)

Sim

59 (28,20%)

Prótese total

 

Não

169 (80,86%)

Sim

40 (19,14%)

Prótese parcial removível

 

Não

194 (92,82%)

Sim

15 (7,18%)

Implante

 

Não

207 (99,04%)

Sim

2 (0,96%)

Hipertensão

 

Não

135 (66,50%)

Sim

68 (33,50%)

Diabetes

 

Não

183 (89,71%)

Sim

21 (10,29%)

Gastrite

 

Não

185 (88,52%)

Sim

24 (11,48%)

Nota: Escolaridade: “Sem informação” n=10, Hipertensão: “Sem informação” n=6, Diabetes: “Sem informação” n=5.

 

 

A localização mais comum do CCP foi na base da língua (28,71%). Outras áreas frequentes incluíram o assoalho da boca e o palato, ambos com 11,48%. Menos frequentes foram a gengiva (1,91%) e o lábio (0,96%). Quanto ao estadiamento, a maioria dos casos estava no estádio 4 (78,37%), seguida pelos estádios 3 (12,50%), 2 (8,17%) e 1 (0,96%) (Tabela 2).

 

A maioria dos pacientes (57,89%) recebeu tratamento combinado de radioterapia e quimioterapia, enquanto 15,79% fizeram radioterapia isolada. Quanto à radioterapia, 64,82% receberam tratamento curativo e 35,18% paliativo. A cisplatina foi o medicamento mais utilizado (62,20%). A quimioterapia foi suspensa em 33% dos casos, dos quais 3,35% foram em razão da MO (Tabela 2).

 

Em relação aos eventos adversos, metade dos pacientes (50,24%) apresentou xerostomia, seguida por disfagia em 22,2%, sialorreia em 13,90%, odinodisfagia em 9,57%, radiodermite em 6,48% e náusea em 6,17% (Tabela 2).

 

Tabela 2. Dados da doença, do tratamento e dos eventos adversos observados durante o tratamento dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço atendidos no Hospital do Câncer de Muriaé (2018-2022)

Variável

n (%)

Modalidade de tratamento

 

Radioterapia isolada

33 (15,79%)

Radioterapia e quimioterapia

121 (57,89%)

Radioterapia e cirurgia

21 (10,05%)

Radioterapia, quimioterapia e cirurgia

34 (16,27%)

Tipo de radioterapia

 

Radioterapia curativa

129 (64,82%)

Radioterapia paliativa

70 (35,18%)

Radioterapia suspensa

 

Não

183 (93,37%)

Sim

13 (6,63%)

Radioterapia suspensa por mucosite

 

Não

7 (53,85%)

Sim

6 (46,15%)

Cisplatina

 

Sim

130 (62,20%)

Não

79 (37,80%)

Carboplatina

 

Não

185 (88,52%)

Sim

24 (11,48%)

Paclitaxel

 

Não

183 (87,56%)

Sim

26 (12,44%)

Fluorouracila

 

Não

193 (92,34%)

Sim

16 (7,66%)

Quimioterapia suspensa por mucosite

 

Não

202 (96,65%)

Sim

7 (3,35%)

Local do tumor

 

Base da língua

60 (28,71%)

Outras partes e partes não especificadas Da língua

29 (13,88%)

Amígdala

25 (11,96%)

Assoalho da boca

24 (11,48%)

Palato

24 (11,48%)

Outras partes e partes não especificadas Da boca

21 (10,05%)

Orofaringe

19 (9,09%)

Gengiva

4 (1,91%)

Lábio

2 (0,96%)

Estadiamento

 

4

163 (78,37%)

3

26 (12,50%)

2

17 (8,17%)

1

2 (0,96%)

Xerostomia

 

Presente

103 (50,24%)

Ausente

102 (49,76%)

Outros efeitos adversos

 

Disfagia

144 (22,20%)

Sialorreia

90 (13,90%)

Odinodisfagia

62 (9,57%)

Radiodermite

42 (6,48%)

Náusea

40 (6,17%)

 Outros (n=58)                                               270 (41,70%)

Nota: Xerostomia: “Sem informação” n=4; Radioterapia suspensa: “Sem informação” n=13, “Não se aplica” n=5; Quimioterapia suspensa: “Sem informação” n=9; Local do tumor: “Sem informação” n=1; Estadiamento: “Sem informação” n=1.

 

 

A MO foi diagnosticada em 65,37% dos pacientes e classificada, de acordo com a escala da Organização Mundial da Saúde (OMS), como MO grau 3 em 36,56%. Quanto à localização, os lábios foram a região mais afetada, com 6,70% dos pacientes, seguidos pela língua (5,74%) e mucosa jugal (4,78%). O uso de sonda nasoenteral em função da MO foi observado em 10,29% da amostra. A média do total de frações de radioterapia até o aparecimento da MO foi de 21,20, com uma dose média de radiação de 59,36 Gy associada a casos de grau 3 e 4. O tempo médio para o início da MO após a radioterapia foi de 40,97 dias (Tabela 3).

 

Foi observada uma associação significativa entre o sexo feminino e a incidência de MO (p=0,020), embora não tenha sido observada associação entre o sexo e o grau de MO (p=0,267). Não houve correlação significativa entre a idade e o grau de MO (p=0,111). Também não foram encontradas associações entre o uso de tabaco e a ocorrência de MO (p=0,702), nem entre o uso de tabaco e o grau de MO (p=0,093). Da mesma forma, não se observou associação entre o consumo de álcool e o grau (p=0,362) ou a ocorrência de MO (p=0,702) (Tabela 4 e Tabela 5). Também não houve associação significativa entre a presença de comorbidades e a ocorrência ou o grau de MO (p=0,074 e p=0,520, respectivamente) (Tabela 4 e Tabela 5).

 

Foi observada uma associação significativa entre a ocorrência de MO e o uso de sonda (p=0,001), assim como entre o grau de MO e o uso de sonda (p<0,001). Houve uma associação significativa entre xerostomia e a ocorrência de MO (p=0,019), mas não foi observada associação entre xerostomia e o grau de MO (p=0,991) (Tabela 4 e Tabela 5).

 

Existe uma associação significativa entre o local do tumor e a ocorrência de MO (p=0,022). Também foi observada uma associação significativa entre a ocorrência de MO e o tipo de radioterapia (p=0,001), com maior prevalência de MO em pacientes tratados com radioterapia curativa. Além disso, o grau de MO também foi mais elevado em pacientes que receberam radioterapia curativa (p=0,013) (Tabela 4 e Tabela 5).

 

Tabela 3. Características clínicas da MO dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço atendidos no Hospital do Câncer de Muriaé (2018-2022)

Variável

n (%)

MO

 

Presente

134 (65,37%)

Ausente

71 (34,63%)

Escore mais alto de MO

 

Grau 1

17 (18,28%)

Grau 2

29 (31,18%)

Grau 3

34 (36,56%)

Grau 4

13 (13,98%)

MO em lábio

 

Não

195 (93,30%)

Sim

14 (6,70%)

MO em língua

 

Não

197 (94,26%)

Sim

12 (5,74%)

MO em mucosa jugal

 

Não

199 (95,22%)

Sim

10 (4,78%)

MO em assoalho buccal

 

Não

205 (98,09%)

Sim

4 (1,91%)

MO em gengiva

 

Não

207 (99,04%)

Sim

2 (0,96%)

MO em palato

 

Não

203 (97,13%)

Sim

6 (2,87%)

MO em orofaringe

 

Não

205 (98,09%)

Sim

4 (1,91%)

MO em fundo de vestíbulo

 

Não

208 (99,52%)

Sim

1 (0,48%)

Uso de sonda nasoenteral por mucosite

 

Não

183 (89,71%)

Sim

21 (10,29%)

Frações de RT até o aparecimento da mucosite oral

 

0 – 10

19 (17,60%)

11 – 15

28 (25,90%)

16 – 29

40 (37,00%)

≥30

21 (19,40%)

Dose de radiação associada à MO grau 3 e 4

 

<32 Gy

4 (9,10%)

32 – <60 Gy

13 (29,50%)

60 – 72 Gy

25 (56,80%)

>72 Gy

2 (4,50)

Tempo médio para início da MO após a RT

 

≤14 dias

2 (2,80%)

15 – 30 dias

18 (25,00%)

31 – 60 dias

32 (44,44%)

>60 dias

20 (27,80%)

Legendas: MO = Mucosite oral; RT = Radioterapia.

Nota: MO: “Sem informação” n=4; Escore mais alto de MO: “Sem informação” n=48, “Não se aplica” n=68; Uso de sonda nasoenteral: “Sem informação” n=6; Uso de sonda nasoenteral por mucosite: “Sem informação” n=5.

 

Tabela 4. Relação entre a mucosite oral e seus fatores de risco em pacientes com câncer de cabeça e pescoço em tratamento no Hospital do Câncer de Muriaé

Variável

Mucosite oral

p

 

Presente

Ausente

 

Sexo

 

 

 

Masculino

109 (61,9%)

67 (38,10%)

0,020*

Feminino

25 (86,2%)

4 (13,8%)

 

Faixa etária

 

 

 

Jovens

11 (57,90%)

8 (42,10%)

0,472

Não jovens

123 (66,10%)

 63 (33,90%)

 

Tabagismo

 

 

 

Sim

 84 (65,10%)

45 (34,90%)

 

Ex-fumante

36 (63,2%)

21 (36,80%)

0,702

Nunca

14 (73,7%)

5 (26,3%)

 

Etilismo

 

 

 

Ex-consumidor

63 (63,60%)

36 (36,40%)

 

Sim

58 (64,40%)

32 (35,60%)

0,702

Nunca

13 (81,30%)

3 (18,80%)

 

Local do tumor

 

 

 

Orofaringe

9 (50,0%)

9 (50,0%)

 

Língua

64 (71,1%)

26 (28,9%)

0,022*

Palato

10 (43,5%)

13 (56,5%)

 

Boca

15 (71,5%)

6 (28,5%)

 

Assoalho

19 (82,6%)

4 (17,4%)

 

Glândula parótida

0 (0,00%)

1 (100,0%)

 

Amígdala

15 (62,5%)

9 (37,5%)

 

Gengiva

1 (25,0%)

3 (75,0%)

 

Lábio

1 (100,0%)

0 (0,00%)

 

Estadiamento

 

 

 

3

20 (80,0%)

5 (20,0%)

 

4

102 (63,4%)

59 (36,6%)

0,377

2

11 (64,7%)

6 (35,3%)

 

1

1 (50,0%)

1 (50,0%)

 

Tratamento

 

 

 

RT

15 (50,0%)

15 (50,0%)

 

QT RT

83 (69,75%)

36 (30,25%)

 

CIR RT

18 (81,82%)

4 (18,18%)

0,068

CIR RT QT

18 (62,07%)

11 (37,93%)

 

Dose de radiação

 

 

 

<60 Gy

36 (52,2%)

33 (47,8%)

0,001*

≥60 Gy

97 (75,8%)

31 (24,2%)

 

Xerostomia

 

 

 

Ausente

58 (56,9%)

44 (43,1%)

 

Presente

75 (73,5%)

27 (26,5%)

0,019*

Motivo do uso de sonda de alimentação

 

 

 

Mucosite

21 (100,00%)

0 (0,00%)

<0,001*

Outros fatores

51 (54,80%)

42 (45,20%)

 

Não sondado

61 (70,90%)

25 (29,10%)

 

Comorbidades (hipertensão, diabetes, gastrite)

 

 

 

Não

69 (60,5%)

45 (39,5%)

 

Sim

64 (73,6%)

23 (26,4%)

0,074

Legendas: * = Estatisticamente significativo; RT = Radioterapia; QT = Quimioterapia; CIR = Cirurgia.

 

 

Tabela 5. Fatores de risco associados ao grau da mucosite oral nos pacientes com câncer de cabeça e pescoço atendidos no Hospital do Câncer de Muriaé (2018-2022)

Variável

Grau da mucosite oral

p

 

1

3

2

4

 

Sexo

 

 

 

 

 

Masculino

16 (21,10%)

29 (38,20%)

22 (28,90%)

9 (11,80%)

0,267

Feminino

1 (5,90%)

5 (29,40%)

7 (41,20%)

4 (23,50%)

 

Faixa etária

 

 

 

 

 

Jovens

3 (33,30%)

0 (0,00%)

5 (55,60%)

1 (11,10%)

 

Não jovens

14 (16,70%)

34 (40,50%)

24 (28,60%)

12 (14,30%)

0,111

Tabagismo

 

 

 

 

 

Sim

7 (13,00%)

22 (40,70%)

19 (35,20%)

6 (11,10%)

 

Ex-fumante

10 (34,50%)

9 (31,00%)

6 (20,70%)

4 (13,80%)

0,093

Nunca

0 (0,00%)

3 (30,00%)

4 (40,00%)

3 (30,00%)

 

Etilismo

 

 

 

 

 

Ex-consumidor

11 (25,00%)

15 (34,10%)

12 (27,30%)

6 (13,60%)

0,362

Sim

6 (15,00%)

15 (37,50%)

15 (37,50%)

4 (10,00%)

 

Nunca

0 (0,00%)

4 (44,40%)

2 (22,20%)

3 (33,3%)

 

Local do tumor

 

 

 

 

 

Orofaringe

3 (75,0%)

0 (0,00%)

1 (25,0%)

0 (0,00%)

 

Língua

4 (9,1%)

18 (40,9%)

13 (29,5%)

9 (20,5%)

 

Palato

1 (16,7%)

3 (50,0%)

2 (33,3%)

0 (0,00%)

 

Boca

3 (27,3%)

2 (18,2%)

4 (36,3%)

2 (18,2%)

 

Assoalho

1 (7,7%)

6 (46,2%)

5 (38,5%)

1 (7,7%)

0,467

Glândula parótida

0 (0,00%)

0 (0,00%)

0 (0,00%)

0 (0,00%)

 

Amígdala

5 (37,5%)

4 (28,6%)

4 (28,6%)

1 (7,1%)

 

Gengiva

0 (0,0%)

0 (0,0%)

0 (0,0%)

0 (0,0%)

 

Lábio

0 (0,0%)

1 (100,0%)

0 (0,0%)

0 (0,0%)

 

Estadiamento

 

 

 

 

 

3

 

2 (16,7%)

4 (33,3%)

5 (41,7%)

1 (8,3%)

 

4

14 (18,4%)

27 (35,5%)

24 (31,6%)

11 (14,5%)

0,868

2

1 (20,0%)

3 (60,0%)

0 (0,0%)

1 (20,0%)

 

1

0 (0,0%)

0 (0,0%)

0 (0,0%)

0 (0,0%)

 

Tratamento

 

 

 

 

 

RT

0 (0,0%)

5 (62,5%)

2 (25,0%)

1 (12,5%)

 

QT RT

12 (20,69%)

19 (32,76%)

19 (32,76%)

8 (13,79%)

 

CIR RT

3 (23,43%)

6 (42,86%)

4 (28,57%)

1 (7,14%)

 

CIR RT QT

2 (15,38%)

4 (30,77%)

4 (30,77%)

3 (23,08%)

 

Modalidade da RT

 

 

 

 

 

Paliativa (<60 Gy)

0 (0,0%)

10 (43,5%)

7 (30,4%)

6 (26,1%)

0,013*

Curativa (≥60 Gy)

17 (24,6%)

24 (34,8%)

21 (30,4%)

7 (10,1%)

 

Xerostomia

 

 

 

 

 

Ausente

14

13

7

5

0,991

Presente

20

16

10

7

 

Motivo do uso de sonda de alimentação

 

 

 

 

 

Mucosite

0 (0,00%)

8 (44,44%)

1 (5,56%)

9 (50,00%)

p<0,001*

Outros fatores

6 (20,00%)

14 (46,67%)

10 (33,33%)

0 (0,00%)

 

Não sondado

11 (24,44%)

12 (26,67%)

18 (40,00%)

4 (8,89%)

 

Comorbidades (hipertensão, diabetes, gastrite)

 

 

 

 

 

Não

21 (42,8%)

15 (30,6%)

7 (14,3%)

6 (12,3%)

0,520

Sim

13 (29,5%)

14 (31,8%)

10 (22,8%)

7 (15,9%)

 

Legendas: * = Significância estatística p<0,05; RT = Radioterapia; QT = Quimioterapia; CIR = Cirurgia.

 

 

DISCUSSÃO

A MO acometeu 65,37% dos pacientes do estudo, com gravidade variando de Grau 1 a 4. Esse resultado corrobora a literatura, que relata a MO como o efeito adverso mais frequente em pacientes com CCP, podendo chegar de 80% a 90% desses pacientes, especialmente quando a quimioterapia é administrada concomitantemente com a radioterapia21,22.

 

Na amostra estudada, os locais mais comuns de manifestações de MO foram lábios (6,70%) e língua (5,74%). A MO induzida por quimioterapia geralmente ocorre nas superfícies não queratinizadas, como as laterais e a região ventral da língua, a mucosa bucal e o palato mole23. Por outro lado, a MO induzida por radioterapia se restringe às áreas dentro do campo de irradiação, com maior impacto sobre tecidos não queratinizados24,25. Logo, a combinação de radioterapia com quimioterapia concomitante aumenta significativamente o risco de MO graus 3 e 4, sendo aproximadamente quatro vezes mais frequente26, corroborando os achados que identificaram esse regime terapêutico como o mais associado à MO.

 

A MO é uma complicação comum da radioterapia, caracterizada pela inflamação e ulceração da mucosa oral, que afeta diretamente a qualidade de vida dos pacientes. Com o aumento da gravidade da MO, a dor intensa e a disfagia podem dificultar a ingestão alimentar, tornando necessário o suporte nutricional por meio de sondas enterais21. Neste estudo, observou-se uma associação significativa entre a presença de MO e o uso de sonda (p=0,001), além de uma correlação entre o grau da lesão e essa necessidade (p<0,001). Esses achados estão em consonância com um estudo prospectivo27, que também identificou uma relação entre a gravidade da MO e a maior taxa de colocação de sondas de alimentação, com a frequência de colocação de sondas aumentando conforme a gravidade da lesão.

 

Os dados também revelaram que as mulheres tendem a apresentar MO com mais frequência do que os homens, sugerindo possíveis diferenças na susceptibilidade ou na resposta ao tratamento entre os sexos. Um estudo retrospectivo28 corrobora essa observação, sugerindo que hormônios sexuais femininos, como estrogênio e progesterona, podem impactar negativamente a imunidade oral, contribuindo para a etiopatogenia da MO.

 

Outro fator relevante é a xerostomia, uma complicação frequente da radioterapia em pacientes com CCP, que pode contribuir indiretamente para o desenvolvimento e agravamento da MO. A redução do fluxo salivar compromete a função protetora da saliva na cavidade oral, tornando a mucosa mais suscetível a lesões e inflamações, o que pode intensificar a gravidade da MO29. Além disso, a hipossalivação altera o equilíbrio da microbiota oral, favorecendo o crescimento de patógenos oportunistas, como fungos, o que pode levar a infecções secundárias e aumentar o risco de recorrência da MO durante o tratamento30. Essas alterações no microbioma oral estão associadas ao desenvolvimento de MO grave. Esse achado é consistente com a literatura, que demonstra que a xerostomia pode estar associada a alterações na microbiota oral e à proliferação de microrganismos patogênicos, exacerbando o quadro inflamatório31. Em consonância, os achados de outro estudo32 indicam que a hipossalivação resulta em um aumento de cocos acidogênicos no biofilme supragengival e em uma elevação dos níveis salivares de cocos cariogênicos, especialmente Streptococcus do grupo mutans, favorecendo o desenvolvimento da MO.

 

Por fim, os resultados demonstram uma associação significativa entre a radioterapia curativa (≥60 Gy) e a ocorrência de MO, bem como a progressão para graus graves da condição (p=0,013). Esse achado pode ser atribuído ao efeito cumulativo da radioterapia, uma vez que a gravidade da MO é influenciada por fatores como a dose total administrada, a técnica empregada e a presença de terapia sistêmica concomitante21. A radioterapia curativa, por envolver um tempo de tratamento mais prolongado e doses totais superiores às da paliativa, tende a causar maiores danos à mucosa oral. Evidências sugerem que a dose de radiação recebida é um dos principais preditores de MO, com doses cumulativas superiores a 50 Gy associadas a um risco elevado de formas severas da condição33. O estudo de Mazzola et al.34 indicou que uma dose média de 50 Gy e uma dose máxima de 65 Gy na mucosa oral estão fortemente relacionadas à MO de grau 2 ou superior. Esses achados reforçam a necessidade de estratégias eficazes para minimizar os efeitos adversos da radioterapia, especialmente em regimes curativos de alta dose.

 

CONCLUSÃO

A MO é uma complicação significativa do tratamento oncológico, com sua ocorrência e gravidade influenciadas por fatores demográficos, anatômicos e terapêuticos. A maior predisposição observada em mulheres e em pacientes com tumores na língua e na boca sugere possíveis variações biológicas e anatômicas que aumentam o risco de MO. A associação entre MO grave e o uso de sonda nasoenteral indica que a forma grave da doença prejudica a ingestão alimentar, tornando necessário o suporte nutricional. Além disso, a xerostomia foi identificada como fator de risco, reforçando a importância de medidas para manutenção da saliva durante o tratamento. Pacientes submetidos à radioterapia curativa apresentaram maior prevalência e gravidade de MO, destacando a influência da dose na evolução da condição. Esses achados ressaltam a necessidade de abordagens personalizadas para prevenir e tratar a MO em pacientes com CCP submetidos ao tratamento antineoplásico.

 

Entretanto, uma limitação deste estudo retrospectivo, que utilizou dados dos prontuários médicos, é a dependência da qualidade e da precisão das informações registradas nos registros clínicos. Como os prontuários são preenchidos de acordo com os critérios e a prática clínica de cada profissional, pode haver variação na documentação de dados importantes, como sintomas, tratamentos e complicações. Além disso, a natureza retrospectiva do estudo impede o controle rigoroso de variáveis que poderiam ser mais bem observadas em um estudo prospectivo, o que pode resultar em viés de seleção ou perda de dados relevantes.

 

 

AGRADECIMENTOS

À Fundação Cristiano Varella pela oportunidade concedida para a realização desta pesquisa em suas dependências, bem como pelo apoio institucional fundamental ao desenvolvimento deste trabalho.

 

 

CONTRIBUIÇÕES

Laila Thainara André de Souza contribuiu na concepção e no planejamento do estudo; na obtenção, na análise e interpretação dos dados; na redação e revisão crítica. Juliana Chagas Pereira Costa contribuiu na concepção e no planejamento do estudo. Cristiane Ferreira Alfenas contribuiu na revisão crítica. Ana Carolina Ribeiro de Oliveira contribuiu na análise e interpretação dos dados. Adriele de Freitas Neiva Lessa contribuiu na concepção e no planejamento do estudo; na redação e revisão crítica. Todas as autoras aprovaram a versão final a ser publicada.

 

 

DECLARAÇÃO DE CONFLITOS DE INTERESSE

Nada a declarar.

 

 

DECLARAÇÃO DE DISPONIBILIDADE DE DADOS

Todos os conteúdos subjacentes ao texto do artigo estão contidos no manuscrito.

 

 

FONTES DE FINANCIAMENTO

Não há.

 

 

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Recebido em 7/5/2025

Aprovado em 30/6/2025

 

Editor-associado: Daniel Cohen Goldemberg. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-0089-1910

Editora-científica: Anke Bergmann. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-1972-8777

 

 

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