Contradições entre o Relato de Dor no Pós-Operatório e a Satisfação do Doente com a Analgesia

Autores

  • Erika Maria Monteiro Santos Escola de Enfermagem. Universidade de São Paulo (USP). São Paulo (SP), Brasil
  • Cibele Andrucioli de Matos Pimenta Escola de Enfermagem. Universidade de São Paulo (USP). São Paulo (SP), Brasil

DOI:

https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2000v46n1.3407

Palavras-chave:

Dor no Pós-Operatório, Avaliação da Dor, Analgesia, Dor Aguda

Resumo

Estudos mostram que a dor no pós-operatório é freqüente e inadequadamente controlada. Este trabalho tem por objetivos caracterizar o quadro álgico de doentes oncológicos no pós-operatório, os analgésicos prescritos e a satisfação do doente com a analgesia. O estudo foi realizado em um hospital escola e a população foi constituída por 55 doentes oncológicos, maiores de 19 anos, submetidos a procedimento cirúrgico entre setembro e outubro de 1997. Observou-se que 78,2% dos doentes referiu dor nas primeiras 24 horas do pós-operatório. A média de intensidade de dor foi 5,6. Dor moderada foi referida por 58,3% dos doentes e intensa em 27,1% dos casos. Observou-se predomínio da dimensão afetiva na descrição da dor. Sono/repouso e movimentação no leito foram as atividades mais citadas como prejudicadas pela dor. A prescrição de antinflamatórios não hormonais associada a opiáceos foi a mais freqüente (57%). O regime de administração em horário fixo exclusivo e o regime misto representaram, respectivamente, 45,2% e 42,8% das prescrições. A via endovenosa foi utilizada em 57,8% dos casos, seguida da via intramuscular (25%). A análise comparativa entre os analgésicos prescritos e o recebido mostrou que a média de dose recebida foi de 92% para o regime de horário fixo e de 80% para o “se necessário” exclusivo. A maioria dos doentes (74,4%) mostrou-se satisfeita com a analgesia recebida, o que se contradiz à alta freqüência de dor, à intensidade da queixa álgica e ao prejuízo da dor para o desempenho das atividades de vida diária observados. Talvez o conceito de que a vivência dolorosa no pós-operatório é inevitável tenha influenciado esta apreciação.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

KITSON, A. Post-operative pain management: a literature review. J. Clin. Nurs., v.3, n.1, p. 7 - 18, 1994. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1365-2702.1994.tb00353.x

MARTINS, L.M.M.; PIMENTA, C.A.de M. Dor e satisfação com a analgesia no pós-operatório. In: Simpósio Internacional da Dor, 3., São Paulo, 1997. Programa oficial. São Paulo, Simbidor, 1997, p.18-9.

PAICE, J.A.; MAHON, S.M.; CALLAHAN, M.F. Factors associated with adequate pain control in hospitalized postosurgical patients diagnosed with cancer. Cancer Nurs, v. 14, n.6, p.298 - 305, 1991. DOI: https://doi.org/10.1097/00002820-199112000-00003

PIMENTA, CA de M. et al. Don ocorrência e evolução no pós-operatório de cirurgia cardíaca e abdominal. Rev. Paul. Enf, v.ll, n.l, p.3-10, 1992.

READY, L.B.; EDWARDS, W.T. Tratamento da dor aguda. Rio de Janeiro, Revinter, 1997.

BONICA, J.J. The management of pain. 2.ed. Philadelphia/London, Lea & Febiger, 1990. v.l. cap.2, p. 18-27: Definitions and taxonomy of pain.

TEIXEIRA, M.J.; PIMENTA, C.A. de M. Síndromes dolorosas. Rev.Med., v.74, n.2, p. 65 -6, 1995.

BONICA, J.J. Anatomic and psysiologic basis of nocipetion and pain. The management of pain. 2.ed. Philadelphia/London, Lea & Febiger, 1990. v.l. cap.3, p.28-94.

BONICA, J.J.; YAKSH, T; LIEBESKIND, J.C.; PECHINICK, R.N.; DEPAULIS, A. Biochemestryand modulation of nociception and pain. In: BONICA, J.J. The management of pain. 2.ed. Philadelphia/London, Lea & Febiger, 1990. v.l. cap.4, p.95-121.

COELI, S.C.M. Modelo de tratamento de dor aguda pós-operatória, clínica e traumática. In: Simpósio Internacional da Dor, 3., São Paulo, 1997. Anais. São Paulo, Simbidor, 1997, p. 57-60.

JACKSON, A Acute pain: its physiology and the pharmacology ofanalgesia. Nurs. Times, v.91, n. 16, p.27-8,1995.

CLOSS, S.J. An exploratory analysis of nurses’ provision of postoperative analgesic drugs. J Adv Nurs, v. 15, n. 1, p.42 - 9, 1990. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1365-2648.1990.tb01671.x

PIMENTA, C.A. de M. Escalas de avaliação de dor. In: TEIXEIRA, M.J. Dor: conceitos gerais. São Paulo, Limay, 1994.

PIMENTA, C.A. de M.; TEIXEIRA, M.J. Avaliação da dor. Rev.Med., v.76, n.1, p.27-35, 1997.

CARR, E.C.J. Postoperative pain: patients’ expectations and experiences. J. Adv. Nurs., v.15, n.1, p.89-100, 1990. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1365-2648.1990.tb01677.x

DONAVAN, M.I.; DILON, P. Incidence and characteristics of pain in a sample of hospitalized cancer patients. Cancer Nurs, v.10, n.2, p.85 - 92, 1987. DOI: https://doi.org/10.1097/00002820-198704000-00005

TUCKER, C. Acute pain and substance abuse in surgical patients. J Neuroci Nurs, v.22, n.6, p. 339- 50, 1990. DOI: https://doi.org/10.1097/01376517-199012000-00003

UNITES STATES. U.S. Departament of Health and Human Services. Agency for Health Care Policy and Research. Acute pain management: operative and medical procedures and trauma. Rockville, AHCPR, 1992. (Clinical practice guideline, n. 1.)

DONAVAN, B.D. Patient attitudes to postoperative pain relief Anaesth. Intens. Care., v. 11, n.2, p. 125 - 9, 1983. DOI: https://doi.org/10.1177/0310057X8301100206

KUNN, S. et al. Perceptions of pain relief after surgery. BMJ, V. 300, n.6741, p.1687 -90, 1990. DOI: https://doi.org/10.1136/bmj.300.6741.1687

LYNCH, E.P. et al. Patient experience of pain after elective noncardiac surgery. Ancsth. Analg., v. 85, n.1, p. 117- 23, 1997. DOI: https://doi.org/10.1097/00000539-199707000-00021

OWEN, H.; McMILLAN, V.; ROGOWSKI, D. Postoperative pain therapy: a survey of patients’ expectations and their experiences. Pain, v.4l, n.3, p.303-7, 1990. DOI: https://doi.org/10.1016/0304-3959(90)90007-Z

OATES, J.D.L.; SNOWDON, S. L; JAYSON, D.WH. Failure of pain relief after surgery. Anaesthesia, v.49, n.9, p.755-8, 1994. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1365-2044.1994.tb04444.x

SILVA, I.J. da C.; CHAMHIE JUNIOR, E; NOVO, N.E; JULIANO, Y; GOLDENBERG, S. Frequência da dor após a ligadura elástica de hemorróidas: estudo prospectivo e randomizado. Rev. Bras. Golo-Proct, v. 10, n.4, p. 134- 8, 1990.

HGSKISSON, E.C. Measurement of pain. Lancet, v.2, p. 1127- 31, 1974. DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(74)90884-8

PIMENTA, C.A. de M.; CRUZ, D. de A.L.M. da; SANTOS, J.L.E Instrumentos para avaliação de dor: o que há em nosso meio. Arq. Bras. Neurocir., São Paulo, v.17, n.1, p.15-24, 1998.

PIMENTA, C.A. de M. et al. Versão reduzida do questionário de dor McGill para Língua Portuguesa. In: Simpósio Internacional da Dor, 3., São Paulo, 1997. Programa oficial. São Paulo, SIMBIDOR, 1997, p. 26.

DAUT, R.L.; CLEEDLAND, C.S.; FLANERY, R.C. Developement of the Wisconsin Brief Pain Questionnaire to asses pain in cancer and other diseases. Pain, v. 17, n. 2, p. 197-210, 1983. DOI: https://doi.org/10.1016/0304-3959(83)90143-4

CLEELAND, C.S.; GONIN,R; HATFIELD, A.K.; EDMONSON, J.H.; BLUM, R.H.; STEWART, J.A.; PANDYA, K.J. Pain and its treatment in outpatients with metastatic cancer. N.Engl. J. Med., v.330, n.9, p. 592 -6, 1994. DOI: https://doi.org/10.1056/NEJM199403033300902

VALDIX, S.W.; PUNTILLO, K.A. Pain, pain relief and accuracy of their recall after cardiac surgery. Prog. Cardiovasc. Nurs., v.lO, n.3, p.3 - 11, 1995.

WASYLAK, TJ. Surgical pain management. In: WATT, J.H.W., DONAVAN, M.J. Pain management: nursing perspective. St Louis, Mosby Year Book, 1992. cap. 15, p. 401-25

MELZACK, R. The McGill pain questionnaire: major properties and scorin methods. Pain, v. 1, n.3, p.277-99, 1975. DOI: https://doi.org/10.1016/0304-3959(75)90044-5

PIMENTA, C.A. de M.; TEIXEIRA, M.J. Proposta de adaptação do questionário de dor McGill para a língua portuguesa. Rev. Esc. Enf USP, v.30, p.473-83, 1996. DOI: https://doi.org/10.1590/S0080-62341996000300009

WILKE, D.J.; SAVEDRA, M.C.; HOLZEMER, W.L.; TESLER, M.D.; PAUL, S.M. Use of the McGill Pain Questionnaire to measure pain: a meta-analysis. Nurs. Res., v. 39, n.1, p.36-41, 1990. DOI: https://doi.org/10.1097/00006199-199001000-00008

BENEDETTI, C.; BUTLER, S.H. Systemic analgesics. In: BONICA, J.J. The management of pain. 2.ed. Philadelphia/London, Lea & Febiger, 1990. v.2. cap.78, p.1640-75.

AMERICAN PAIN SOCIETY- Principies of analgesic use in the treatment of acute pain and cancer pain. 3 ed. Skokie, 1993.

MARKS, R.M.; SACHAR, E.J. Undertreatment of medical inpatients with narcotic analgesics. Ann. Intern. Med., V.78, n.2, p.173-81, 1973. DOI: https://doi.org/10.7326/0003-4819-78-2-173

PIMENTA, C.A. de M.; KOIZUMI, M.S.; TEIXEIRA, M.J. Dor no doente com câncer: características e controle. Rev. Bras. Cancerol., v.43, n.1, p.21-44, 1997. DOI: https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.1997v43n1.2835

Downloads

Publicado

2023-01-16

Como Citar

1.
Santos EMM, Pimenta CA de M. Contradições entre o Relato de Dor no Pós-Operatório e a Satisfação do Doente com a Analgesia. Rev. Bras. Cancerol. [Internet]. 16º de janeiro de 2023 [citado 14º de maio de 2024];46(1):93-104. Disponível em: https://rbc.inca.gov.br/index.php/revista/article/view/3407

Edição

Seção

ARTIGO ORIGINAL