A Infodemia em Câncer no Brasil: Um Olhar Crítico sobre Alguns Impactos da Desinformação e Estratégias de Combate

Resumo

A infodemia oncológica no Brasil representa uma ameaça sistêmica ao controle do câncer, ao fragilizar políticas públicas, comprometer a adesão terapêutica e minar a confiança no cuidado. Este artigo discute como o ecossistema digital, regido pelo capitalismo de vigilância, privilegia engajamento em detrimento da veracidade, funcionando como um “carcinógeno informacional”. Ao analisar evidências nacionais e internacionais, demonstra-se que a desinformação sobre câncer circula com maior intensidade do que informações seguras, impactando diretamente a jornada do paciente. O texto destaca o letramento funcional em saúde como variável clínica crítica: baixos níveis dificultam a compreensão de instruções médicas e aumentam a vulnerabilidade a boatos. Propõe-se uma leitura sindêmica, em que desinformação, desigualdade e adoecimento se reforçam mutuamente, ampliando danos. Para enfrentar o problema, apresenta-se um framework estratégico baseado em três eixos: regulação (transparência algorítmica e responsabilização das plataformas), inteligência (infodemiologia ativa e escuta social) e educação (políticas públicas de letramento em saúde e mídia). Aplicações práticas são sugeridas para linhas de cuidado como a vacinação contra o HPV e o atendimento oncológico ambulatorial. Defende-se, por fim, que ouvir, traduzir e agir sejam verbos clínicos essenciais para restaurar a confiança entre ciência, clínica e sociedade.